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Um mundo a colorir

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INTERVENÇÃO - Em um bairro popular de Milwaukke-EUA, Kate muda a paisagem urbana com sua arte

Para mudar o mundo, a artista plástica norte-americana Kate Madigan precisa apenas de tinta, pincel e um mural. Mas ao contrário daquele ambiente enclausurado comum à  criatividade dos artistas, ela não dispensa a participação de muita gente.

Em Natal desde a semana passada, Kate aceitou um convite da amiga professora, Jennifer Frota, e inicia a partir de hoje, um trabalho com 100 alunos de 5a e 6a séries em dois murais (12 X 8 metros) da Escola Estadual Desembargador Floriano Cavalcanti (FLOCA).

A seleção dos alunos que participarão do projeto (pelo menos mil jovens estudam na escola) ficará sob responsabilidade dos professores. “A gente teve uma reunião e os professores acharam legal que os primeiros fossem os meninos que picham as ruas. É uma forma de tirá-los de uma situação ruim. Mas não são apenas eles. Como é muita gente, ainda vamos dar uma oficina de máscaras”, disse.

Na primeira etapa do processo de criação, os alunos desenharão num papel o que lhes vierem à mente. Em seguida, Kate fará o contorno dos desenhos em escala maior no mural antes da molecada mandar brasa e pintar o espaço.

Com tinta acrílica e pincel de parede empunho, a norte-americana usa a arte para transformar o sonho em concreto armado há vários anos na cidade de Milwaukee, EUA. Lá, desenvolve o projeto em mais de 20 escolas públicas.

Todo o material que será usado foi trazido dos EUA pela artista. No entanto, os que quiserem contribuir com tinta acrílica branca podem procurar a escola.

A arte dela é temática. Num primeiro contato semana passada, os alunos da Floca definiram que o trabalho teria como pano de fundo o “Meio Ambiente”.  No entanto, segundo ela, engana-se quem imagina que o tema é limitado. Aliada às pinceladas, Kate pretende fazer da escola um cenário da arte terapia. E espera contar com a ajuda de professores, funcionários e pais de alunos.   “O meio ambiente tem a ver com a casa deles, a família, a escola, os amigos. Tudo tem relação direta com o meio ambiente. É importante também porque através da arte os alunos podem colocar para fora o que normalmente não tem coragem de falar. Os pais e professores serão fundamentais”, afirma. 

Questionada sobre a participação coletiva dos alunos, Kate conta que sempre acreditou na energia despreendida da arte no melhor estilo “quanto mais gente melhor”. “Nunca gostei dessa coisa de ficar trancada num lugar criando. Isso nunca me inspirou. Desde o início, sempre quis ter a oportunidade de mostrar a arte para todo mundo. Para mim no início, a arte era uma coisa elitista e isso me incomodava muito. Quanto mais gente junta, mais energia. E arte é isso”, acredita. 

Formada em artes plásticas, Kate Madigan atualmente tenta concluir um curso de pós-graduação em arte terapia pela Mount Mary College. Uma das referências dela é o mexicano Diego Rivera, um dos ícones muralistas mundiais que atuou no EUA nos anos 30. 

“A criatividade dos brasileiros é enorme”

O convite para trabalhar no Brasil partiu da amiga norte-americana e professora Jennifer Frota, que adotou a cidade do sol como porto seguro da família. Kate aceitou de pronto mesmo sem saber o que esperar da criatividade dos alunos da FLOCA. “Nos EUA, os jovens ligam a coisa muito ao esporte. Aqui foi diferente. O primeiro contato foi estranho, porque, afinal, para eles, alguém que eles nunca viram perguntou se queriam fazer uma pintura na parede! Mas ficaram empolgados e embora não tenha noção do que possa acontecer tenho certeza que vai ser legal”, prevê.

A experiência com a escola pública brasileira vem ensinando muito à Jennifer. Depois de passar vários anos em escolas americanas, ficou surpresa com o que  encontrou no Rio Grande do Norte.

O choque foi tão grande que ela tirou a filha do colégio particular e a matriculou no ensino público. O motivo? O preconceito da classe média, sem dúvida, foi um deles. “Fiquei chocada. A escola pública aqui é vista de uma maneira pejorativa. Tenho certeza de que, hoje, minha filha está aprendendo muito mais com a realidade da coisa. Ela, inclusive hesitou no começo porque diziam que éramos (os pais) doidos porque na escola pública só tinha prostituta e bandido. E falei: `filha, se tiver isso mesmo é melhor que ajudamos eles´”, contou. 

Indagada sobre a diferença entre os dois mundos, não pensou duas vezes: a criatividade. “É impressionante como os professores mesmo com quase nenhum recurso conseguem fazer o que fazem. A criatividade dos brasileiros é muito maior que nos EUA. Os alunos saem de situações adversas, mesmo com tudo correndo contra. Acho que a classe média deveria ajudar, mas enxergo muito preconceito”, analisa.

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