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Um hospital cheio de arte

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Tádzio França
Repórter

Os hospitais são ambientes formais, monocromáticos e, para alguns, até “opressivos”. As crianças, em especial, não ficam muito felizes em aparecer por lá. Tornar esses espaços mais acolhedores para pacientes e profissionais é humaniza-los. Foi o que o projeto Elos Arquitetura Social fez novamente, com muita arte. A iniciativa, que no ano passado promoveu a restauração e embelezamento útil do Instituto Juvino Barreto, agora voltou tintas e traços para colorir o Hospital Infantil Varela Santiago. Sob a ação conjunta de vários profissionais, o tradicional casarão azul da Cidade Alta ganhou mais cores e alegria.

Tornar um ambiente hospitalar mais acolhedor, tanto para pacientes como para os profissionais, foi o novo feito do projeto Elos Arquitetura Social, que transformou salas, consultórios, paredes e até equipamentos do Varela Santiago em cenários de arte


Tornar um ambiente hospitalar mais acolhedor, tanto para pacientes
como para os profissionais, foi o novo feito do projeto Elos Arquitetura
Social, que transformou salas, consultórios, paredes e até equipamentos
do Varela Santiago em cenários de arte

A palavra-chave do novo trabalho da Elos foi “humanização”. “A gente quis trazer vida e calor humano para esse ambiente. Fazer o paciente se sentir acolhido, algo próximo da hospitalidade”, afirma a arquiteta Mara Lorena, que forma a Elos junto com Juliana Maia e Larissa Magalhães. Foram 28 profissionais envolvidos, entre arquitetos, designers, engenheiros, e artistas plásticos. Em apenas um mês de trabalho, iniciado em maio, o grupo transformou 28 ambientes da instituição. O resultado está nos corredores e paredes dos consultórios.

As arquitetas mostram transformação até no tomógrafo


As arquitetas mostram transformação até no tomógrafo

Mara conta que após a repercussão do trabalho no Juvino Barreto, a Elos foi procurada por várias instituições querendo uma ação semelhante. “O trabalho no Juvino foi intenso, exaustivo, e a gente estava na dúvida de que seria capaz de embarcar em outra ação daquela. Até que o pessoal do Juvino nos convidou para um passeio no local e a gente sentiu do que ele precisava”, conta Mara. O ambiente frio e sem cor estava pedindo um upgrade visual e humanizado.

Fauna e flora
Após formar o grupo que iria trabalhar na ação do Varela Santiago, o grupo Elos estabeleceu as regras: o trabalho teria um tema, a flora e a fauna brasileira, e teria que exibir as cores verde, azul e amarelo (além de outras, claro) em todos os espaços. “Tematizar foi uma forma de conservar a harmonia entre todos os ambientes, já que o espaço é grande e poderia ficar confuso se cada um resolvesse fazer uma coisa diferente”, explica Mara.

A mistura de desenhos e cores espalhada por todo o térreo do hospital – da parte antiga à moderna – é harmônica e alegre. Bichinhos de todos os tipos se espalham pelas paredes e corredores, sorrindo e transmitindo mensagens que estimulam a criançada (e seus pais também) a encararem a consulta médica com mais leveza, e até um pouquinho de diversão. Foram trabalhados corredores, consultórios, recepção, brinquedoteca, e o ambulatório – a sala mais antiga do casarão, construído na década de 30.

Recepção teve toque do artista Arthur Seabra: cores de Portinari


Recepção teve toque do artista Arthur Seabra: cores de Portinari

Um dos ambientes que se destacam é o da tomografia. Mara Lorena conta que no início a proposta era trabalhar apenas a sala do tomógrafo, por ser o espaço mais “tenso” (por razões óbvias) do hospital. A temida máquina foi adesivada com desenhos de arco-íris e seu ambiente recebeu o tratamento alegre da mostra. Não à toa, essa área foi batizada de “Jornada do Herói”, repleto de paisagens felizes e mensagens encorajadoras. “É o primeiro tomógrafo humanizado do Nordeste”, ressalta.

Outra mensagem de coragem está no “Cantinho da Formiguinha”, que é a sala das vacinas, outro lugar que a criançada teme. A Brinquedoteca também se destaca, tornando-se o “Jardim da Alegria”, um dos lugares mais acolhedores do hospital, onde diversão, criatividade e recreação devem estar juntas. “Acreditamos que um ambiente harmônico estimula a imaginação e desperta a alegria”, escreveram Emília Alcides e Helena Barros, responsáveis por esse ambiente.

Jornada noturna
O trabalho no Varela Santiago teve características diferentes daquele aplicado no Juvino Barreto. “Não se tratava de um trabalho de restauração, como no Juvino. A estrutura física do hospital está perfeita, não tivemos que trocar piso, portas ou janelas. No máximo, colocamos alguns móveis novos no ambulatório”, explica a arquiteta. Outro fato, é que o trabalho deveria ser feito sem atrapalhar a rotina do hospital, que está em plano vapor. “A solução foi trabalhar à noite e nos fins de semana. A gente é que precisou se adaptar à rotina do Varela. Foi um belo trabalho de doação também nesse sentido”, diz. Ela afirma que o Varela Santiago é agora uma referência em humanização de ambiente.

O salão antigo do ambulatório ganhou o colorido de fauna e flora

Os arquitetos Arthur Seabra e Anna B. foram responsáveis pela recepção, um espaço essencial do hospital, onde pais e filhos aguardam suas consultas e a tensão é comum. Para tornar a espera mais leve, eles aplicaram paisagens tropicais com leve inspiração em Portinari. “Procuramos trazer acolhimento para as crianças, destacando o azul do céu para inspirar calma”, diz. Arthur conta que já havia feito trabalho voluntário de forma independente, mas que fazer a mesma coisa em grupo traz uma sensação diferente. “De forma coletiva o trabalho é mais estimulante, cada um colabora como pode, e desperta o lado mais humano dos envolvidos. É muito diferente de um trabalho comercial”, afirma.

Mudança radical e amorosa
Diretor do hospital há 20 anos,  Paulo Xavier considerou o trabalho da Elos uma mudança “radical” no ambiente. “Eu fiquei muito impressionado com o trabalho no Juvino Barreto, e passei a sonhar com algo parecido por aqui. Tive que fazer o convite a Elos e felizmente elas se sensibilizaram e aceitaram. Estamos muito felizes com o resultado do trabalho, ficou impressionante”, diz.

Xavier ressalta o fato de a equipe ter sido bastante compreensiva com a dinâmica do hospital, e ter se integrado perfeitamente na hora de trabalhar no local. “Hoje a gente já vê as crianças brincando, olhando para os desenhos e se identificando. Elas ficam felizes de estar aqui, apesar da consulta, e do incômodo da espera. Antes mesmo de concluir o trabalho o clima já estava assim. O resultado veio antes da conclusão”, diz.

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