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Um lorde na Bossa Nova

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Maria Betânia Monteiro – repórter

A foto em preto e branco, tirada no Aeroporto Augusto Severo, é uma dessas que segue à risca o ditado popular: uma imagem vale mais do que mil palavras. Nela, o macauense e precursor da Bossa Nova, Hianto de Almeida, está ao lado de um dos maiores compositores brasileiros, Ary Barroso e da cantora Carmem Déa, dentre outros colegas e empresários. A foto é um dos destaques do livro “A Bossa Nova de Hianto de Almeida”, da pesquisadora e escritora Leide Câmara, que será lançado amanhã, no Palácio da Cultura, às 19h30. “O livro está lindo, lindo. Estou com ele aqui nos meus braços quase sem acreditar. É um sonho”, festejou a também autora do Dicionário da Música do Rio Grande do Norte, cuja obstinação fez de seu trabalho um dos poucos registros da música potiguar.

Carmem Déa, Hianto de Almeida, Edson França, Ernani Filho, João Costa, o compositor Ari Barroso, Gilvan Bezerril, Haroldo de Almeida, Edilson Varela e Fernando LopesDurante o lançamento do livro haverá também uma apresentação com o cantor e violonista Silvio Melo, filho do saudoso escritor Veríssimo de Melo, o empresário e pianista Gilson Ramalho e Newton Ramalho, irmãos do compositor Hianto de Almeida.

Patrocinado pelo Sesc, “Bossa Nova de Hianto de Almeida” também traz outras minúcias históricas, como uma carta escrita em 1955, por Antônio Carlos Jobim, onde o cantor e compositor presta uma homenagem aos amigos falecidos, entre os quais Hianto de Almeida. A pesquisadora Leide Câmara também encontrou o nome do potiguar em lugar de destaque numa revista de circulação nacional, a “Disco Tocando”. A revista elencava as 100 melhores músicas brasileiras de 1955 e dez delas eram de autoria de Hianto.

Leide Câmara explica que a ideia do livro surgiu após ter incluindo o nome de Hianto no “Dicionário da Música do Rio Grande do Norte”, de sua autoria, em 2001. Durante os estudos para o dicionário e para outro volume sobre a Bossa Nova, a pesquisadora viu que o nome de Hianto era uma constante nas citações de livros e artigos. A partir daí surgiu o interesse em fazer uma revista sobre a participação de Hianto, num dos movimentos de maior alcance da música brasileira, que foi a Bossa Nova. “A importância de Hianto era tanta, que decidi fazer um livro. Pensei que publicaria o texto em 100 páginas, mas precisei de 325”, disse ela.

O livro não é biográfico, mas uma cronologia da vida musical do compositor. Em ordem temporal, cita os momentos marcantes de sua carreira, fala de sua obra, parcerias e também sobre o seu relacionamento com a família, a elegância e o fino trato. Leide revela que Hianto foi um batalhador e o maior divulgador de suas próprias músicas. Ele fez de seu tempo uma caminhada incansável ao mapear, distribuir e arrecadar as vendagens dos discos nas lojas do ramo. Correu contra o tempo, parecia saber que o destino lhe reservara uma vida breve e que precisava realizar seu grande sonho de conquistar seu espaço no cenário nacional, assim como seu conterrâneo de Macau, Nozinho (Carlos Vasquez), que, nos anos 1900, deixou sua produção para a história .

Os últimos acordes

Hianto tinha uma facilidade incrível para compor, foi um obstinado no
ato de produzir. Até mesmo em seu leito, consumido pelo câncer e pela
dor, não deixou de fazer o que mais sabia. Registrou, com auxílio de um
gravador de rolo (uma fita) que entregou nas mãos da amada Fabíola, suas
últimas inspirações e o desejo de futuras gravações. Viveu apenas 40
anos, sua passagem foi curta, porém produziu uma obra expressiva para
quem teve, praticamente, 15 anos de vida artística. São 237 composições:
81 gravações em discos de 78 rotações, 7 discos de 10 polegadas, 7
compactos, 89 LPs e 23 CDs. As suas composições foram gravadas por
músicos consagrados nacionalmente.

Existem músicas masterizadas e gravadas, cujos álbuns não foi possível
localizar, principalmente as gravações fora do Brasil. Leide Câmara
constatou que a Rádio Nacional tem catalogadas, em seu acervo, muitas
das partituras das músicas de Hianto, as quais fizeram parte da
programação da rádio. Entre os seus maiores parceiros estão Chico
Anísio, Macedo Netto, Octávio Texeira e Jurandi Prantes.

Hianto Ramalho de Almeida Rodrigues morreu em 27 de setembro de 1964,
deixando um legado muito precioso para o Rio Grande do Norte, que
segundo Leide Câmara todos apreciarão ao longo do livro.

A Bossa Nova de Hianto pelo mundo da música

A Bossa Nova de Hianto de Almeida é dividido em 11 capítulos. O primeiro deles é “Depoimentos”, em seguida vem “Hianto de Almeida: Uma cronologia”, que começa em 1949, data do primeiro registro sonoro de suas músicas. Em seguida vem “Obra em ordem alfabética”. O capítulo seguinte é “Hianto e parceiros musicais”, onde a pesquisadora elenca e descreve uma breve biografia de todos os parceiros musicais de Hianto, como Chico Anísio, Macedo Netto (marido de Dolores Duran) e Fernando Lobo (pai de Edu lobo). Além de identificar a parceria, Leide também revela o nome das composições e o ano em que foram gravadas.

Depois deste, vem o capítulo “Maestros que gravaram”, seguido por “Intérpretes”, nele, Leide Câmara cita em ordem alfabética todos os cantores que deram voz a Hianto, como João Gilberto, Elza Soares, Dalva de oliveira, Ângela Maria, Carlos Gonzaga, Carlos Augusto, Carlos Zen, Cauby Peixoto, César Camargo Mariano e Romero Lubambo, K-ximbinho, Nana Caymmi e Maysa.

Em seguida o livro trás o capítulo “Família”, onde foram coletados depoimentos dos familiares. “Homenagens do Rio Grande do Norte a Hianto de Almeida” é o último capítulo do livro, que traz matérias de jornais, capas de livro, nomes de rua e outras homenagens prestadas ao Rio Grande do Norte, ao seu ilustre filho.

Serviço

Lançamento do livro “A Bossa Nova de Hianto de Almeida”, de Leide Câmara. Nesta quinta-feira, dia 2, às 19h30, no Palácio da Cultura. Informações sobre venda do livro: (84) 9982-2438 ou [email protected]

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