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Um grande adoçante: a estévia

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 Jorge Boucinhas – Médico e professor da UFRN

No Século XVI os europeus tiveram os primeiros contatos com a planta estévia (Stevia rebaudiana Bertoni Heims ou Eupatorium rebaudiana Bertoni) da Família Asteraceae, originária do Paraguai e do Mato Grosso. Tal ocorreu quando os espanhóis, desbravando as terras da América do Sul, enviaram à Europa folhas que os nativos usavam para adoçar. Seus nomes variavam: caa-heéé, caa-jhei, caa-yupi, eira-caa.

Em fins do Século XIX o Dr. Moisés Bertoni, naturalista que pesquisava a região de Monday, no Paraguai, identificou algumas amostras desta planta, indicada por raizeiros guaranis da região.  Poucos anos depois, o Dr. Ovídio Rebaudi, químico paraguaio, iniciou o estudo de seus componentes e, em 1905, batizou a espécie vegetal como Stevía rebaudiana. Após poucos anos conseguiu isolar alguns princípios ativos, sendo que, em 1921, o principal, o steviosídio, foi identificado.

Durante a Segunda Guerra Mundial, na Inglaterra, a Stevia passou a ser considerada uma possibilidade como adoçante. Depois, a partir de 1945, o Instituto Biológico Argentino realizou ensaios em pacientes diabéticos, os quais foram continuados 20 anos após pela Universidad Nacional de Assunción, no intuito de determinar sua utilidade como planta hipoglicemiante. Em torno dos anos 70 os governos brasileiro, paraguaio, uruguaio, israelense, coreano do sul, chinês, tailandês paraguaio e japonês liberaram a estévia para utilização como adoçante, sendo que no Japão foi utilizada até na Coca-Cola diet. A FDA norte-americana preferiu não aprová-la como adoçante e só na década de 90 foi liberada como suplemento alimentar.

Os principais componentes são glicosídeos triterpênicos doces (especialmente o steviosídeo), afora óleos voláteis, flavonóides antioxidantes, vitamina C, cálcio, beta caroteno, cromo, cobalto , ácidos graxo, fibras, ferro, magnésio, niacina, fósforo, potássio (1,8%), selênio, sódio e zinco. Dependendo da concentração em steviosídeos as folhas são tidas como 100 a 300 vezes mais doce do que o açúcar de cana, com a vantagem de quase não fornecer calorias, porém, quando ingerida in natura, deixa um gosto residual discretamente amargo. Na forma de pó, a utilização de uma colher de chá de steviosídeo corresponde a um copo de açúcar granulado de cana.

Bom efeito hipoglicemiante foi obtido em coelhos e ratos submetidos a diabetes experimental. Talvez o mecanismo mais provável esteja relacionado ao estimulo da secreção de insulina pelas células beta do pâncreas, que seria induzido por seus glicosídios steviol, isosteviol, glicosilesteviol.  Os mesmos resultados não foram obtidos quando da utilização isolada do steviosídeo.  Outro estudo comparativo, este em obesos diabéticos, demonstrou eficácia no controle de níveis glicêmicos similar à obtida com o uso do medicamento glibenclamida.

Significativos resultados no tratamento de hipertensão foram observados em um estudo criterioso, em 106 pacientes hipertensos utilizando steviosídeo (750mg ao dia), acompanhados durante um ano, com melhoras significativas à partir do terceiro mês, mantidas até o fim da investigação. Outros estudos revelaram que o uso do extrato bruto por 2 meses produziu hipotensão e eliminação urinária de sódio, com ritmo de filtração renal normal.

O uso associado de guaraná e extrato bruto de folhas de Stevia diminuiu sensivelmente a fermentação de polissacarídeos insolúveis e inibiu o crescimento de Streptococcus mutans, prevenindo o desenvolvimento de cáries e placas bacterianas.

Alguns trabalhos com utilização tópica, na pele, foram realizados em casos de seborréia, dermatites e eczemas, incluindo o da psoríase, com efeitos promissores.

Há uso popular no Brasil central, sem maior comprovação científica, para fadiga crônica, depressão, desejo compulsivo por doces e alguns processos infecciosos.

Atenção deve ser tida quando do uso por pacientes tomando anti-hipertensivos, diuréticos e hipoglicemiantes, pois, muitas vezes, as dosagens têm que ser reajustadas. Também se deve atentar para evitá-la na vigência de redução do número de batimentos cardíacos por minuto e um estudo isolado sugeriu que seria bom evitá-la em casos de osteoporose. Um outro demonstrou que, em ratos, houve uma redução significativa nos níveis de testosterona e na contagem de espermatozóides, e, embora não tenha sido reproduzido, parece interessante evitá-la na vigência de tratamentos para infertilidade.

Ainda não existem padrões estabelecidos para doses, mas tudo indica ser um adoçante de primeira, que pode ser empregado com relativa tranquilidade, apesar de valer a pena conhecê-la um pouco melhor. Foi exatamente isto que aqui se tentou fazer.   Deseja-se um uso judicioso para os interessados!

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