Dupla Horses and Joy é destaque na atual cena folk brasileira
A segunda geração dessa turma tem origem há três ou quatro anos e vem se fortalecendo. Grupos de um folk menos comprometido com a poética da Casa no Campo dos 70 e sem a contestação política dos 60, usada por folkistas de origem americana, canadense ou inglesa, que têm em Bob Dylan sua bandeira mais alta.
Dylan é um nome a ser lembrado com honras aqui, já que dois de seus discos estão fazendo aniversário de 55 anos. The Times They Are a-Changin’ e Another Side of Bob Dylan, ambos de 1964. O primeiro foi um choque ao mostrar um Dylan dono da própria palavra pela primeira vez em todas as canções e trocando alguma leveza dos álbuns anteriores pelo sangue nos olhos ao falar de racismo, lutas sociais e guerra. A canção The Times They Are…, ele disse, foi feita para se tornar um hino. Não se tornou como outras suas se tornariam, mas Dylan virou o estandarte.
O folk brasileiro não tem a mesma pretensão. Historicamente mais longe das barricadas e perto do coração, começa a falar além do amor e do desamor e a dar sinais de amadurecimento. Impressão Sua é uma canção que a dupla Devonts, um belo lugar entre o country, o rock e o folk, lançou em 2017. Sua força está na forma, não apenas no discurso. A música é sobre a violência policial em manifestações e se tornou uma espécie de hit. Escorrega ao usar o termo ‘mulato’ na canção, alvo de debates antirracistas, mas quer denunciar justamente isso, o racismo. “Hoje a escola liberou mais cedo / Não vai mais ter aula, que delícia / O professor não vem, tá com hematomas / Que ganhou na passeata de presente da polícia.”
A maior surpresa é o duo Horses and Joy, um impressionante encontro de vozes e personalidades. Felipe Duarte, 25 anos, e Beatriz Tucci, 21, conseguem colar uma voz à outra o tempo todo. São canções lindas, cantadas em inglês. Se apresentam como uma dupla “influenciada pela música folk e rock dos anos 60 e 70, que valoriza a sonoridade nostálgica com seu próprio toque de criatividade nas composições”. Agora, depois de um EP com cinco canções, Sunflower Sessions, eles preparam o lançamento do álbum Magnolia, com 11 canções.
Se o resultado das vozes vem do suor ou da inspiração? “Gostamos muito de brincar em casa com os violões, pensar em harmonias com ele. Quando colocamos as vozes, sai tudo muito natural”, diz Felipe. Gabriela é filha do guitarrista de rock Leandro Rosa com quem tudo começou. “Acabo levando algumas coisas que ele não conhece. É uma troca ótima.”