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Um plano para arborizar a cidade

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ARBORIZAÇÃO - Plano prevê recuperação do espaço verde perdido nas últimas duas décadas com o crescimento horizontal da cidade
Mesmo Natal sendo uma das menores capitais do Nordeste, com 170 Km², a área verde da cidade é bastante diminuta. A região possui cerca de 16 milhões de metros quadrados de área verde, onde mais de 12 milhões pertencem ao Parque das Dunas, ficando o restante para praças, bosques, canteiros centrais e áreas de loteamento e conjuntos habitacionais. Para minimizar esse problema de arborização, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente Urbanismo (SEMURB) está desenvolvendo o Plano de Arborização para Natal.

A responsável por esse planejamento, do Setor de Arborização da SEMURB, a arquiteta Maria Cândida Cerqueira, explica que este é um plano de gestão, o que quer dizer que o projeto se baseia em várias e longas etapas para a arborização urbana. A primeira etapa teve início em 2004 com o levantamento das áreas verdes e praças públicas da cidade. “Foram analisados quantitativamente todos os 36 bairros de Natal, onde foram marcadas cerca de 200 áreas verdes e praças”, explica Cândida.

A partir dessa noção, em 2005 começaram a fazer um inventário qualitativo de algumas regiões, analisando todos os vegetais em seu aspecto fitosanitário, medidas físicas, entre outros pontos. “Até agora poucos bairros e conjuntos tiveram toda essa análise concluída, como Ponta Negra, onde será iniciado o próximo passo do Plano, agora no período de chuvas com o plantio de novas mudas onde achamos que não são suficientes as árvores já existentes”, diz a arquiteta.

Serão utilizadas plantas nativas da área, de médio a grande porte, como Angico, Gameleira, Ipê Roxo, Caribeira, Jucá, que têm resistência e longevidade sem muitos cuidados. Além disso, são também analisados os espaços disponíveis correlacionados às espécies existentes e a quantidade delas. “Nossa parceira, a ONG Horto Pitimbu, está fornecendo as mudas. Faltam alguns ajustes internos e o começo de abril com as chuvas para começarmos a plantar”, prossegue Maria Cândida.

Ela afirma ainda que, apesar de iniciar os serviços na Zona Sul, com Ponta Negra, o projeto será aplicado nos locais que forem sendo inventariados de acordo com o tempo. “As zonas Oeste e Norte são os locais onde mais ocorrem invasões das áreas inicialmente verdes com construções urbanas. Mas isso acontece por questões sociais, que não cabe a nós analisar, e iremos trazer a arborização a todos os locais que forem sendo completamente analisados, independente da zona na cidade”, afirmou a responsável.

O Plano, portanto, deve ter uma conclusão no seu estudo detalhado das espécies arbóreas, ou seja, a finalização do inventário de cada área verde, para início da arborização em cada um desses locais. São diversas e estão espalhadas na cidade essas áreas, desse modo, não se pode colocar um prazo final estabelecido para toda a cidade. “Esse trabalho é minucioso e requer muitos detalhes. Instituições estão ajudando a equipe, que conta com três profissionais e dois estagiários competentes, que vão a campo três vezes na semana. Além disso, temos que observar o equipamento usado, recolher dados e estudá-los para aplicar no plantio. Ainda temos o trabalho que realizamos constantemente aqui no Setor, como a educação e orientação ambiental que damos às comunidades” explica Maria Cândida.

Natal perdeu 21% de verde

Apesar do planejamento de arborização de toda Natal, muito também foi retirado nos últimos anos. Devido à expansão urbana horizontal da cidade nos últimos 20 anos, grande parte das áreas verdes foi sendo tomada pelas construções de concreto, totalizando uma diminuição de 21%. A Zona Norte foi a parte que mais teve perdas, com 37,1% de áreas menores atualmente, em comparação a 1984.

O estudante de geografia, James Luna, e o engenheiro civil, Glauber Richard estão realizando estudos acerca da variação térmica em Natal e boa parte do aumento da temperatura advém da menor cobertura vegetal. “As árvores são importantes para a absorção da irradiação, cerca de 70% é filtrado pelas folhas das plantas”, explica James.

O estudo é baseado em sensoriamento remoto, ou seja, através de imagens retiradas da cidade por satélites. Foram observadas grandes perdas, além de toda a Zona Norte, na Zona Oeste, especialmente no bairro do Planalto, com menor área dunar, na Zona Leste, na Ribeira e na Zona Sul, em Ponta Negra. O bairro que mais sofre é Nossa Senhora de Apresentação, onde a diminuição foi de 64,2%.

Com as menores áreas verdes, o aumento da temperatura e da irradiação solar direta, a sensação térmica que se sente é ainda maior e o número de doenças causadas pelos raios ultra-violeta também. A intenção do trabalho dos estudiosos é mostrar os problemas que decorrem, em parte, pelo pequeno número de vegetais. “Tem que se tomar cuidado com a poda indiscriminada, com a devastação, pois isso influencia, além da maior irradiação solar, no lençol freático, que não recebe mais águas da chuva, entre vários problemas”, finaliza James.

Atenção para as plantas nativas

O Parque das Dunas, segundo maior bosque de Mata Atlântica em área urbana do Brasil, possui uma grande biodiversidade. De acordo com a bióloga, assistente técnica do Idema e coordenadora das atividades do Parque, Maria Socorro Borges Faria, os cuidados com as plantas do local são muitos para a manutenção delas. Ao mesmo tempo, como quase todas as plantas são nativas da região, a natureza toma conta também.

“Nós plantamos mudas nativas, com cerca de 50 cm, apenas na época chuvosa. Desse modo, não é necessário haver uma irrigação e o tamanho delas já é suficiente para crescer bem”, diz Maria Socorro. Para tanto, também são usados adubos orgânicos mensalmente nas árvores, somente as cultivadas junto ao prédio do Bosque, até chegarem a um ou dois metros de altura. Depois disso, elas já estão aptas a crescer sem maiores cuidados humanos, apenas podas, retiradas de plantas parasitas, galhos secos ou ladrões da seiva de outras.

De 1997 até hoje foram plantadas mais de 500 mudas de espécies arbóreas nativas. “Nós fazemos apenas reposição de árvores mortas ou velhas, plantando mudas que são produzidas em nosso viveiro do Bosque. A intenção é mantê-lo como um bosque: reflorestar o que foi perdido dispondo as árvores de forma aleatória, e continuar com a preservação e forma paisagística do local”, justifica a coordenadora.

Maria Socorro indica que Natal tem um lençol freático bastante adequado às plantas nativas da mata Atlântica, que se fixam bem no solo. “Se a intenção é o plantio urbano para canteiros de avenidas, por exemplo, é indicado o cultivo de plantas exuberantes, como o ipê ou pau-brasil. Para o caso de sombreamento em estacionamentos, é necessário plantas com copas bem largas. O importante é usar mais espécies nativas que não necessitam de tantos cuidados, são resistentes, de vida longa e ainda são belas”, finaliza a bióloga.

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