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Um oásis em Porto Príncipe

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Fred Carvalho – enviado a Porto Príncipe

Por um breve instante, ontem pela manhã, me senti fora da Porto Príncipe que estou conhecendo desde quarta-feira passada.  Mansões enormes com muros altos; hotéis de luxo com alto índice de lotação; ruas com muitos policiais a pé e com viaturas passando a cada minuto. E as calçadas, livres dos incontáveis ambulantes que buscam a sobrevivência nas demais vias da cidade.

Ruas limpas e tranquilas, carros de luxo estacionados em frente a mansões do bairro nobre de Pétion-Ville, contrasta com a pobreza e o caos no trânsito nas áreas centrais de Porto Príncipe, a capital do HaitiAssim é Pétion-ville, o único bairro nobre da capital haitiana. O acesso, como para todo lugar que se quer ir, é pelas ruas  esburacadas, de trânsito caótico. A viagem da base brasileira até lá daria para ser feita em menos de 15 minutos. Mas a viagem, devido à quantidade enorme de veículos, durou mais de uma hora. Pelas ruas, olhando por sobre os muros, vi as mansões de dois andares. De pontos mais altos, dá para avistar piscinas nos quintais. Algumas, disseram, têm até heliponto.

#maisinformacoes#Desci da viatura da ONU onde estava e entrei no Hotel Caribe, um dos maiores e mais importantes de Porto Príncipe. Logo na entrada havia uma exposição fotográfica. Andando um pouco mais, vi o quão grande é o prédio. De sacadas largas e pátio interno completamente arborizado, mantém um silêncio ensurdecedor. Nem de longe lembra as ruas que havia passado minutos antes.

Duas quadras de tênis, uma piscina limpa e com bar molhado, mesas e cadeiras espalhadas convidando para o repouso. Não tive acesso aos apartamentos, mas não precisava para perceber o luxo do local.

Na saída, resolvi passar pelo auditório. As pessoas que lá estavam discutiam, em um francês bastante arrastado, o turismo local. De imediato pensei: “Como podem discutir sobre turismo se a cidade vive um verdadeiro pandemônio”. A resposta me ocorreu na mesma hora: “O investimento na indústria do turismo pode ser uma das saídas para a miséria local. Deu certo em outros locais. Pode dar certo aqui também”.

A morte banalizada nas ruas de uma cidade violenta

Um fato me chamou a atenção ontem em Porto Príncipe. Após a visita a Pétion-ville, já na saída do bairro, nossa patrulha foi informada que havia uma mulher morta na calçada poucos metros à frente. O tenente-coronel Sérgio Lamellas, que comandava nossa incursão pela cidade, de pronto comunicou o ocorrido à base brasileira que, em seguida, repassou o comunicado para a base do Nepal, responsável por aquela região, conforme  a divisão territorial estabelecida pela Minustah.

Aglomerados de prédios mostram que aos poucos a cidade vai se recuperando do terremoto que destruiu o país, em janeiro de 2010Nos poucos minutos que ficamos no local, várias pessoas passaram ao lado do corpo estendido na calçada. Alguns paravam e olhavam para a mulher. Saímos do local porque havíamos assumido uma outra pauta, que não poderia ser adiada. Demoramos quase duas horas nesse outro compromisso. Ao sairmos, o coronel Lamellas decidiu regressar ao local onde tínhamos visto a mulher morta.

Mesmo passado todo esse tempo, para espanto nosso, o corpo da mulher continuava no mesmo local. E da mesma forma: as pessoas reagiam com indiferença ao fato de haver uma pessoa morta ali. “Isso é a banalização da morte. Após o terremoto do ano passado, quando milhões de pessoas morreram e ficaram jogadas por dias, semanas nas ruas, os haitianos meio que se acostumaram em ver gente morta”, falou um soldado que nos acompanhava. O corpo franzino indicava que a mulher havia morrido desnutrida, provavelmente sendo apenas mais uma das quase 7 mil vítimas da cólera que assola o Haiti.

Dois homens da Polícia Nacional Haitiana (PNH) passaram em uma moto ao lado do corpo. Avisamos a eles, mas simplesmente nem deram atenção. Mais alguns minutos e outros membros da PNH chegaram, desta vez em um carro. Ficaram a poucos metros do corpo, mas novamente nada fizeram.

Deixamos o local novamente. Um quarteirão adiante cruzamos com uma outra patrulha brasileira, que diante da negativa da PNH e da base do Nepal, resolveu guardar o corpo enquanto a polícia local decidia o que fazer e quando fazê-lo. “Não sei quem era aquela mulher e não pude confirmar a causa da morte. Provavelmente vai virar apenas mais um número no quadro de mortes deste país”.

Diário

Hotel Caribe: semente da indústria do turismo, ainda incipienteO dia de rotinas ontem começou cedo, ainda de madrugada. Por volta da meia-noite, em uma patrulha, deixei a base brasileira para acompanhar uma operação tapa-buraco em uma rua próxima ao Centro de Porto Príncipe.

Regressei à base por volta das 2h e às 6h30 já estava de pé para o café da manhã. Em seguida fui conhecer Pétion-ville, o único bairro nobre da capital haitiana.

Entrevistei o embaixador do Brasil no Haiti. O material será publicado neste domingo.

Tirei a tarde para adiantar os textos, uma vez que estava previsto para as 19h30 participar de uma patrulha noturna pelas ruas de Porto Príncipe.

O diário com a rotina aqui no Haiti não será publicado amanhã. Na terça relato como foi o fim de semana. Até lá.

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