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Um ano de pandemia e 250 mil mortes por conta da covid-19

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Doze meses depois do registro do primeiro caso da covid-19, o Brasil superou ontem a marca de 250 mil mortos e vive a pior fase da doença, com pico de internações e com ritmo lento de vacinação. Para tentar frear o vírus, prefeitos e governadores voltaram a adotar restrições rígidas. Especialistas afirmam que ainda não há controle sobre a pandemia.
Ritmo lento da vacinação está entra preocupações dos especialistas com o atual momento da pandemia
Até as 18h de ontem, foram registradas 250.036 mortes, conforme levantamento feito pelo consórcio de imprensa junto às secretarias estaduais de saúde. Só nas últimas 24 horas foram 1.390 mortos. E o total de vítimas da pandemia no Brasil pode ser ainda maior, considerando a subnotificação e outros óbitos que ainda aguardam confirmação dos testes para a covid-19. Desde que ocorreu a primeira morte pela doença, o País perdeu o equivalente às populações da cidade de Marília (SP) ou de Novo Hamburgo (RS).
O Brasil vive o pior momento da pandemia, apontam os números e os especialistas. Desde o dia 21 de janeiro, o País apresenta média de mais de mil mortes provocadas pela covid-19. Isso significa 34 dias consecutivos. Este é o período mais longo no qual o país registra média diária acima de mil mortes pela doença causada pelo novo coronavírus. Até então, a marca anterior era de 31 dias, entre 3 de julho e 2 de agosto de 2020.
“Além de os dados já apontarem para uma piora com relação ao momento mais crítico de 2020, a tendência é de aumento dos índices epidemiológicos. Existe o temor da circulação de novas cepas, mais agressivas e que com maior capacidade de disseminação”, avalia Wallace Casaca, matemático da Unesp e um dos responsáveis pela plataforma SP Covid-19 Info Tracker, que projeta infecções, óbitos e recuperados em São Paulo.
As primeiras 50 mil mortes demoraram 95 dias. Entre a marca de 200 mil, em 7 de janeiro deste ano, e a de 250 mil, foram 48 dias. “Os dados disponíveis apontam, tanto em termos de casos como de óbitos, que estamos na pior fase da pandemia. Muitos estados estão com os serviços de saúde em seu limite, ou mesmo em colapso. A pandemia atinge simultaneamente cidades grandes, médias e pequenas”, analisa Eliseu Alves Waldman, epidemiologista e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP.
As variantes representam um novo desafio. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil já identificou novas cepas em exames de 204 pacientes. São 20 casos da variante do Reino Unido e 184 da brasileira, originada no Amazonas. Não há casos confirmados de infectados com a variante da África do Sul. O levantamento foi feito pela Secretaria de Vigilância em Saúde a partir das notificações recebidas pelas secretarias estaduais da saúde. Os dados foram contabilizados até 20 de fevereiro.
Quando o País atingiu 100 mil mortos, no dia 8 de agosto do ano passado, a média móvel de vítimas indicava um início de queda. Parecia que a situação começaria a melhorar. Cidades e Estados flexibilizaram restrições à circulação, e muitos hospitais de campanha foram desmontados. No mês de outubro, na marca dos 150 mil, o cenário era semelhante. O Brasil ultrapassou a marca num momento em que o pico da doença estava em queda havia um mês e meio.
O ritmo de redução, porém, era lento. Ao contrário da Europa, que teve claramente uma primeira e uma segunda ondas, o número de novas infecções e óbitos nunca arrefeceu no Brasil. Hoje, a curva de casos e mortes continua ascendente.
A gravidade espelhada pelos dados estatísticos ganha contornos reais nos quatro cantos do País. Nos primeiros 54 dias do ano no Amazonas, o número de mortes por covid-19 já ultrapassou o total do ano passado. A marca foi alcançada na última terça-feira, 23, com 5.288 mortes só neste ano (parte delas ocorreu no ano passado e foi diagnosticada após investigação). De março a dezembro de 2020, foram registrados 5.285 óbitos.
Pazuello afirma que precisa de autorização
Em visita para entrega de vacinas ao Estado do Acre, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que os imunizantes produzidos pelos laboratórios Pfizer e Janssen serão adquiridos caso haja uma “autorização clara” que flexibilize a legislação atual. Ele reforçou que o assunto está sendo discutido pelo governo e pelo Congresso Nacional.
“Temos sido muito duros e eles (laboratórios) mais duros do que a gente, ou seja, eles não afrouxam uma vírgula (dos contratos). Nós levamos o problema ao governo, que está tratando isso junto ao Congresso e está se discutindo a possibilidade de termos flexibilização de lei para isso”, declarou em coletiva de imprensa realizada em Rio Branco (AC) sobre as entregas do governo ao Acre.
No último domingo, 21, o Ministério da Saúde recorreu ao Planalto para viabilizar as negociações com os laboratórios. O projeto de lei foi aprovado ontem no Senado e vai para apreciação da Câmara dos Deputados. “É um alto nível de discussão, é um nível de governo e Congresso Nacional. Então, cabendo a mim cumprir o que vier. Se vier uma autorização clara flexibilizando todas atividades, sim, nós vamos comprar da Pfizer e Jassen”, acrescentou Pazuello.
 
Na coletiva, o presidente Jair Bolsonaro citou que os contratos com os laboratórios incluem cláusulas de não-responsabilização dos fabricantes do imunizantes por eventuais efeitos colaterais. Por conta disso, ele ressaltou que quem der a última palavra sobre a autorização de compra dos imunizantes terá nas mãos uma questão de “extrema responsabilidade”. 
“É uma coisa de extrema responsabilidade quem porventura no Brasil tiver que dar a palavra final, se sou eu como presidente, se é o parlamento derrubando um possível veto (presidencial) ou se é o Supremo Tribunal Federal”, disse. “Agora, todas as cláusulas serão mostradas à população para que na ponta da linha cada um saiba o que está sendo aplicado”, observou.
Ontem, o chefe do Executivo fez um sobrevoo por regiões inundadas no Estado do Acre, que vivencia enchentes por conta das chuvas intensas. O governo federal também anunciou a entrega de 21,9 mil doses de vacinas contra a covid-19 ao Estado do Acre, sendo 8,4 mil do Instituto Butantan/Sinovac e 13,5 mil da AstraZeneca/Oxford.
No Acre, dez municípios tiveram o estado de calamidade pública reconhecido por conta das enchentes. O Estado também enfrenta aumentos nos casos de dengue, da covid-19 e uma crise migratória na fronteira. 
O governo estadual colocou na segunda-feira, 22, todos os 22 municípios na bandeira vermelha de classificação da pandemia, em que só serviços essenciais podem abrir.
Por conta das chuvas, nesta semana o governo editou medida provisória de crédito extraordinário de R$ 450 milhões para o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).
Doria anuncia restrição de circulação em SP
O governo de São Paulo anunciou medidas mais restritivas para conter o avanço da covid-19 no Estado, que registra recorde de internações em UTI nesta semana. A principal determinação é o que a gestão João Doria (PSDB) chama de “toque de restrição”, que prevê a limitação da circulação de pessoas entre as 23 e as 5 horas em todos os municípios paulistas a partir desta sexta-feira, 26, até o dia 14 de março.
Segundo o governo estadual, a medida terá como foco a autuação de pessoas que promovam aglomerações, especialmente as de maior porte, com mais de 100 pessoas. Não há previsão de multa para cidadãos que circularem em via pública individualmente, como no trajeto entre a residência e o trabalho, por exemplo. 
A determinação não abrange o funcionamento de estabelecimentos considerados essenciais, que continuarão submetido às regras do Plano São Paulo.
 “Fundamentalmente, é para evitar eventos, aglomerações. Quando as pessoas bebem e perdem o controle, perdem a capacidade de usar suas máscaras, expelem o vírus, multiplicam a contaminação e ampliam a possibilidade de óbitos”, destacou Doria. “Não se trata de fiscalizar pequenos grupos.”
O governador salientou que a medida não é um “lockdown” ou um “toque de recolher”. Segundo ele, as aglomerações de “menor porte”, com mais de 20 pessoas, também estão vetadas, embora o foco esteja mais forte nas de médio e, principalmente, grande porte, com centenas de participantes.
Pernambuco e Piauí anunciam toque de recolher
Os estados de Pernambuco e de Piauí estabeleceram toque de recolher e a capital da Bahia, Salvador, determinou o fechamento de praias na tentativa de conter o avanço do novo coronavírus. 
Em Pernambuco, o governo do estado decretou toque de recolher em 63 municípios das gerências regionais de Saúde de Limoeiro, de Caruaru e de Ouricuri, localizadas no agreste e sertão pernambucano. de sexta-feira (26) até o dia 10 de março. Todas as atividades econômicas e sociais estão proibidas das 20h até as 5h durante a semana, e das 17h às 5h nos finais de semana. 
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, justificou a medida pela aceleração de casos de covid-19 nessas cidades e pela superlotação dos hospitais. No Piauí, um novo decreto instituiu toque de recolher a partir desta quarta-feira (24) em todo o estado das 23 h às 5 h até o dia 4 de março, ficando proibida a circulação de pessoas em espaços e vias públicas. Nos finais de semana devem funcionar somente atividades essenciais. O governador Wellington Dias afirmou que, se for preciso, vai endurecer as restrições nos próximos dias.
Em Salvador, o prefeito Bruno Reis, determinou o fechamento das praias e dos clubes da capital baiana a partir desta quarta-feira. A proibição vai até o dia 2 de março e tapumes devem impedir a circulação de pessoas nas praias do Rio Vermelho, Amaralina e também na Barra. Agentes e viaturas vão patrulhar quase 60 quilômetros de litoral. O prefeito disse que o sistema de saúde está à beira do colapso.
Governos estão em busca da vacinação
A urgente vacinação da população é vista como a única estratégia para começar a mudar esse cenário. É o que indicam as experiências de outros países. Estudos de instituições científicas de Israel revelam que os casos e hospitalizações por conta da doença caíram drasticamente em apenas algumas semanas entre os vacinados com a primeira dose.
Em um deles, do Instituto de Ciência Weizmann, os pesquisadores descobriram que o número de novos casos caiu 41% em comparação com três semanas antes. A pesquisa partiu das estatísticas nacionais de saúde para pessoas com 60 anos ou mais que receberam a vacina da Pfizer/BioNTech. Israel se tornou uma espécie de laboratório mundial para o combate à covid-19 devido à velocidade de sua campanha de vacinação. O tamanho desse impacto, no entanto, ainda precisa ser determinado.
Nos Estados Unidos, mais de 61 milhões de pessoas foram vacinadas, cerca de 13% da população elegível. Com isso, o país registrou queda de 44% na média móvel de novos casos e de 35% na média de mortes. Os dados são do monitoramento do jornal The New York Times.
No Brasil, o atraso nas compras de vacina, insumos e no registro dos produtos, além da falta de uma coordenação nacional da logística, preocupam os especialistas. Enquanto outros países têm uma ação efetiva para controlar a pandemia com as campanhas de vacinação, o Brasil vive a angústia da falta de imunizantes.
O Município do Rio de Janeiro, por exemplo, retoma a vacinação para idosos em geral. Por falta de doses, a campanha estava suspensa desde a quarta-feira passada, 17. O Rio é a cidade brasileira com mais mortes pelo vírus. É como se o país, mesmo sendo um grande produtor agrícola, estivesse passando fome, compara Rodrigo Stabeli, pesquisador da Fiocruz e professor de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), referindo-se à grande capacidade de vacinação do País.
Comparando a velocidade da vacinação no Brasil com a de outros países, Casaca avalia que o País fica para trás na comparação do porcentual da população vacinada. “Em termos de imunização absoluta, o Brasil está abaixo de países como EUA, Reino Unido e Índia, mas acima de referências como Israel”, analisa. Por outro lado, quando analisamos os dados relativos ao percentual da população imunizada em cada país, os números do Brasil são ainda bastante tímidos e preocupantes. No cenário de cobertura vacinal da população, o Brasil é um dos últimos nessa corrida”, avalia.
Para recuperar esse terreno, Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, avalia que as próximas semanas devem ser focadas em estabelecer acordos relevantes para aquisição de vacinas. “A gente precisa conseguir maior número de doses. 
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