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Um articulador invulgar

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Tomislav R. Femenick  – (www.tomislav.com.br)

Em todos os agrupamentos sociais há indivíduos e grupos com interesses divergentes, situação que termina por provocar a luta entre esses indivíduos e grupos, cada um deles buscando fazer com que seus interesses sejam entendidos como os interesses homogêneos da sociedade como um todo. É essa luta em busca da predominância que ínsita a política e faz com que os homens procurem atingir o poder, pois somente através dele o grupo predominante poder se impor aos demais. Se um dos conceitos sobre política diz que ela é a arte de governar uma instituição, uma cidade, um estado ou um país, uma acepção ampla, a define como o estudo do fenômeno do poder, este entendido como a capacidade que as pessoas ou conjuntos associativos organizados têm de exercer controle sobre as outras pessoas ou outros conjuntos de indivíduos.

O estudo da política como ciência levou alguns pesquisadores a vinculá-la a três situações, todas ligadas ao poder: a luta pelo poder, o conjunto de instituições por meio das quais esse poder é exercido e, por último, a interpretação teórica da origem, estrutura e razão de ser do poder.

Visto por esses ângulos, Vicente da Mota Neto foi um ser eminentemente político e partidário. Dizia que na política não tinha nenhum inimigo; só tinha opositores. Porém o seu caráter de amigo fiel aos correligionários e adversário ferrenho dos opositores fazia com que, às vezes, ele abrisse luta interna em seu próprio partido, o PSD. Foi o que aconteceu em 1960. Quando o PSD lançou Aluízio Alves como candidato a governador, Mota Neto discordou e liderou a dissidência pessedista que passou a apoiar as candidaturas de Djalma Marinho para governador e Vingt-un Rosado para vice. Nessa campanha, como nas outras, foram exploradas ao máximo as suas qualidades de orador de massa. Era anunciado nos comício como o “embaixador da dissidência”.

A atuação política foi a credencial que justificou a sua nomeação, pelo Governador Dinarte de Medeiros Mariz, para Ministro (hoje Conselheiro) do Tribunal de Contas do Estado, em novembro de 1957. Meses depois, o TCE teve suas atividades interrompidas em decorrência das circunstâncias políticas vividas naquela época. Ao lado dos outros ministros, Mota Neto foi incansável na luta para fazer funcionar a Corte de Costas do Estado. Homem íntegro e sem vaidade, percebeu que o mais importante era a união de todos em prol de uma grande causa, que terminou por ser vitoriosa, com a sua instalação em 12 de janeiro de 1961, já na gestão do governador Aluízio Alves.

Aqui se destacou uma característica pouco divulgada do político Mota Neto: a sua invulgar capacidade de articulador, o seu poder de contornar dificuldades e encontrar soluções. Quando exercia as funções de secretário da Prefeitura de Mossoró, o Padre Mota – seu tio e prefeito na ocasião – sempre se socorria dessa qualidade do seu auxiliar. No Congresso Nacional foi a Mota Neto que, por duas vezes (uma em 1949 e outra em 1952), os dirigentes a OAB-Ordem dos Advogados do Brasil recorreram, na tentativa de alterar os artigos 10, 11 e 14 do regulamento então vigente da instituição. Antes, na Constituinte de 1946, foi o grande articulador em defesa dos interesses dos pequenos e médios produtores de sal, contra a tentativa de domínio das grandes corporações salineiras, bem como na luta pela manutenção do Instituto Nacional (depois Brasileiro) do Sal, embora fizesse criticas ao comportamento elitista de sua direção.

Outro aspecto que caracterizava Mota Neto era a sua atuação junta a atividades esportivas. Torcedor “fanático” do time carioca Flamengo, tinha cadeira cativa no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro “só para vez o Mengo jogar”. O mossoroense Dequinha (José Mendonça dos Santos) era então um famoso jogador do Flamengo. Já tinha sido campeão potiguar pelo ABC, em 1949, tricampeão carioca em 1953/54/55 e integrava a seleção brasileira de futebol (disputou a Copa de 1954 e participou dos preparativos para o mundial de 1958, na Suécia). Não poderia ser diferente; o Mota, orgulhoso do ilustre conterrâneo, apresentava-o aos seus amigos no Congresso e nas altas rodas sociais cariocas, onde tinha trânsito fácil. Sempre que Dequinha ia a Mossoró, era Mota Neto quem organizava os festejos de recepção, em sua própria casa. Quando da inauguração Estádio de Futebol de Mossoró, o Leonardo Nogueira, Mota Neto bancou, às suas custas, o gramado de “grama inglesa”, que mandou vir do Rio de Janeiro para a sua cidade.

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