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Uma agenda para o Brasil

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Aluísio Lacerda
Jornalista e advogado

Ulysses Guimarães, o “Senhor Diretas”, três vezes presidente da Câmara dos Deputados, e em décadas diferentes, repetia à exaustão que “o mal que dizima e desestabiliza a Nação só tem um nome e um diagnóstico – a ausência de democracia”. Durante o Governo Sarney, com quem mantinha relações tensas, jamais confundiu o papel de dirigente partidário e de ocupante da terceira cadeira na linha de sucessão presidencial. O protagonismo que defendia era a ação da classe política como um todo, e na defesa do país.

Há mais ou menos um mês, o economista Paulo Guedes, hoje ministro da Economia, certamente orientado por assessores, cometeu a primeira opinião na seara política, talvez tentando aproximar-se do parlamento que havia alfinetado em pelo menos duas oportunidades. O apelo de Guedes: “A classe política deve assumir o protagonismo pela aprovação das reformas”. Naquele instante o ministro da Economia estava a sugerir que a rejeição às pressões deveria ser enfrentada pelos congressistas e não pelo Executivo.

Na semana que abriu o mês de junho, o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, pautou o noticiário político com uma cobrança: “O Executivo não tem uma agenda formulada e o país está caminhando para o colapso social”.  Verdade, a crise é grave. No dia seguinte, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, disse que o governo federal não vai conseguir honrar o Plano Safra e o campeão de audiência Benefício de Prestação Continuada (BPC), se o Congresso não aprovar o pedido de crédito complementar antes de acesa a primeira fogueira junina.

Desde a redemocratização, em 1945, que o Brasil e seus agentes políticos avisam ao distinto público que estão arrumando a casa. Falta uma agenda para o Brasil. Paraibano de Campina Grande, o humorista Jessier Quirino resumiu bem o eterno discurso de metas, planos, programas e projetos, além das três promessas por minuto no seu famoso “Comício em beco estreito”. 

Falta agenda para tudo. Até para o direito ao diálogo. Como acelerar, por exemplo, os ganhos de produtividade se esse crescimento, para ser sustentável, depende de uma boa educação? Como definir uma agenda governamental, nos três níveis da federação, se esta envolve decisões sobre quais políticas públicas devem ser formuladas e quais devem ser deixadas de lato?

Em plena sucessão de Dilma Rousseff, um grupo de economistas ligados à oposição produziu o documento “Sob a luz do Sol: uma agenda para o Brasil”. Até Temer, o “vice decorativo”, em carta à companheira de duas eleições presidenciais, não assentou apenas queixas, adiantou formulações econômicas. Afinal, seu PMDB comandava seis ministérios.

É a vez de indagar: por que os congressistas não assumem a nobre missão de propor uma agenda para o Brasil? Em 2014, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sugeriu que os partidos políticos fossem “mais autênticos e menos corruptos”, e defendeu que o Brasil esteja mais aberto para utilizar elementos da democracia direta. “Senão, um lobby ou um movimento pode falar mais alto”.

Pode ser a saída. A sociedade moderna tem voz e quer ser ouvida.

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