sexta-feira, 19 de abril, 2024
31.1 C
Natal
sexta-feira, 19 de abril, 2024

Um picadeiro de tradição milenar

- Publicidade -

Uma tradição milenar que resiste ao tempo e se equilibra, com precisão perfeita, na modernidade: assim se apresenta o Circo da China quando as luzes se acendem no palco/picadeiro, uma sutil combinação de técnicas que visa deslumbrar a plateia entre  acrobacias e efeitos. A trupe já iniciou sua temporada natalense, e vai ficar até domingo no Teatro Riachuelo, apresentando o espetáculo “Sky Mirage 2”. A capital potiguar é a última etapa do circo em sua turnê brasileira. A derradeira oportunidade de se ver, por aqui,  como os orientais alinham milênios de talento com o melhor da tecnologia contemporânea.

TRADIÇÃO ACROBÁTICA e uso de ferramentas tecnológicas. essa é a fórmula do circo da china, que apresenta crianças e adultos em exibições espetaculares“Sky Mirage 2” levou um ano para ser concebido e finalizado. Foram investidos cinco milhões de dólares em sua produção. Estreou mundialmente em novembro de 2010, e em julho de 2011 começou sua turnê no Brasil, em São Paulo, a sexta temporada do Circo da China em território nacional. A TRIBUNA DO NORTE esteve lá para conferir o lançamento na ocasião. A “miragem celestial” que dá nome ao espetáculo conta a história de amor de uma velha lenda, a Fênix, o pássaro que renasce das cinzas está em busca da luminosidade do sol, a fim de que esse encontro os torne um único e harmonioso elemento.

A busca da Fênix pela luz é transformada em cor e movimento através dos 56 artistas que compõem a turnê – tendo ao fundo cenários, figurinos e efeitos visuais modernos. Eles se revezam em uma performance multifacetada de 15 atos, cujo fio condutor é a acrobacia. Em volta dela, fundem-se outras linguagens circenses, como balé aéreo, contorcionismo e equilibrismo. Entre os números, os artistas fazem contorcionismos sobre-humanos, e desafiam o próprio corpo numa roda gigante ou mergulho em argolas. A direção do espetáculo é de Zhang Shouhe, prestigiado coreógrafo e professor de dança moderna do Instituto de Dança de Pequim.

Parte integrante – e ainda mais curiosa – da trupe chinesa, é o  elenco de doze crianças/adolescentes, entre 12 e 16 anos, que vão mostrar no palco como os orientais buscam a perfeição em sua arte. É cultural: na China, as crianças selecionadas começam a aprender os primeiros movimentos a partir dos seis anos de idade. Os exercício e treinos nas escolas especializadas duram no mínimo sete anos. Essas escolas funcionam em sistema de internato, onde os alunos dedicam metade do período aos estudos normais e a outra ao aprendizado circense. Não é moleza, mas os resultados compensam.

“Elas brincam e se divertem como qualquer outra criança”, afirma Mônica Margato, gerente de produção do Circo da China, em entrevista ao FIM DE SEMANA. Os pequenos artistas serão os grandes de amanhã, que  levarão em frente uma tradição milenar de picadeiro. A companhia do Circo da China nasceu em setembro de 1951, sendo a mais antiga de profissionais das artes acrobáticas em circulação na China, após a fundação da República Popular.  Mônica ressalta que, apesar de toda a tecnologia envolvida, o Circo da China ainda mantém o artista como o seu elemento principal. É o que pode ser confirmado, em meio à luz e efeitos especiais. Ela fala um pouco mais sobre isso na entrevista.

FDS – Vocês estão em turnê brasileira desde julho. Quais adaptações de estrutura costumam ser feitas para diferentes palcos? O que será feito no Teatro Riachuelo?

Mônica Magato – Iremos adaptar cortinas e cenários para adequar ao teatro, mas o show continuará com a qualidade inicial.

Quais números de “Sky Mirage 2” costumam agradar mais ao público brasileiro?

O  ‘jumping true hoops’ (pulos em aros de aço empilhados) e o ‘diabolos’ (aparelho chinês semelhante a uma ampulheta com eixo no meio, em que o artista cria coreografias ao passá-lo ao redor do corpo).

Como a música, figurino, iluminação e dança interagem com as acrobacias?

A música, figurino, iluminação foram criados para este show baseados nos movimentos acrobáticos. Ou seja, tudo se complementa.

A tradição é uma marca do circo chinês. Como o circo se moderniza sem se descaracterizar?

Usando técnicas milenares mas com uma roupagem mais moderna em termos visuais.

O clown, ou palhaço, é uma tradição do circo ocidental. Vocês também estão incorporando o humor nos espetáculos atuais?

Não existe um palhaço tradicional…mas um dos artistas faz este papel de interlocutor dos números .

O artista chinês é formado desde a infância. Como é o dia a dia delas junto aos colegas adultos?

Estudam pela manhã, treinam à tarde, brincam e se divertem como qualquer outra criança.

Qual a diferença (ou diferenças) do Circo da China para outros espetáculos de super produção artística, como o Cirque Du Soleil? 

O Circo da china mantém toda a sua tradição acrobática. É uma outra linguagem, uma diferente abordagem para o espetáculo, na qual se valoriza o ser Humano e não a tecnologia envolvida. Ela só complementa! Muito diferente do Soleil que usa muito do teatro nos seus shows, e muitos efeitos especiais.

Serviço:

Circo da China no Teatro Riachuelo. Sexta (21h),

sábado (17 e 21h), domingo (16 e 20h). Preços: Vendas na bilheteria do teatro. Tel.: 4008-3700/

4003-2330. 

AS DIFERENTES FORMAS DO FAZER CIRCENSE

Muitas formas diferentes de arte cabem sob a lona de um circo. Aliás, nem precisa ter tenda em alguns casos. Os espetáculos exuberantes de circos como o da China e o canadense Cirque Du Soleil estão mostrando que o estilo ‘mambembe’ não é o único. Artistas que trabalham com diferentes técnicas, direcionamentos e  orçamentos, provam que há picadeiros para todos os gostos,  estilos e ocasiões. O mais importante é conservar a emoção.

O clown e produtor Nil Moura, que há seis anos comanda o Circo Grock, acredita que essa cultura vai além da velha lona. “Nos Estados Unidos é  comum os circos se apresentarem em teatros. Acho normal os circos mais ricos poderem abusar da tecnologia, com iluminações e programações digitais, é um caminho natural”, afirma. O sucesso de empreitadas como o Cirque Du Soleil divulgou a possibilidade que o circo tem de absorver várias formas de arte. “Acabou se tornando uma influência para muitos outros, uma tendência desde os anos 80”, analisa.

Para Nil Moura, um dos aspectos mais admiráveis do circo chinês, em particular, é o profissionalismo dos artistas. “Eles são formados com muito rigor, entregam a vida a isso. São os melhores acrobatas do mundo e também incríveis malabaristas”, diz. O produtor acredita que os orientais souberam absorver bem as novas tendências circenses, juntado sua técnica milenar com a ideia do espetáculo roteirizado e o aparato tecnológico. “Só poderia dar em números perfeitos”, afirma.

A superprodução é bonita de se ver, mas não deve tirar a alma do espetáculo, acredita Nil Moura. “No Grock, ainda valorizamos o picadeiro, o cheiro de pipoca. Muita produção às vezes rouba a beleza original da arte. Os circos menores ainda conservam isso, apesar das falhas. Acho bonito o toque humano, a possibilidade do erro. A tensão pela perfeição não toca as pessoas”, diz.

#SAIBAMAIS#Rodrigo Bruggemann, do circo Tropa Trupe, diz que é uma vantagem o circo oferecer várias possibilidades de leitura. “É como no teatro, com várias formas de se contar uma história”, diz. Ele acredita que a mescla de linguagens é um caminho interessante para renovar o espetáculo. “Na Europa, segue-se a mistura de performance, interpretação e dança. Eles juntam isso ao sentimento e à emoção, fazendo a diferença”, diz.

A liberdade no picadeiro é o caminho natural da Tropa. “Não tivemos uma formação circense, viemos do teatro, da música, das artes plásticas e da dança. Partimos de várias referências e podemos agir de várias formas, tendo o circo como base”, explica Rodrigo. Por ora, a Trupe está em fase burocrática, só promovendo oficinas e elaborando projetos. A tenda está em reforma. Coisas do picadeiro…

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas