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Um brinde à amizade e à vida

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Ivan Maciel de Andrade                                                                                                           
Procurador de Justiça e professor da UFRN (inativo)                   

Ney Dias era uma pessoa de bem com a vida. Nos mais variados sentidos dessa expressão. Tinha um relacionamento familiar de rara compreensão e harmonia. E poucos conheci com tantos e tão dedicados amigos. Sabia beber e se divertia bebendo. No entanto, nunca o vi bêbado. Nem de mau humor. Cultivava os bons papos. Principalmente sobre política e futebol. Mas não era de discutir.

Tinha suas opiniões e preferências. Sem brigar com quem pensava diferente. Porque a tolerância e o respeito ao próximo faziam parte de seu modo de ser. Gostava de música e quando bebia encontrava sempre uma forma de relembrar velhas composições com letras românticas e poéticas. Sambas, boleros, tangos. Que ele ouvia de copo na mão e com um vasto sorriso no rosto.

Era quando conversava de forma mais animada e também mais se acentuava a sua empatia contagiante. Tinha a habilidade de tornar o ambiente mais alegre e descontraído. E com esse objetivo é que tentava impedir obstinadamente que os problemas tivessem espaço na pauta dessas reuniões.

Quando participava de um grupo formado num restaurante ou num barzinho, eram frequentes as interrupções de amigos que vinham falar com ele. Pessoas das mais diferentes idades, torcidas de clubes de futebol e facções políticas. Pois nem o futebol nem a política o distanciavam dos amigos.

Manteve-se assim mesmo numa fase em que a política no Estado criava divisões familiares e transformava adversários em inimigos. Ele conseguia sempre colocar a amizade acima de fatores circunstanciais. Amigo, amigo, o resto não importava. E assim agia sem pedir nem fazer concessões. 

Trabalhamos durante bastante tempo no mesmo escritório de advocacia. Com Miguel Josino, Walter Nunes, Nathanias von Sohsten, Edson Lucena. E com estagiários que hoje brilham em nosso meio jurídico. Dedicava-se exclusivamente à advocacia trabalhista. E era muito bom em sua especialidade. Afinal, Ney tinha longa experiência nessa área pois integrara a Justiça do Trabalho.

Às vezes, ele e Nélio, seu irmão, me convidavam para um jantar (em algum restaurante da cidade) que se prolongava pelos bares da noite. Outras vezes nos reuníamos na casa de Nélio, na dele ou na minha. Mais frequentemente na de Nélio. E não havia naturalmente hora para terminar…

Fazia tempo que não o via. E me penitencio por isso. Visitei-o no início da doença contra a qual lutou por vários anos. Com uma fé inabalável. E com vitórias parciais que me deram a impressão de que estava curado. Tanto assim que acompanhei sua participação, com aparência absolutamente normal, em festas mostradas em postagens das redes sociais. Sempre cercado, nessas ocasiões, por vários amigos e familiares. Olhava-o nas fotos e repetia o provérbio: “Um velho soldado não morre!”.

Quando soube, Ney, da triste notícia de sua passagem para o outro lado da vida, me propus a fazer um brinde. Mais compatível com você do que lágrimas. Eu com uma taça de vinho e você com sua infalível e irrenunciável cuba-libre. Sei que você aprovaria. Um brinde em homenagem à amizade e especialmente à vida que você tanto valorizou com sua presença entre nós. Tim-tim, amigo Ney!!!

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