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Um anjo no caminho

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ESCUTURA - Anjo de oito metros é o cartão de visitas da nova galeria de arte

Há quem jure de pé junto que não existe verdade absoluta. Mas é impossível que alguém tenha passado pela avenida Hermes da Fonseca, nas últimas semanas, sem ter dado pelo menos uma olhadela no Anjo Azul – escultura em gesso de oito metros de altura, símbolo da mais nova galeria de arte da cidade que, não por coincidência, leva o mesmo nome. O proprietário da casa e idealizador da pomposa  obra assinada pelo artista plástico potiguar Jordão é o comerciante Anchieta Miranda, 61 anos, natural de João Câmara. E entenda por comerciante aquele vendedor de tudo quanto é coisa nessa vida. Para quem já vendeu sanduíche, louça, alumínio, cerâmica, fruta e moto, o ramo da arte tem sido um misto de novidade e desafio. “O mercado de arte é muito interessante. Tenho um acervo guardado de mais de 30 anos e acredito que pode dar certo. Peço desculpas ao público pelas falhas que poderão ocorrer no início, mas vamos nos aperfeiçoando com o tempo”, disse.

Miranda não sabe ao certo quantas peças compõe a galeria hoje. Mas adianta que nem todas as obras estão à venda. “Tem peça aqui que a saudade não tem preço. Mas fiz questão de expor para compor o cenário tranqüilo que montamos. É tudo muito simples, do jeito que a gente imaginou. Não tem nada de luxo na galeria”, explica.

De fato, o clima da loja lembra a calmaria bucólica dos sítios. Um paradoxo para quem está instalado à beira de uma das avenidas mais movimentadas da capital. As peças, que variam entre pinturas, esculturas, porcelanas e entalhes estão espalhadas por todo o terreno, embora a maioria concentrada na parte interna da casa que pertenceu à família Monte. A idéia, segundo o comerciante, é reunir o público consumidor de arte da cidade e grupos de arquitetos em encontros na varanda da casa para trocar experiências e conhecer as opções da galeria.

Avesso a badalações em torno de si e da galeria – prova disso é que ele não quis posar para fotografia durante a entrevista nem celebrou a inauguração da casa, há duas semanas – Anchieta Miranda também dispensa o rótulo de marchand. Embora esteja à frente da compra e venda de obras de arte de sua galeria, se diz apenas comerciante. E isso, para ele, não diminui em nada seu trabalho. “Meu amigo Roberto Browner diz que a arte, como o amor, não se explica. E penso da seguinte forma: se o próprio artista, na maioria das vezes, não tem idéia do valor de sua obra, não sou eu que vou fazer isso. Então eu me considero um comerciante de arte, na verdade, sou um camelô da arte (risos)”, brinca.

Anjo azul da cor do céu

Definitivamente não é qualquer escultura de oito metros de altura que consegue passar despercebida numa via movimentada como a avenida Hermes da Fonseca. Ainda mais se a obra for pintada com um azul do tipo “azul-do-céu-e-mar-da-cidade-sol”.

Jordão: ‘foi como esperar um filho’

O artista plástico potiguar Jordão, 58 anos, acaba de voltar de Brasília, onde participou de uma exposição no Salão Negro do Senado Federal com artistas de várias regiões do Brasil. A oportunidade, disse, surgiu a partir do Anjo Azul, concebido em homenagem ao herdeiro (ou herdeira) que vai chegar em seis meses. O tempo em que Jordão levou para conceber a obra, por sinal, foi maior do que a espera pelo filho: 10 meses e alguns dias. Se ele gostou? “Amei demais. Foi por intermédio do Anjo Azul que fui a Brasília e com certeza vão aparecer outras oportunidades agora”, acredita.

A produção da obra também foi curiosa. O projeto, inicialmente com dois metros e meio de altura, ganhou tamanho de uma hora para outra. “Eu já tinha vendido umas peças para o Anchieta quando ele me pediu para fazer um anjo grande. Ele chegou na minha casa perguntando se eu já havia começado e mostrei o que já tinha feito. Então perguntou se a gente podia mudar o projeto, me levou na casa que tinha acabado de comprar e perguntou se dava para fazer uma escultura no terraço. Falei: dá. Qual o tamanho? E ele: o tamanho que você quiser. Eu de novo: pode ser maior que um poste? Ele disse que sim, e no dia seguinte já tinha um poste instalado no local”, conta rindo da situação.   

O artista comentou também a reação contrária das pessoas mais próximas do comerciante quando descobriam que a obra estaria nas mãos dele. “Eu já fui muito irresponsável. Isso na época da bebida e quando eu não tinha uma mulher que olhasse para mim. Mas agora é diferente. O Anchieta confiou em mim, correspondi. O engraçado é que quando perguntavam para ele o que ia ser, ele dizia que nem eu nem ele sabíamos o que seria”, conta.  

Amizade com o artista

Brincadeiras à parte, Miranda não poupa elogios ao trabalhado do artista plástico Jordão, que concebeu a escultura, e com quem tem uma amizade de mais de 40 anos. Segundo ele, a obra foi criada de acordo com o combinado no início. “Jordão é o melhor artista em grandes esculturas de Natal. O Anjo saiu como combinamos. Claro que ele cria de acordo com a arte dele,  mas saiu como imaginávamos”, disse.

Indagado sobre o porquê do anjo azul como símbolo da galeria, ele conta que a figura é uma mistura de marketing com ideologia. “Queria uma figura que transmitisse paz. E acho que o anjo é um pouco disso. Se você prestar atenção vai ver que o azul é uma cor próxima do céu, confunde um pouco. Nesses tempos de violência, de trânsito desgastante, a paz do anjo azul é necessária. E também porque queríamos uma figura que chamasse a atenção do público, que fosse uma marca”, revela.  O curioso é que a peça de marketing funcionou tão bem que o Anjo Azul virou um ponto turístico da cidade. “É engraçado porque tem gente que pára aqui, nem conhece a loja e desce só para bater fotografia.  O Anjo foi criado como uma peça de marketing também, é uma obra fora das proporções justamente para ser referência”, admite.

O folclore da obra

O comerciante Anchieta Miranda lembra que quando o Anjo Azul começou a chamar a atenção do público natalense, um amigo lhe deu um conselho que, na época,  deixou-o apreensivo. Mas hoje serve mais como uma história para alimentar o folclore da obra. “O anjo não tinha nem cara de anjo ainda quando um amigo me ligou e disse que eu devia tomar cuidado porque se ficasse bonito tudo bem, mas oito metros de uma coisa feia era para matar (risos). Aí eu disse que se ficasse feio eu mandava derrubar”, conta se divertindo da situação. 

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