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Uma arma carregada com o futuro

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Ayrton Alves Badriyyah (*)
Colaboração para o Viver

É chegado o tempo em que Alice Ruiz pede socorro por todos nós, pois nada sentimos, se é que já vivemos outro tempo que não esse. Estamos na imobilidade, dela desviando-nos, apenas, quando o maior apelo é feito à instantaneidade: tudo ficou fadado às superfícies e “às mordaças que já trazemos ao nascer”.

O livro é interessante para quem quer conhecer a poesia brasileira
                         O livro é interessante para quem quer conhecer a poesia brasileira

Por sua natureza de antiproduto; de antimercado; pela escassez de público; por ser linguagem se desdobrando sobre a linguagem, sendo envolvida numa inutilidade por nossa sociedade prático-imediatista, pois tenta quebrá-la; a poesia subverte os dias, sendo um sinônimo de revolta.

Num cenário em que a palavra “revolta” aparece frequentemente, sendo repetida tantas e tantas vezes para uma surdez monumental, a antologia 50 POEMAS DE REVOLTA (Companhia das Letras, 2017) é uma publicação indispensável para quem deseja conhecer um pouco mais da poesia brasileira. Composta por 34 poetas de diferentes tempos e geografias, dispostos em uma ordem que transmite a ideia de unidade geracional, o aqui e o agora, é uma porta de entrada para o entendimento da poesia como a ferramenta que devolve o humano ao humano.

Poetas jovens entre produções já consagradas no cânone e um objetivo: espalhar o fogo dos nossos órgãos pelas estradas do país deixando suspenso o cheiro de denúncia, como parece sugerir os poemas selecionados de Drummond, Gullar e Bruna Beber.

Revolta das mulheres, dos negros e de todos os excluídos e marginalizados. Afinal, tudo cabe no poema: o preço do feijão, o incêndio, o desmatamento, os transgênicos, o ofício de repensar a tarefa de pensar o mundo, o PIB, os 200 mortos da Somália, o menininho que foi baleado na cabeça e disse ao pai que tinha sido picado por um inseto… São poemas que ora nos apontam a amargura, ora a esperança, por vezes o humor, sempre reafirmando a poesia como uma “arma carregada com o futuro”, na definição de Gabriel Celaya. De Mário de Andrade a Adelaide Ivánova, são 143 páginas de revolta, que nos dão revolta, que nos devolvem a fome.

* Ayrton Alves Badriyyah é poeta e tradutor. Contato: [email protected]

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