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Um dia que mudou o Brasil

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Diogenes da Cunha Lima  [advogado, escritor e presidente da ANL]

Há dias que são marcos na história. Ouso dizer que o dia 28 de janeiro de 1943 operou mudanças significativas em nosso País. Mudou as Forças Armadas, a economia, a diplomacia, os costumes do brasileiro.

Foi a chamada Conferência de Natal ou Conferência do Potengi, ocorrida entre os presidentes Franklin D. Roosevelt e Getúlio Vargas. Em Natal, eles estabeleceram acordo de cooperação sem limites entre os dois países. A síntese está na declaração presidencial conjunta: “A força está na unidade”. O presidente norte-americano veio de Casablanca, onde se encontrara com o primeiro ministro britânico Winston Churchill e Charles De Gaulle, o chefe da França Livre.

Pelo acordo, o Brasil facilitaria a implementação, em Natal, das bases aérea e naval, apoiaria a remessa de materiais estratégicos aos States, estimularia a produção de borracha na Amazônia.

Para o nosso lado, o acerto possibilitou o financiamento da Companhia Siderúrgica Nacional, Volta Redonda, implantação da primeira indústria de base do País. Ajustou a criação da Força Expedicionária Brasileira, com treinamento e equipamentos norte-americanos e posterior envio de tropas para o teatro da Guerra na Europa. Roosevelt assegurou a relevante participação brasileira na futura Organização das Nações Unidas. A abertura da Assembleia Geral da ONU, desde a inauguração, passou a ser feita com discurso do Presidente da República Brasileira. A nossa elite, que se espelhava na cultura europeia, notadamente da França, voltou os seus olhos para os Estados Unidos.

Natal era uma pequena cidade de cerca de 53 mil habitantes. Recebeu a presença americana com natural curiosidade e interesse. O admirável acadêmico Lenine Pinto, em “Natal, USA”, qualificou os soldados de Tio Sam: “Eram educados, alegres, limpos, pontuais, corteses”. O dólar, cigarros, chicletes, tênis e jeans americanos circulavam livremente. Encantavam o natalense a música e seus instrumentos de transmissão. As festas dos U.S.O. A United Service Organizations.

Artistas vinham para entretenimento e confraternização dos soldados aqui sediados, personalidades como Tayrone Power, Kay Francis, Joe Boca Larga, Humphrey Bogart, Charles Boyer e grandes orquestras como a de Tommy Dorsey.

A “ocupação” ianque era tão grande que o Governo do Brasil nomeou um cônsul para dirimir as controvérsias e estabelecer contato com os dignitários estrangeiros. Um cônsul brasileiro para exercer as funções dentro do Brasil! Nosso cônsul foi Manoel de Teffé, que teve atuação marcante. Ele conseguiu, inclusive, permissão para que os americanos frequentassem o cinema sem paletó e gravata. A nova moda generalizou-se e foi adotada por todos.

Os americanos influenciaram o comportamento, vestuário, a fala, inovando com comidas e bebidas, enlatados. E novos segmentos religiosos.

Jovens brasileiros foram levados a estudar nos EUA e voltaram trazendo aplicações profissionais inovadoras. Difundiu-se o inglês que já se tornava língua universal.

O Brasil absorveu as mudanças.

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