sexta-feira, 19 de abril, 2024
32.1 C
Natal
sexta-feira, 19 de abril, 2024

Uma escolha rara que merece a atenção

- Publicidade -

Por Luiz Carlos Merten

Cannes — Se não é inédito, é suficientemente raro para merecer atenção – a Palma de Ouro outorgada ao filme tailandês “Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives”, de Apichatpong Weerasethakul, não foi apenas uma celebração do cinema de autor pelo júri presidido por Tim Burton. Na coletiva de apresentação do seu colegiado de colaboradores, o diretor de “Alice no País das Maravilhas” havia dito que assumia a função sem preconceitos. Filmes políticos, humanistas, experimentais, ele estava aberto a tudo. Só não queria ficar (re)vendo a produção de Hollywood, à qual está acostumado.

Tim Burton, antiamericano? Todo mundo se surpreendeu com a seleção do Festival de Cannes deste ano. Apenas um filme dos EUA participou da competição -”Fair Game”, de Doug Liman. Os demais 18 eram europeus, asiáticos, até um africano. Havia 13 anos a África não participava da disputa pela Palma de Ouro. Como Burton foi anunciado presidente do júri em fevereiro e a seleção saiu em abril, terá ele influenciado o diretor artístico Thierry Frémaux?

Monsieur Frémaux gosta de dizer que é imune às pressões políticas e que as afetivas são mais difíceis de gerenciar. Tim Burton pode não tê-lo influenciado, mas foi o presidente certo para uma seleção como a deste ano. Ela não foi perfeita – Frémaux diz que a seleção tem a cara da oferta do ano; não pode fazer melhor do que os filmes que lhe são ofertados. O júri ‘quase’ foi. Tim Burton premiou o cinema do mundo. Nenhum norte-americano, nem mesmo um filme de língua inglesa. O favorito da maioria da crítica, Mike Leigh – por “Another Year” -, foi ignorado ou esquecido. O júri teve de compor, para acomodar certos prêmios.

Errou feio em algumas categorias – melhor mise-en-scène (direção) para Mathieu Amalric, por “Tournée”? -, mas tudo lhe será perdoado por haver atribuído uma Palma histórica. A cerimônia de encerramento, de resto, teve forte cunho político Começou com a maitresse de cérémonie (apresentadora), Kristin Scott Thomas, que apontou a poltrona vazia de Jafar Panahi e lembrou que ele estava havia nove dias em greve de fome numa prisão dó Irã. A melhor atriz, Juliette Binoche – por “Copie Conforme”, de Abbas Kiarostami -, inflamou-se, levantou uma placa com o nome de Panahi e disse que os países precisam de seus artistas. “O Irã precisa de Jafar.” Steven Spielberg, solidário, telefonou dos EUA para se integrar à campanha pela libertação do diretor de ‘O Círculo’.

Elio Germano, de “La Nostra Vita”, de Daniele Luchetti, que dividiu o prêmio de interpretação masculina com Javier Bardem – astro de “Biutiful”, de Alejandro González-Iñárritu -, aproveitou o clima de protesto e dedicou seu prêmio à Itália e aos italianos, que tentam construir um país melhor, ‘apesar de nossa classe dirigente’.

Os premiados

PALMA DE OURO, MELHOR FILME – “Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives”, de Apichatpong Weerasethakul.

GRAND PRIX – “Des Hommes et des Dieux”, de Xavier Beauvois.

PRÊMIO DO JÚRI – “L’Homme Qui Crie”, de Mahamat-Saleh Haroun.

MISE-EN-SCÈNE (DIREÇÃO) – Mathieu Amalric, por “Tournée”

MELHOR ATRIZ – Juliette Bionoche, por “Copie Conforme”, de Abbas Kiarostami.

MELHOR ATOR (DIVIDIDO) – Javier Bardem, por “Biutiful”, de Alejandro González-Iñárritu, e Elio Germano, por “La Nostra Vita”, de Daniele Luchetti.

MELHOR ROTEIRO – “Poetry”, de Lee Chang-dong

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas