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Um Conto de Encontro XXXI

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Alex Medeiros 
A novela A Barba Azul foi parte integrante das minhas emoções em 1974. A atriz Nádia Lippi no frescor da idade se reproduzia nos meus desejos na menina do fim da rua. Encerrada no carnaval do ano seguinte, a aventura da TV Tupi se entranhou nos meus pensamentos quando deixei as Quintas e fui morar em Candelária, o novo conjunto habitacional que se ergueu na Zona Sul e atraiu meus pais. Na nova casa, a saudade ainda estava nas caixas por abrir.
Dias antes da mudança, meu olhar se desviou para a garota morena, de belas coxas, que há poucas semanas chegara na rua, sua família vindo do interior. Era a mais jovem de um grupo de quatro ou cinco filhas do casal. Na grande casa, elas deram uma festinha de estreia e eu dei um jeito de me aproximar; uma mania que levou alguns amigos a me apelidarem de “São Pedro” (aquele que entrou no céu na marra). Pela enésima vez eu forjava apresentações.
A primeira imagem da moreninha se reproduziu nas cenas da novela Helena, exibida pela Globo naqueles dias de 1975. Na calçada da mercearia, eu a via passar e a fitava como Osmar Prado olhando Lúcia Alves na novela Helena.
Até o caminhão da mudança partir para o outro lado da cidade, tivemos quatro ou cinco contatos, todos no pátio da casa grande onde ela morava e que invariavelmente uma irmã ouvia “Cândida”, um sucesso da banda The Fevers.
Sempre foi a canção a lembrar nossos encontros, mas a que se tornou trilha dos primeiros amassos foi “Dois pra lá, dois pra cá”, obra de João Bosco eternizada por Elis Regina. Na primeira dança, aquele sentir de frio na alma.
Já no outro bairro, eu contava as horas e os dias para chegar o sábado e pegar dois ônibus para retornar à velha rua. Estava tomado pelo sentimento que Machado de Assis dizia em Helena ser mais forte que as convenções sociais.
Quase sempre vestido numa calça militar e com uma camiseta branca onde desenhei as palavras “Scorpius Blue”, eu quebrava seu olhar sério com piadas que aprendia no recreio da escola. Fazer uma mulher rir é garantia de retorno.
Após semanas de encontros em sua casa, às vezes contando estrelas e imaginando viagens intergalácticas, passamos a nos ver no fim das manhãs quando ambos saíamos do colégio e combinávamos idílios febris à luz do dia.
Ela foi a primeira a conhecer meu caderno azul de depósitos poéticos, apesar de não ter sido quem provocou meus primeiros versos (como eu disse havia a garota que lembrava Nádia Lippi). Eu o tinha na bolsa hippie que ela me deu.
Éramos adolescentes apaixonados com sonhos e ideais comuns, de almas aproximadas ao ponto de tão unidas gerarem alegria ao vento. No banco da praça em frente à matriz nossa cumplicidade era bandeira do amor do mundo.
A gente era aquele momento, único e ao mesmo tempo múltiplo na intensidade dos beijos e da vontade de seguir junto. Mas ela não esperava nada de mim, nem eu esperava um pouco dela, éramos o tempo presente, chama de fósforo.
Ela construía na mente momentos futuros da gente passeando ao luar nas festas populares da cidade dos seus pais. Pena eu nunca ter ido. Melhor assim, porque no universo paralelo talvez tenhamos ido e ficou inesquecível.
Nosso último encontro, num começo de noite na calçada do cinema, ela conferiu o caderno azul e viu que havia novos poemas que eu não tinha lhe mostrado. Leu, soltou um riso sem brilho e perguntou sobre o próximo sábado.
Fechei o caderno, acendi um cigarro Minister e respondi que dependendo de um compromisso que poderia ter no meu novo bairro, iria ao seu encontro. De pronto, ela disse “não se preocupe, sábado eu vou pro interior”. Eu a perdi ali.
Equívoco 
Incorre num erro primário o pré-candidato a governador que imagina conquistar simpatia se colocando como opositor ao presidente Bolsonaro. Porque nesse jogo, vai ser engolido pela governadora Fátima Bezerra, a opositora legítima. 
Mimimi 
A ex-boleira Leila Barros considerou uma agressão de altíssima gravidade as críticas ao jornalismo. Tudo nesse país está sujeito a críticas, inclusive ao deboche (até Jesus já foi alvo de pornografia), mas jornalistas são inatingíveis.
Na CPI 
Fica mais que evidente que na composição da CPI estão aqueles perfis que desaguaram na atividade política porque não tinham capacidade de seguir nas atividades técnicas. E fantasiados de “otoridades” cospem em nome da ciência.
Agressão 
A deselegância e tortura psicológica sofrida pela doutora Nise Yamaguchi no circo da CPI precisa ser refutada pela classe médica e principalmente por todas as entidades relacionadas com o mundo da Medicina e dos serviços de saúde. 
China 
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. O fato do RJ ganhar uma escola chinesa nada tem a ver com invasão do PCC. Vai ensinar idioma, como se faz há décadas no Fisk, Wizard, Yazigi, Cultura Inglesa e Aliança Francesa.
Acúmulos 
Sobre o boicote argentino, há o consolo de ser único tricampeonato da Copa América. Tem junto com o Uruguai três bicampeonatos, enquanto o Brasil tem dois (97, 99 e 2004 e 2007). O Chile tem um bi por vencer em 2015 e 2016.
Figurinhas 
Os álbuns de figurinhas da Copa América e da Eurocopa estão refazendo a conexão entre avôs e netos depois do distanciamento da pandemia. Nas cigarreiras de Natal, os avôs e avós já vacinados ajudam os netos a colecionar.
Futebol na TV 
Bélgica x Grécia, Bolívia x Venezuela, Uruguai x Paraguai, Argentina x Chile, Peru x Colômbia, Honduras x EUA, México x Costa Rica, Cruzeiro x Juazeirense, Avaí x Athletico PR, Vitória x Internacional, CRB x Palmeiras. 
Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.

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