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Um mundo no meio da praça

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REPERCUSSÃO - Público prestigia espetáculo do grupo mineiro, em turnê pelo Nordeste

Assistir ao espetáculo “Um Molière Imaginário” do grupo Galpão é receber um mundo onde cabem crítica, música, sonhos e um teatro aguçado pelo experimento, estudo e sólido trabalho de pesquisa desenvolvido ao longo de 26 anos. Não é a toa que a praça Augusto Severo na Ribeira recebeu na noite de quinta-feira, em seu chão, mais de duas mil pessoas entre idosos, crianças, adultos e apaixonados por teatro. Esse número mostra um pouco da carência da cidade em assistir a bons espetáculos quando muitas pessoas admitem que Natal não tem público. Pura bobagem.

Uma caixa mágica com cortinas vermelhas e uma parte superior como uma varanda era a estrutura do meio da praça. O palco  demarcado com serragem vermelha oferecia aos olhos  a projeção para um outro mundo, o do encanto e da ficção, refletido no rosto das crianças ao redor. Vestida de branco e tocando piano em cima da estrutura, uma narradora apareceu para saudar o público. Era ela quem costurava os diálogos do livro  “O Doente Imaginário” de Molière, com a linguagem contemporânea,  trazendo a França do século XVIII para os dias de hoje. Logo depois da sua fala, os atores entram em cena para o enterro do próprio Molière num cemitério pagão.

O inusitado vai além e traz o próprio Molière em cena, lembrando quando ele faleceu no palco encenando a própria peça, uma intertextualidade que emociona, faz refletir e diverte. No enredo, até a Rainha Mab de Shakespeare dá o ar da graça brincando com o público. O genial no texto – experimentado pelos atores e adaptado por Eduardo Moreira, que atua e dirige o espetáculo – é essa costura entre a linguagem atual com um texto escrito no século XIX.

 No enredo um velho hipocondríaco (Argan), quer casar sua filha com o filho de um médico para ter assistência  para o resto da vida, porém sua filha já é apaixonada por um outro rapaz. 

Seu irmão então propõe que ele se forme em Medicina para entender sobre as doenças e eis o que ele faz, com direito a colação de grau e juramento. Com uma crítica forte à Medicina que se pratica nos dias de hoje — claro com muito humor como proporcionava os textos do próprio Molière — o público vai absorvendo questões sociais fortes escondidas em palavras doces e engraçadas, embaladas por canções executadas (muito bem por sinal) pelos próprios atores.

No palco fica visível a perfeição do grupo amparada pelo figurino colorido, as canções e uma iluminação bem pensada em cada segundo. No final, as pessoas pareciam celebrar todo aquele presente em plena praça pública, e só foram embora porque começou uma chuva abençoando a noite.

A vinda gratuita do grupo a Natal e Mossoró deve-se ao patrocínio da Petrobras que possibilita a turnê por todo o Brasil, uma ação que deveria ser feita mais vezes por muitos empresas brasileiras.

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