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Um olhar por dentro de uma maratona

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Matheus Jancy Bezerra Dantas
Professor Universitário; Presidente da Associação Paradesportiva do RN-APARN; Coordenador Nordeste da ANDE

A maratona, tanto para os corredores e espectadores, é um evento cheio de muitos significados e que exige o máximo de seus participantes. Durante um evento como este, o local onde vai ser realizada a prova é interditada e muitas pessoas se aglomeram para torcer, ou simplesmente ver os corredores enfrentando a enorme distância que separa a largada da chegada. Inspirada na lendária corrida do soldado grego Fidípides, que se deslocou até Atenas para avisar sobre o resultado da Batalha de Maratona, que os atenienses venceram em 490 a.C., a prova de 42.195 metros é um desafio para quem se propõe a percorrê-la. Conta a lenda, que após terminar o percurso e avisar do resultado da batalha o soldado Fidípides faleceu de exaustão física.

Depois de muitos séculos da primeira maratona, as corridas de rua vem tomando espaço dentro das práticas esportivas de inúmeras pessoas, que encontram a oportunidade de melhorar a saúde através da mudança de um estilo de vida. São jovens e idosos, homens e mulheres, que decidiram amarrar o tênis, colocar um short e uma camisa leve e sair correndo pelas ruas e avenidas da cidade. Além disso, encontram na atividade um momento ímpar de socialização e de fazer novos amigos. Dessa forma, os grupos de corrida vem crescendo em quantidade e em número de participantes nos últimos anos.

Na última maratona que aconteceu em Natal o tempo aprontou com os corredores. A cidade do sol amanheceu debaixo d’agua. Preguiça, sono e o desejo de continuar na cama foram vencidos pelo desejo de participar de mais uma corrida de rua ou até mesmo, para alguns, da primeira maratona. O sonho da medalha alimentado pelo imaginário social e o arquétipo do herói, faz com que muitos decidam participar desses tipos de eventos sem mesmo está preparado. Certamente muitos na noite anterior sonham com o pódio e a premiação. No entanto, é crucial ter uma preparação física impecável, para não comprometer a saúde com os esforços necessário para completar uma corrida tão longa. E com o tempo nublado e o frio que se instalaram no dia do evento, será que o resultado seria o mesmo para todos? A princípio um corredor iniciante poderia pensar: “o meu rendimento vai cair”. Com chuva e sem aquele tênis hiper, mega, ultra fantástico de muitos e muitos reais, como ter um bom rendimento?

Já é difícil superar os primeiros quinze minutos de corrida, todo corredor sabe disso. A barriga começa a coçar, a sensação de que não vai conseguir e as primeiras dores pedindo ao cérebro para inibir a perfomance, são os primeiros sinais da briga do corpo com a cabeça. No entanto, com chuva ou sem chuva, com tênis hiper, mega, ultra fantástico ou sem ele, o seu resultado vai depender de uma única coisa: ou você treinou para este tipo de corrida e se adaptou ou não terá um bom resultado!

Das pessoas que compraram seu tênis novo e todo o equipamento que acreditam precisar para enfrentar sua primeira competição até os grandes atletas, todos sofrem os efeitos desse desafio, mesmo com o treino adequado, nosso corpo passa por uma série de processos bastante extremos durante a corrida. Da ponta do pé até a cabeça, tudo se modifica para enfrentar o stress que o organismo está sendo submetido. No caso do coração, ele passa a ser exigido muito mais do que o normal. Ele tem a função de bombear o sangue para todas as partes do nosso corpo e na maratona ele trabalha no limite, é necessário levar oxigênio e nutrientes a todos os músculos envolvidos na atividade para manter o ritmo da corrida.

Atrelado ao aumento da frequência cardíaca, ocorre também aumento da frequência respiratória. Dessa forma, a velocidade da troca de dióxido de carbono por oxigênio deixa o sangue sempre pronto para fornecer o combustível aos músculos. Numa condição normal, o coração bombeia uma média de 5 litros por minuto. Numa maratona a média é de 17 litros.

Inevitavelmente com o passar do tempo, a temperatura corporal cresce e o suor é liberado para regular o calor. É possível diminuir de 3 a 4 kg durante a maratona. Contudo, grande parte disso é água. Durante o evento o organismo elimina uma média de 1,2 litros a cada hora de corrida. Por isso, mesmo sem sede, dê um gole de água nos postos de hidratação ou a cada 15 minutos. No final da maratona é possível ter excretado até 6 litros de suor.

Os atletas também estão propensos as lesões por esforço repetitivo, estresse articular por sobrecarga, fraturas por estresse. A quantidade de danos que seu corpo pode sofrer durante a corrida é muito grande. Inacreditavelmente, ao fim do percurso dos 42.195 metros, os atletas terminam a prova em média 1 centímetro mais baixo, e eles não derreteram. Esse fato acontece porque os discos entre nossas vértebras são comprimidos pelo exercício extremo, ainda bem que depois de um ou dois dias tudo volta ao normal. Mas isso é apenas um exemplo do quanto a prova exige do nosso corpo.

É verdade também que a corrida pode ter um impacto positivo na ansiedade. Para os indivíduos treinados ocorre um aumento dos níveis de serotoninérgica e noradrenérgico no cérebro, que possuem efeitos similares aos provocados por antidepressivos, tendo impacto positivo no humor dos atletas. Contudo, os indivíduos não treinados podem aumentar a ansiedade por algumas horas, já que o nível de cortisol aumenta muito.

Por isso, o Eu Atleta, deve ser uma escolha programada e orientada por profissionais especializados na área. Não dá pra colocar a culpa na chuva ou na falta de um tênis caro para os resultados obtidos na maratona. Lembrem-se, o atleta é composto por muito treino, alimentação adequada, descanso e muito, mas muitos anos de adaptação psicofisiológica.

Então, já viu que não dá pra se vestir de corredor, precisa sair do sofá e treinar!

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