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Um Brasil doente

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João Medeiros Filho
Padre 
A sociedade brasileira está enferma. Seria utopia pensar que em algum momento ela tenha sido plenamente saudável. Desde os seus primórdios, foi construída sobre a morbidez do espírito colonialista reinante. É grave o que acontece atualmente. Preconceitos arraigados na mente de várias pessoas têm sido considerados virtudes e heroísmo. Uma parcela dos habitantes luta pela superação desse mal que atinge o país. Entretanto, outra parte ensina a destilar ódio, mentira, desrespeito, desonestidade, arrogância e falta de ética, através das redes sociais. Ninguém quer reconhecer seus erros. Não há quem queira ceder e dar o primeiro passo em prol da paz e justiça. O radicalismo está cegando, criando vítimas e destruindo o tecido social. Deparamo-nos com uma virose mais deletéria que o Covid-19, o qual está sendo usado como trampolim para a promoção de oportunistas.  Importam a tantos a demagogia e os interesses partidários. O bem-estar coletivo é relegado a segundo plano. Confunde-se o bem comum com o conforto de uma minoria privilegiada. Surgem grupos e movimentos prestes a explodir. Antes, era possível esconder ou despistar ódios, intransigências, indiferenças e desapreços. Agora, já não há qualquer filtro, nem recalque (segundo os psicanalistas). Impera a estupidez, acompanhada pela vaidade de ser estulto, radical, egoísta e intransigente. Isso permeia vários segmentos. Vige a lei do “ego” singular ou partidário.
Insiste-se em proclamar que o Brasil é cristão. Que cristianismo é esse que, em lugar do amor incita o ódio; em vez de paz proclama a agressividade ou violência? Parece que nós, pastores, falhamos. Deve-se realizar o “mea culpa”. Se faltam valores éticos e evangélicos, a ilação é imediata: a culpa é daqueles que deveriam anunciar a paz e construir a fraternidade. Cristo afirmou: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz” (Jo 14, 27). Eis a mensagem do Mestre. Muitos ainda não a entenderam.
A história do cristianismo – enquanto instituição terrena – sempre foi controversa. Mas, isso não impede a coerência com o Evangelho. Antes de ganhar contornos estruturais, o cristianismo é uma opção de vida. “É preciso ter em nós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (Fl 2, 5). A confessionalidade de muitos brasileiros consiste apenas nos dados do censo populacional e numa prática religiosa, desvinculada da Ética e do Evangelho. As igrejas devem lutar contra a mentira reinante, os desvios comportamentais, os interesses escusos e o egoísmo individual ou grupal. Não podem temer a sanha dos partidos e políticos, nem se juntar a eles. É preciso lembrar o ensinamento do apóstolo Paulo: “Ai de mim, se não pregar o Evangelho” (1Cor 9, 16). 
Nossa pátria está mazelada. Não se pode cruzar os braços e viver a narrativa mitológica do Gênesis, em que ninguém assume a sua culpa (cf. Gn 3, 1ss). O Cardeal Cardijn, fundador da Juventude Operária Católica – JOC, afirmava que “é impossível mudar a nação, se as pessoas não mudam”. Qual autoridade (de esquerda, direita, centro ou neutra), no Brasil de hoje, foi à televisão ou às redes sociais se confessar culpada ou errada? O pior, há uma cultura tecida para tentar ocultar os erros, acusando outrem. Não é isso o que se vê?  Em geral, condena-se no outro o que está dentro de si. 
A sociedade brasileira padece. Os responsáveis pela concórdia e pelo diálogo cruzam os braços. A procura pela fidelidade ao Evangelho torna possível uma fé devidamente testemunhada. Quando a boca se enche para dizer “Senhor, Senhor!”, mas as mãos não agem em favor do Bem e da concórdia, não seremos reconhecidos como seguidores de Jesus. “Nisto conhecereis que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 35). Contra a hipocrisia dos que se intitulam seus discípulos, Jesus é enfático: “Seria melhor para ele ser atirado ao mar com uma pedra no pescoço!” (Lc 17, 2) Amor, perdão, compaixão, solidariedade, honestidade, verdade, dentre outros, são valores fundamentais que devem alicerçar as virtudes e a identidade cristã. A paz e o diálogo são marcos da presença do cristianismo no mundo. Tem razão Cristo: “Esse povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mt 15, 8).
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