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TV e cinema deram fama a Chicó e João Grilo

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Luiz Carlos Merten e André Dusek
Agência Estado

São Paulo (AE) – Ele foi o idealizador do Movimento Armorial, criado com o objetivo de desenvolver uma arte erudita com elementos da cultura popular do Nordeste brasileiro. Para isso, os armorialistas valeram-se de todas as formas de expressões artísticas – teatro, cinema, arquitetura, música, dança, literatura, artes plásticas. Em 1955, Auto da Compadecida projetou nacionalmente o nome de Ariano Suassuna. Anos depois, no começo da década de 1960, o crítico Sábato Magaldi não deixou por menos e disse que era o texto “mais popular do moderno teatro brasileiro”.
O Auto da Compadecida, com Selton Mello e Matheus Nachtergaele, fez sucesso na Globo em 1999
As montagens sucederam-se por todo o País. E Auto ganhou versões para cinema e televisão. Chicó e João Grilo, os personagens centrais, viraram emblemas de brasilidade. O primeiro Auto irrompeu no cinema em 1969, com direção de George Jonas. Premiado no 2º FIF, Festival Internacional do Filme, do Rio, não chegou a fazer muito sucesso de público nem de crítica, com seu elenco jovem que depois ia estourar – Antônio Fagundes e Regina Duarte. O que o filme tinha de mais vistoso era a pesquisa visual.

#SAIBAMAIS#Se era um elemento forte, o visual impunha também um limite. De olho na forma, o diretor e o próprio espectador descuidavam do texto. Passou-se mais de uma década e o Auto ressurgiu na tela com direção de Roberto Farias, modelado para o trapalhão Renato Aragão, que fazia João Grilo. A terceira e melhor adaptação surgiu na passagem do milênio. Fez sucesso de público e crítica, mas despertou polêmica – era TV ou cinema? O pernambucano Guel Arraes adaptou O Auto, com o acréscimo do O ao título, em 1999, na Globo. Concebido no formato de microssérie, o roteiro foi escrito por Guel em parceria com o casal João Falcão/Adriana Falcão. As imagens foram captadas em película, já visando a uma futura apresentação nos cinemas – o que ocorreu em 2000.

O Auto da Compadecida fez história não apenas por trafegar entre a TV e o cinema – e, depois, na versão compacta, voltou à televisão -, mas também porque na fase chamada de Retomada foi dos primeiros filmes a ultrapassar a barreira do milhão de espectadores. Outra retumbante adaptação permaneceu na TV – A Pedra do Reino, por Luiz Fernando Carvalho (e ele também adaptou Uma Mulher Vestida de Sol, que o próprio Suassuna considerava a melhor versão audiovisual de sua obra inteira).

Auto, a mais popular, é uma comédia que mistura barroco, literatura de cordel e tradição religiosa. João Grilo representa o homem pobre e aproveitador, que vive arranjando confusões para si mesmo e os outros. Seu melhor amigo, Chicó, é o homem covarde que conta lorotas para se engrandecer.

Na trama, e talvez se possa ver na obra uma aproximação com Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, de 1964, Chicó e João Grilo se envolvem com o bispo e o cangaceiro. A ação converge para o julgamento no céu, com a intervenção de Nossa Senhora em favor dos heróis. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, na época da estreia do filme, Guel Arraes disse que não demorou mais do que cinco horas para reeditar O Auto da televisão, o que prova que ele, realmente, já tinha o filme pronto na cabeça. Cortou as cenas do começo da microssérie. E chegou a dizer que o filme ficaria incompreensível se cortasse o julgamento, no desfecho.

É curioso como Guel, querendo ter um romance na microssérie (e no filme), buscou-o em outro original de Suassuna – A Tortura de Um Coração. E não dispensou a influência do italiano Boccaccio, cujo Decameron inspira a história do morto que ressuscita. Mas, se a microssérie e o filme criam empatia com o público é graças à prodigiosa alquimia dos atores que fazem João Grilo e Chicó. Matheus Nachtergaele e Selton Mello nasceram para dar colorido aos papéis. E Guel ainda criou sua Nossa Senhora madura – a grande Fernanda Montenegro. O que Suassuna nunca aceitou foi a comparação, feita por muitos críticos, entre a esperteza de João Grilo e a falta de caráter do Macunaíma de Mário de Andrade. Suassuna sempre achou que João Grilo tem todo o caráter do mundo e é o que o leva a lutar contra todos, do patriarca ao demo. O Auto de Guel lhe faz justiça. Era, e continua sendo, maravilhoso

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