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Uma lenda

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Vicente Serejo
Nada é tão verdadeiro como as velhas lendas de família já lavadas pelas águas do tempo e das saudosas afeições. Conta a minha mãe, hoje com 92 anos, que muito jovem, quando tinha as dúvidas da quase adolescência, ouvia seu pai, meu avô. Um maranhense chamado Alberto Mattos Serejo, de bons modos e bons costumes, homem tido como corajoso e inteligente, como é muito dado àquela saudade que adoça os que morrem cedo e por isso viram personagens na vida real.  
Sua herança, aliás, está aqui, nesta caverna de livros velhos: um estojo de bronze, com um belo dragão em alto relevo; uma caixa de cedro, coberta de tartaruga, dois cartões timbrados a ele dirigidos – um de Câmara Cascudo e outro de Mário Câmara, e uma pequena placa de ágata, letras azuis sobre o fundo branco, em forma de escudo, com seu nome que pregava na frente das casas onde morava, e poucas fotos. Vivem aqui e contam uma história pessoal, pequena e sem glória.  
O velho e surrado nariz de cera que deslocou o centro da questão para circunstanciar a vida, foi para lembrar o que conta até hoje a minha mãe. Ouvia sempre do seu pai o mesmo e terno conselho: só faça o que pedir seu coração. Décadas e décadas depois, se minha mãe tem 92 anos, encontro na banca de jornais a edição da revista ‘Vida Simples’, com matéria de capa que anuncia assim: “Ouça seu coração”. E ilustrada com aquele telefone feito de latas ligadas por um cordão.
Ainda informa a capa alaranjada da nova edição: “Quando abrimos um canal de escuta com a intuição, percorremos caminhos mais verdadeiros e criamos uma relação íntima com a nossa essência”. É interessante notar que na abertura do texto a sua autora, Débora Gomes, principia com uma velha lembrança doméstica: o caderno de receitas de sua avó. Receitas que ninguém nunca conseguia repetir como ela que apenas explicava, calma: “Eu só vou colocando tudo como sinto”.  
É a partir desse sentir íntimo e pessoal que a autora chega ao célebre psicanalista Carl Jung “quando dizia sobre cada um de nós ter a sabedoria e conhecimento intuitivos”. Ou, de forma simplificada: “a possibilidade que temos de conduzir nossos próprios caminhos ouvindo chamados de uma espécie de voz interna – sempre atenta em sua forma de guiar nossas ações e apontar direções melhores”.  De uma simples receita, na cozinha, até nas decisões pessoais mais difíceis. 
Ela lembra ser necessário que cada um conheça a si mesmo, com um autoconhecimento que torne possível ouvir seu mundo interior, na medida em que “não existe a separação entre o mundo interno e o externo. Um depende do outro para existir”. Aliás, a psicologia alerta contra o perigo de não se conhecer a si mesmo. E escreve: “Para mim, a intuição é a voz mais pura, mais sincera que a gente pode ter dentro de nós mesmos”. Na dúvida, pois, ouça seu próprio coração. 
LUTA – Ninguém negue, só por negar: o ex-governador José Agripino é candidato a senador em 2022. E tem dito que não teme disputar com o Rogério Marinho e Fábio Faria, os hoje ministros. 

EFEITO – Na avaliação de um velho e fiel agripinista, os desgastes de Jair Bolsonaro são fortes e duradouros em razão da força coletiva da pandemia. Saída será um discurso de centro democrático. 

RISCO – O desafio, no Brasil que hoje tem um terço fiel a Jair Bolsonaro, é separar o discurso do centro-democrático do Centrão que transforma a política em balcão de negócios com Bolsonaro. 

ÁGUIA – É preciso ser justo com a sagacidade e habilidade do ministro Rogério Marinho. Não é um pica-pau, como disse o colega Paulo Guedes. É uma águia. Certeira como toda ave de rapina. 
VIXE! – Foi muito grosseiro o ministro Paulo Guedes ao acusar o ministro Rogério Marinho de batedor de carteira. Mesmo inconformado por ver a criatura virar-se contra o seu próprio criador. 
AFRO – Thiago Gonzaga reúne seus ensaios sobre a literatura que hoje a academia chama de afrodescendente. Como os negros ocuparam espaço na vida intelectual do Rio Grande do Norte.

BRILHO – Vivo, Oswaldo Lamartine teria lido o artigo do padre João Medeiros Filho sobre a Basílica de Acari e repetido a sua frase de sempre: “Esse padre abusa do direito de ser inteligente”. 
SAIBA – No livro “Violoncelo, um compêndio brasileiro”, tem entre seus autores um capítulo do professor Fábio Presgrave, da Escola de Música da UFRN. Edição da federal de M. Grosso do Sul.
VÍCIO – Quando o poder público aceita garantir bonificações a um prestador de serviço público para que preste o serviço lucrativo que a lei obriga a fazê-lo, incentiva o vício. Pior: corre o risco de perder a altivez. O poder público representa a sociedade e todos os que nela vivem e trabalham. 
FERRO – Os procuradores da Lava Jato pedem a anulação do julgamento que considerou Sérgio Moro parcial. É legítimo. Mas eles não achavam quando suas vítimas pediam a mesma coisa nos tribunais superiores e iam às redes sociais contestá-los. Quem com ferro fere com ferro será ferido.
MORTE – Da antropóloga Mirian Goldenberg transcrevendo trechos da despedida de Gilberto Dimenstein, com um câncer fatal, sobre a vida e a morte, agora que tantos provam o gosto amargo do fim: “A clareza maior da morte é uma dádiva. Pode ser o começo de um belo fim de vida”.

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