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Um palacete tal como em 1900

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Tádzio França – repórter

Nada mais justo que a instituição responsável pela preservação do patrimônio histórico do Estado faça desse próprio patrimônio a sua casa. O braço potiguar do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan – inaugura nesta quarta-feira a nova sede de sua superintendência, agora no bonito e centenário casarão número 158 da avenida Duque de Caxias, na Ribeira. A cerimônia de abertura começará às 17h, com a presença do presidente nacional do Iphan, o arquiteto Luís Fernando de Almeida, e representantes de Pernambuco e da Paraíba. As funções do órgão serão divididas entre as duas sedes, entre a Cidade Alta e a Ribeira.
Reforma do palacete da av. Duque de Caxias é um dos projetos aprovados pelo PAC das Cidades Históricas. A reforma manteve características originais incluindo detalhes de arcos góticos e mouros
O casarão passou por uma reforma de sete meses. O Iphan começou em 2010 o processo para obter o imóvel junto à Secretaria do Patrimônio da União. Em 2011, elaborou um projeto para a restauração, e os recursos foram liberados no ano seguinte, iniciando os trabalhos logo em janeiro.

A superintendente local, Jeane Nesi, afirma que a criação da nova sede foi uma questão de necessidade. “As atribuições da superintendência local se multiplicaram, e apenas a sede da Cidade Alta não dava mais conta de tudo que temos para fazer. A sede da Ribeira poderá agilizar nosso trabalho e permitir que façamos mais ações junto à comunidade”, explica. O Iphan da Ribeira concentrará o trabalho técnico e burocrático. Será direcionado às questões administrativas básicas, de análises de projetos, processos, e estudos técnicos em geral. Já o Iphan da Cidade Alta, que foi a sede única por mais de 20 anos, será transformado na Casa do Patrimônio. Abrirá espaço para palestras, exposições temporárias, lançamentos de livros, vernisages, e pesquisas de requalificação.

“A ideia é abrir mais o Iphan para a comunidade, e promover diversas atividades para isso”, diz Jeane. O acervo de material e biblioteca continua todo na sede antiga. O velho prédio da Rua da Conceição ficou conhecido como a casa do Padre João Maria, mas existe desde o século XVII, onde funcionou como o armazém real da capitania do Rio Grande. A reforma faz parte dos projetos contemplados pelo PAC Cidades Históricas, que inclui ainda obras no Museu Café Filho e no anexo do Instituto Histórico e Geográfico.

RESTAURAÇÃO MANTEVE TRAÇO ORIGINAL

A restauração do prédio cuidou de manter suas características originais o máximo possível. O imóvel recebeu piso novo, revisão da cobertura e das instalações elétricas e hidráulicas. As esquadrias danificadas foram substituídas e foi instalada uma plataforma vertical – nos fundos do prédio – para facilitar o acesso.  Espaços de acessibilidade foram  criados. A cor salmão ressaltou as formas do prédio, com seus arcos entre o gótico e o mouro, e o porão alto que dá uma feição imponente ao palacete. Ao contrário da maioria dos prédios antigos da Ribeira, ele é recuado dos limites laterais e frontais do terreno, com a proteção de grades. Talvez isso tenha ajudado a casa a escapar da descaracterização que assolou boa parte dos imóveis da área.

Jeane Nesi considera providencial o fato de o Iphan se localizar entre os dois bairros mais antigos da cidade. “Natal nasceu entre a Ribeira e a Cidade Alta, e nós cuidamos para que eles existam com suas características originais. É algo que realça ainda mais o nosso trabalho, estar localizado no berço da cidade”, afirma. Ela acredita que a nova presença do Iphan contribuirá para acrescentar mais riqueza cultural à cidade baixa. “Estou feliz com a nossa presença aqui. A Ribeira merece ficar mais humanizada”, conclui.

A CASA DO PRIMEIRO LIVREIRO

O palacete da Ribeira também segue a tradição de ter um passado histórico. Pertenceu ao intelectual paraibano Fortunato Aranha, que abriu a primeira livraria de Natal, no final do século XIX. A livraria se chamava Cosmopolita, e ficava por trás do casarão, na rua Dr. Barata. A residência do livreiro foi erguida no começo do século XX, e mais de 100 anos deve separá-la dos dias de hoje. “O estilo é eclético, misturando arquitetura gótica, clássica e moura, como era bem típico daquela época. Acredito que ele deve ter copiado de alguma revista estrangeira”, explica Jeane Nesi.

Fortunato Aranha se casou em Macaíba, e veio morar em Natal por volta de 1890. Teve 13 filhos, e conviveu com outras figuras pensantes da época, como Henrique Castriciano, Alberto Maranhão e Tavares de Lyra. Faleceu na década de 40 do século XX. Desde então, o casarão passou de mão de mão, de forma quase errática. O imóvel foi vendido para uma empresa comercial nos anos 50, que tratou de fazer algumas modificações – felizmente, discretas. A modificação da época abriu alguns vão na casa, alterou a disposição dos cômodos e criou uma entrada na lateral direita. O palacete passou ainda por algumas repartições, como o Instituto do Açúcar e do Álcool, nos anos 60, e depois a FAE – Fundação de Apoio ao Estudante.  Por fim, o imóvel foi incorporado ao Patrimônio da União, e permaneceu parado.

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