sábado, 20 de abril, 2024
25.1 C
Natal
sábado, 20 de abril, 2024

Turismo de Natal aposta na copa

- Publicidade -

Andrielle Mendes e Sara Vasconcelos – Repórteres

O Rio Grande do Norte, que já foi o segundo destino turístico mais procurado em 2006 no Nordeste e caiu para a quarta posição em 2010, vê na Copa de 2014 a chance de dobrar o fluxo de turistas internacionais – em queda desde 2007. A sensação de que há menos estrangeiros no RN é amparada pelos números. Entre 2006 e 2010, o turismo internacional recuou 60,4% no Estado. Durante o mundial, o número de turistas estrangeiros subirá para 84.979, de acordo com estudo encomendado pelo Ministério do Turismo à Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O fluxo previsto é o terceiro menor entre as 12 cidades-sede do Mundial, mas representará um incremento de 82,4% no fluxo de estrangeiros na capital potiguar. Em 2006, período que antecedeu a crise econômica mundial, 117,6 mil estrangeiros entraram no Brasil através do RN. Em 2010, esse número caiu para 46,5 mil. A queda, que teve como principal razão a crise econômica, foi menor nos estados vizinhos. Em Pernambuco e Ceará, concorrentes diretos do Rio Grande do Norte, a redução não ultrapassou 16%.

Estratégia para atrair turistas vai além de cartões postais como as belezas de Pipa, no Litoral SulApesar do recuo, o Rio Grande do Norte ainda é o estado brasileiro onde o turismo tem maior participação na economia formal. De acordo com estudo realizado pelo Ipea, a participação  é de 4,4% – a maior do Brasil. O índice coloca o RN na frente de estados como São Paulo e Rio de Janeiro, maiores portas de entrada de turistas estrangeiros.

Para o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Roberto Zamboni, o índice mostra que a economia do Rio Grande do Norte não é tão diversificada quanto a dos outros estados. Em estados com uma ‘economia mais complexa’, o índice varia entre 2% e 3%. No Ceará, por exemplo, a participação é de 2,3%. “Isso porque o estado tem tradição no turismo, mas desenvolve um esforço muito grande na área industrial, diversificando a economia”, completa.

Para Zamboni, a queda do número de turistas estrangeiros não abala a economia potiguar. A explicação é simples. “O Turismo não é só o internacional”. Na avaliação do técnico, “o fato do fluxo de estrangeiros ter caído não significa que esta indústria esteja em decadência”. A liderança do RN, segundo o pesquisador, não significa que o estado é ‘refém’ do turismo nem vulnerável a suas oscilações. Mostra apenas que Indústria e Agricultura ainda têm muito para crescer no estado.

“Se o estado tomar um impulso industrial grande (como tem ocorrido com estados como Ceará e Pernambuco), pode ser que a indústria diminua a participação do turismo na geração de empregos formais. No entanto, a atividade turística continuará crescendo dentro do Rio Grande do Norte”. Ao RN, explica o diretor do Departamento de Estudos e Pesquisas do Ministério de Turismo, José Francisco Lopes, cabe aproveitar oportunidades como a Copa de 2014 e “brigar” por mais voos internacionais.

“A Copa é em 2014, mas pode gerar lucro desde agora. O estado precisa vender seu produto, investir em divulgação e realizar uma boa campanha de marketing. Também precisa brigar por voos internacionais. O Ceará fez isso, e atraiu muitos voos”, afirma. Atualmente, 68% dos estrangeiros que chegam ao Brasil entram por São Paulo. Outros 19%, pelo Rio de Janeiro. O que mostra que apenas 13% dos estrangeiros entram no Brasil pelos outros 23 estados brasileiros e pelo Distrito Federal.

Embora o estudo do Ministério do Turismo mostre que o número de estrangeiros em Natal durante a Copa será muito superior ao atual, Roberto Zamboni, do Ipea, afirma que os estados não podem viver apenas de eventos mundiais. “Ninguém vai fazer um investimento de milhões pensando em 15 dias”, justifica.

Oportunidades se concentram em comércio e serviço

Não é apenas o Turismo que vai se beneficiar com a realização do Mundial em Natal. Segundo o Sebrae Nacional, 22,7% das 356 oportunidades de negócios  geradas pela Copa em Natal,   serão abocanhadas pelo setor do comércio/serviços. O Turismo, quando associado à Produção Associada ao Turismo (cultura, artesanato, gastronomia) aparece em primeiro lugar no ranking, com pouco mais de 30% das oportunidades. Os números fazem parte do Estudo Programa Sebrae 2014: Mapa de Oportunidades para as Micro e Pequenas Empresas nas cidades-sede, encomendado pelo Sebrae Nacional à Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em Natal, as oportunidades estão distribuídas em sete segmentos, entre eles, comércio varejista/ serviços, turismo e construção civil. Os segmentos foram eleitos de acordo com a vocação de cada estado. Atualmente, há mais de 60 mil micro e pequenas empresas e mais de 19 mil empreendedores individuais no Rio Grande do Norte. A intenção é incluir o maior número possível de micro e pequenos nos negócios da Copa.

Estrangeiros continuam vindo ao RN

Segundo José Francisco Lopes, do Ministério de Turismo, estrangeiros continuam visitando o RN. No entanto, não estão desembarcando diretamente no estado. Com o cancelamento de voos internacionais (charteres) para Natal, eles desembarcam nas capitais vizinhas, como Fortaleza, Recife e Salvador e entram em Natal em voos domésticos – misturados aos brasileiros. “Quem chega nesses três estados, entra no Rio Grande do Norte. O voo é doméstico (nacional), mas traz muita gente de fora”, afirma José Francisco. Na avaliação do diretor Departamento de Estudos e Pesquisas do Ministério do Turismo, o que caiu foi o fluxo do portão de entrada e não o movimento de visitantes estrangeiros. “Natal tinha um fluxo muito grande de voos charteres e agora não tem mais. É provável até que o movimento de turistas estrangeiros no RN não tenha caído tanto, mas sim estagnado nos últimos quatro anos”, enfatiza.

Com economia dinâmica Ceará ultrapassa o RN

De acordo com dados do Ministério do Turismo, o Rio Grande do Norte recebeu  117,6 mil turistas estrangeiros em 2006. O Ceará, um dos principais concorrentes dentro do Nordeste, recebeu 108 mil – fluxo 8,1% menor que o do RN. Em 2010, a situação se inverteu. O RN recebeu 46,5 mil e o Ceará, 94,7 mil – mais que o dobro. Assim como todos os estados brasileiros, o Ceará também perdeu posições com a queda do dólar. Mas o que motivou a inversão de papéis? Por que estados como o Ceará, que também desaceleraram, recuperam o fluxo e o RN não?

“Apesar de estados como o Ceará não terem tido o pico que o RN teve, continuaram investindo na promoção internacional, inclusive na Argentina e na Europa, através de diversas parcerias com a TAP. Este mês o Ceará está fazendo promoção do estado em Moscou. Ou seja, não parou de investir em promoção”, responde George Costa, presidente do Convention Natal Bureau. O professor Carlos Porto, do Departamento de Turismo da UFRN, dá outra pista.

“O Ceará não está na frente do Rio Grande do Norte somente no Turismo. A sua economia foi a que mais cresceu no Nordeste. O porto do Pecém além de melhorar a sua estrutura para receber navios de passageiros vai também contar com a trans-nordestina que futuramente poderá ser uma opção para o turismo. O que falta para o Rio Grande do Norte é a força política para chegar a ser um estado que se equipare ao Ceará”, acrescenta Carlos Porto.

Diferentemente do que ocorre no Rio Grande do Norte, a  Secretaria de Turismo do Ceará tem autonomia orçamentária. A secretaria dispõe de R$ 1,3 bilhão para obras públicas e equipamentos turísticos – que inclui desde a duplicação de estradas, construção de aeroportos internacionais, construção de um centro de convenções e aquário estadual e reforma de patrimônio. “Todas essas intervenções terão grande impacto durante a realização da Copa do Mundo de 2014. Mas não só. Ficarão para manter o bom fluxo do turismo cearense após esse grande evento”, afirma Bismark  Maia, secretário de turismo do Ceará.

Visibilidade: os dois lados da moeda

A visibilidade que as cidades-sede terão durante a Copa de 2014 é apontada como um dos principais ganhos pelo potiguar Enrico Fermi, atual presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH Nacional). “Fala-se do Brasil desde o final da Copa da África e o país permanecerá na mídia até 2018. Jamais teríamos condições de investir recursos para nos dar esta visibilidade”, justifica. Entretanto, como uma moeda, a visibilidade tem dois lados. “Dado o volume de estrangeiros que vem, é importante que estejamos preparados, para não queimarmos o filme do Brasil”, alerta Roberto Zamboni, do Ipea. Segundo ele, as cidades-sede precisam corrigir suas deficiências de infraestrutura. Só assim passarão uma imagem positiva e garantirão o retorno dos turistas estrangeiros após a Copa. Para Fermi, “por mais atratividade que o destino possua e promova, sem aviões, boas rodovias e portos com capacidade para acolher navios de cruzeiros, os resultados não corresponderão às expectativas”.

Bate-papo
Enrico Fermi  » Presidente da ABIH Nacional

Melhoria do sistema de transportes é prioritário

O RN fechou 2010 com uma queda de 60,42% no fluxo de turistas estrangeiros em comparação com 2006 – quando o turismo potiguar viveu seu auge. O que contribui para essa queda?

Em 2006, os primeiros problemas relacionados à crise financeira começaram. Neste ano, outros fatores como a Copa do Mundo e a quebra da Varig contribuíram para o impacto negativo no destino.  Ainda assim, a política econômica do governo é o principal motivo da queda de turistas, uma vez que desvaloriza as moedas internacionais, o que encarece o nosso destino.

Por que o Estado que já foi o segundo principal destino do Nordeste, em 2006, ficou para trás?

Num mercado marcado por um cenário cambial favorável, vários foram os investimentos justificáveis na promoção do destino no cenário turístico internacional. Ou seja: fatores macroeconômicos são fundamentais para orientar as atividades de promoção. Com o real supervalorizado, o mercado doméstico torna-se o alvo natural dos investimentos promocionais – o que, na prática, faz com que não apenas RN mas outros destinos brasileiros sofram a retração de demanda turística internacional.

Essa perda de turistas estrangeiros é irreversível no RN?

Quando se perde mercado, a reconquista é sempre mais difícil. O ideal seria manter constantes ações promocionais, independente do cenário macroeconômico. Entretanto, a administração dos recursos investidos na divulgação dos atrativos turísticos  de um destino impõe a desaceleração frente ao cenário de crise internacional. Considerando que a referida crise não tem perspectiva de terminar tão cedo, a tendência é criar um grande hiato até a retomada do fluxo turístico nos mesmos patamares vivenciados nos tempos áureos. Contudo, nada é irreversível.

O que precisa ser feito para que o RN volte aos bons resultados de atração de turistas?

Além da aposta no mercado doméstico, devemos priorizar ações promocionais direcionadas a pólos emissivos que apresentam melhores chances de proporcionarem aumento na atração de turistas estrangeiros para o RN. Na Europa, por exemplo, países como Alemanha, Inglaterra e França merecem destaque na estratégia de marketing promocional, assim como os países da América do Sul que registram um bom momento econômico e estão localizados com maior proximidade. Contudo, as iniciativas empreendidas devem levar em consideração a malha aérea disponível, avaliando o volume de passageiros potencialmente transportados para o RN de acordo com a oferta atual e futura. Costumo dizer que o fator de maior estímulo para ampliação do fluxo turístico é, em essência, determinado em razão das facilidades de acesso, independente do modal. Ou seja: sem aviões, boas rodovias e portos com capacidade para acolher navios de cruzeiros, por mais atratividade que o destino possua e promova, os resultados não corresponderão às expectativas. Portanto, estimular a ampliação dos meios de transporte é prioritário.

Quais setores devem ser melhor explorados?

O turismo interno é a bola da vez, juntamente com o turismo de eventos. Devemos investir em publicidade nos principais pólos emissores nacionais e realizar eventos, empregando esforços junto ao Natal Convention & Visitors Bureau para auxiliar na captação desses, além de priorizar espaço maior para eventos do que o já existente ou verificar a possibilidade de ampliar o centro de convenções.

Estimativas do MinTur apontam que cerca de 600 mil turistas virão ao Brasil no mês da Copa do Mundo. Eles realizarão cerca de 2 milhões de viagens na cidades sedes. No RN, esse segmento deverá ter 84.979 visitas – um dos menores segundo o estudo. O que é necessário fazer para que ‘boom’ seja mantido após a Copa?

Atender bem quando os turistas chegarem ao nosso estado para que possam retornar aos seus locais de origem e repercutirem de maneira positiva nossas potencialidades, divulgando o destino nos pólos emissores.

Esse número de turistas compensa os investimentos que serão feitos na cidade?

Teremos grandes ganhos que não só com o número de turistas esperados no período da Copa. Serão 600 mil visitantes no país durante o evento. A copa deixará três grandes legados para as cidades sedes: 1) Visibilidade mundial. Fala-se do Brasil desde o final da Copa da África e o país permanecerá na mídia até 2018. Jamais teríamos condições de investir recursos para nos dar esta visibilidade; 2) Obras de mobilidade urbana e infraestrutura que serão realizadas nas 12 cidades sedes; 3) Deixaremos um legado da qualificação e capacitação de nossa mão-de-obra, já que temos o Ministério do Turismo trabalhando fortemente nesta área.

Como o senhor avalia a geração de emprego e renda no turismo potiguar? Também sofre decréscimo? Por quê?

O turismo é a maior e mais eficiente fonte geradora de emprego e renda. Continua tendo grande importância no estado e merece maior volume de investimentos por parte dos poderes públicos. O principal motivo pela falta de retorno no turismo é a falta de um plano estratégico de comunicação e marketing capaz de orientar e monitorar ações de divulgação do destino eficazes.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas