Um monstro gentil

Publicação: 2020-12-27 00:00:00
Alex Medeiros 
alexmedeiros1959@gmail.com

A Copa da Suécia em 1958 foi organizada sob o sentimento quase generalizado de que uma tremenda injustiça da copa anterior, vencida pela Alemanha, na Suíça, seria reparada para satisfazer os deuses e torcedores.

A seleção da Hungria, que maravilhou o mundo em 1954, haveria de repetir o feito começando a jornada no estádio de Sandviken, contra o modesto País de Gales, no Grupo 3, aonde estavam também a seleção anfitriã e o México.

Apesar das ausências da copa anterior, principalmente o gênio Puskas, os húngaros continuavam temidos na Europa, jogando um futebol de essência mágica e letal. Só não contavam na estreia com uma poderosa arma galesa.

No âmbito do Reino Unido, o futebol galês não se equipara ao das outras três nações, Inglaterra, Escócia e Irlanda do Norte. Mas produziu craques como Billy Meredith (fronteira dos séculos XIX e XX), Ryan Giggs e Gareth Bale. 

E tinha naqueles anos da Copa da Suécia, em estupenda fase, o maior jogador de toda a sua história até hoje, o craque-referência da poderosa Juventus de Turim, John Charles, um senhor atacante chamado pela mídia de “Big John”.

A favorita Hungria estreou empatando com o País de Gales, tomando um gol do astro da “Vecchia Signora”, que repetiria jogadas e outro gol em novo empate, com o México, e garantiria a classificação contra os anfitriões suecos.

O futebol majestoso e a postura elegante de John Charles produziram na imprensa a partir de 1948, quando ele explodiu no Leeds United, alguns apelidos, e um que ficou na memória afetiva do povo: “The Gentle Giant”.

Na infância, brincava de rugby, o que estimulou sua força muscular e grande estatura, que ele unia à leveza de movimentos com a bola oval. Na adolescência, aprendeu a tocar com os pés e cabeça uma outra bola, esférica.

John Charles quase não viveu sua grande aventura no futebol. Aos 15 anos, por sorte ou graça dos deuses, foi resgatado de uma promessa de emprego por um técnico do modesto Swansea Town. E em 1947, o Leeds o descobriu.

O time inglês fez história com o colosso de Gales, que deixou na lembrança dos torcedores 150 gols enquanto atuou lá. Em 1957, após bela temporada, foi comprado pela Juventus numa grande negociação para os padrões da época.

Foi um John Charles idolatrado em solo italiano que jogou na Copa de 58, emulado pela aura da camisa listrada juventina. Por seus pés e visão de jogo surgiram as jogadas que mandaram para casa a Hungria, na vitória por 2 x 1.

Todos já sabem o que aconteceu no estádio de Goteborg, na partida das oitavas entre País de Gales e Brasil. O jogo tornou-se histórico para o início da saga do Rei Pelé, então aos 17 anos, quando debutou para a sua artilharia.

O que alguns não sabem é que os galeses decidiram armar uma retranca com dez homens no próprio campo, para tentar conter as investidas de Pelé e Garrincha. E naquele dia, para azar deles, o astro John Charles não jogou.

Assistiu ao jogo no banco, recuperando-se de contusão imposta por um zagueiro húngaro. Impotente diante dos ataques brasileiros, John Charles derramou lágrimas por sua equipe. “King John cried”, estamparam os jornais.

Sua carreira foi longeva e só encerrou em 1974. É considerado o maior dos jogadores do seu país e foi eleito em 1997 o melhor estrangeiro a atuar no futebol italiano. Tricampeão do Calccio e bi da Copa da Itália com a Juventus.

A ele foi consagrado o direito de ser o único craque do Reino Unido comparado em genialidade ao britânico Bobby Charlton e ao irlandês George Best, duas lendas do esporte bretão. E é o único estrangeiro no “Hall da Fama Azzurri”.

Ainda em vida (morreu em fevereiro de 2004), John Charles foi ungido herói da sua gente e lançou a autobiografia The King John. Sua morte ocupou longos obituários nos principais jornais da Europa, que destacaram seu fair play em 17 anos sem sequer uma expulsão.

Créditos: Divulgação

Piada pronta
O Brasil está cada vez mais fodido nas mãos das castas que liberaram as eleições e proíbem a ceia natalina e o réveillon. E enquanto os governadores nordestinos querem proibir voos, o de SP, líder deles, decolou para os States.

RN 2022
A declaração do deputado Gustavo Carvalho em apoio ao nome do ministro Rogério Marinho como candidato a senador é só a ponta de uma articulação na Assembleia em busca de uma chapa com capilaridade e chances de vitória.

Nomes
Nessa articulação, que orbita em torno do presidente da AL, Ezequiel Ferreira, já foram postos na mesa como habilitados a formar a chapa, além do próprio Rogério, as figuras do ex-vice-governador Fábio Dantas e o deputado Tomba.

O alvo
Para um observador das tramas em WhatsApp, há no grupo da Assembleia quem creia numa candidatura de Álvaro Dias ao governo do estado, o que seria a antítese do grupo, que precisa em ano que vem iniciar o tiro ao Álvaro.

Toddys
Três vidros do achocolatado Toddy, de preferência um de cada década da minha infância e puberdade. É esta a imagem que vislumbro quando leio um militonto escrever “todes” para designar “todos” na sua demêmcia identitária.

Tom Zé
O jornalista italiano Pietro Scaramuzzo já tinha lançado ano passado na Itália a biografia do compositor baiano. Em janeiro, chega ao Brasil “Tom Zé – O Último Tropicalista”, livro impresso com o selo da Edições Sesc, de São Paulo.








Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.