terça-feira, 23 de abril, 2024
31.1 C
Natal
terça-feira, 23 de abril, 2024

Um Pedro a mais

- Publicidade -

Ramon Ribeiro
Repórter

Dos anos 1980 aos dias atuais, poucos foram os artistas que cantaram tão bem Natal em suas músicas como Pedro Mendes. Seu álbum de estreia, “Esquina do Continente”, é uma grande prova. O trabalho, que cunhou o artista na história da música potiguar e abriu portas para shows pelo Brasil, completa 30 anos em 2017.
Veterano, mas com sonhos adolescentes, Pedro Mendes quer trabalhar muito em 2017. Além do novo álbum, um DVD com sua obra e viagem a festival na Suíça
Apanhado de tudo que de melhor Pedro compôs até ali, no disco estão parcerias com Babal, Romildo Soares, a versão para “Alegre Meninos” (deixa cair o cheirinho da loló), de Carlos Castim, e grande homenagens  a Natal como “Esquina do Continente” e “Linda Baby”, hino afetivo da capital potiguar, que neste semana foi aprovada pela Câmara Municipal de Natal como Patrimônio Imaterial da Cidade do Natal.

A música foi composta em 1981, como resposta a prima de sua namorada na época. Ela era de Recife, conhecia São Paulo, Rio de Janeiro e, ao visitar Natal, criticou a falta de modernidade da cidade. Por isso os versos: “Que acontece que estou cansado de dizer/Que aqui não tem Avenida São João/Nem o mesmo padrão que se tem por ai/Coisas que não tem em todo canto não se deve exigir/Isso é Natal, ninguém se dá muito mal/Como dizem pessoas quase sem se sentir/Linda baby, baby linda, volte sempre aqui”.

Pedro conta que antes de gravar a música no disco, “Linda Baby” já era a queridinha do nos shows que fazia nos barzinhos da cidade. “As pessoas pediam ‘toca aquela música de Natal, cara’, diz o cantor em visita a TRIBUNA DO NORTE. Aos 53 anos, ele lembra, no entanto, que o que ajudou a deixar a canção tão popular foi o fato dela ter tocado muito no rádio e da TV Ponta Negra. “Depois de lançado o disco a Ponta Negra fez um clipe da música que era exibido diariamente na programação”.

Pedida nos shows até hoje, Pedro nunca se incomodou de tocá-la. Se deixou de fora do repertório de alguma apresentação foi porque a intenção do show era justamente mostrar novos trabalhos. “Adoro a música. Já cheguei a cantá-la quase 10 vezes numa única noite. Um novo cliente entrava no bar, não sabia que eu já tinha tocado, e pedia para eu tocá-la”, diz.

Apesar do grande sucesso, “Linda Baby” não foi a única música com boa repercussão do disco “Esquina do Continente”. A faixa homônima, assim como “Raça”, “Brilho de Uganda” e “Alegres Meninos”, apareciam com frequência nas rádios. “Fui o primeiro da minha geração a fazer um LP. O resultado desse disco foi muito bom. Ele vendeu bem, comecei a tocar na FM. Quase todas as músicas do disco tocaram”, conta.

Para bancar o álbum, Pedro usou praticamente todo o dinheiro que recebeu pelos dois meses que trabalhou na campanha de Geraldo Melo para o governo do estado, em 1986 – uma das mais acirradas da história, vencida por Geraldo contra João Faustino (1942-2014). Os recursos davam para comprar um carro novo, mas Pedro investiu no trabalho musical. “Usei a grana quase toda. Natal não tinha os estúdios de qualidade que tem hoje, fui para Recife, gravei no melhor estúdio de lá na época. Levei 14 músicos pra lá, gente boa, deixei eles em hotel. A gente acordava e ia pro estúdio. Foram 10 dias assim. Pude dar um tratamento ao disco que uma gravadora não teria dado”, lembra.

Na ocasião ele também fez alguns shows em Olinda, conheceu músicos de Pernambuco, como o maestro Spok, que fez uma participação no seu segundo disco. O trabalho abriu portas para o artista em outros estados, tanto que um ano depois do lançamento do álbum, Pedro passou uma temporada no Rio de Janeiro. “Passei um ano lá e voltei para Natal. Deveria ter tentado mais. Mas depois fui outras vezes para lá e para outras cidades”, comenta.

Dono de uma memória fotográfica que capta todo tipo de detalhes, Pedro desenvolveu um jeito particular de observar a cidade e de escrever sobre ela. “Fui menino de pegar ônibus desde os sete anos. Andei pela cidade toda. Meu tio me levava muito para a praia. Gostava de ver o mar da ladeira do Hospital Onofre Lopes”, conta. “Acho bonito o encontro do rio com o mar. Me encanto com o céu de Natal, muito azul, limpo. Mesmo com a verticalização da cidade, não perdemos a vista do céu”.

Pedro confessa que suas criações não precisam de um lugar especial ou uma ocasião específica para lhe inspirar. Basta caminhar pela cidade, como faz Chico Buarque. “Componho muito tomando banho, cantarolando coisas que não existem. Desse exercício surge uma melodia que eu guardo”, diz. Para ele, a melodia chama a letra. “Tenho várias composições em parceria. Eu fazia música e chamava alguém para fazer a letra”.

No entanto, Pedro não deixa de ser um grande letrista. “Linda Baby” é 100% de sua autoria e foi composta quando o artista tinha apenas 18 anos. “Naquela época a minha relação com Natal era de bem estar. Era isso que me inspirava. Mas profissionalmente a cidade está difícil. Hoje, logo quando eu tenho um legado mais firme, vejo bastante dificuldade para tocar.

Disco novo de inéditas

Apesar dos problemas, a cidade continua sendo uma ótima fonte de inspiração para o artista e está presente em algumas de suas canções mais recentes. Nascido em Parnamirim, mas desde bebê vivendo no Barro Vermelho, Pedro homenageou o bairro na música “Embaixo do jambeiro”, que estará no seu próximo disco. Intitulado “Escute aqui”, o trabalho é autoral, inédito e já está 80% concluído. No repertório também foi incluída a música “For a Hungry Man”, letra de Gilberto Gil que ganhou música de Pedro.

No disco o artista reforça parcerias com compositores amigos, como Romildo Soares e Babal. A banda base é formada por Sílvio Franco, na bateria, Sergio Farias, no violão, bandolim e guitarra, Éric Firmino, no baixo, Ramon, na percussão, além de várias participações, como o do grupo Pau e Lata. “Procurei desconfigurar o formato guitarra, baixo e bateria. A sonoridade está mais acústica e percussiva. O foco é na minha voz e no violão. Venho desenvolvendo um jeito de tocar diferente para esse novo trabalho”, explica. A previsão é de lançamento em meados do segundo semestre. Para esse ano, ele também pensa na produção de um DVD. “Seria um registro da minha carreira, pegando pedaços de várias épocas”.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas