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Uma trupe de arte e tradição

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Yuno Silva
enviado a São Paulo

Enquanto sutileza, equilíbrio, técnica e precisão dominam o palco, a plateia é bombardeada por fartas doses de adrenalina e uma certa apreensão paira sobre olhares incrédulos diante de performances espetaculares. Assim é “Sky Mirage 2”, espetáculo do Circo da China que estreou na última quarta-feira (20) no Brasil. O país é a porta de entrada para a turnê Latino Americana da trupe, que também passará pela Argentina, Chile e México. A série de apresentações iniciada no teatro Credicard Hall em São Paulo, se estende por outras sete cidades até o mês de setembro, quando aterrissa em Natal entre os dias 21 e 25 no Teatro Riachuelo.
Espetáculo Sky Mirage 2, do Circo da China, abriu na última quarta, sua turnê no Brasil e chega a Natal dia 21 de setembro, para uma temporada de quatro dias no Teatro Riachuelo
A montagem deste novo espetáculo levou um ano para ser finalizada, teve estreia mundial em novembro de 2010 e o enredo que costura as apresentações trata da busca da Fênix (pássaro mitológico que renasce das cinzas) pela luminosidade do sol, cuja intenção é criar um único e harmonioso elemento a partir desse encontro. A agilidade na troca dos atos, através de um jogo elaborado de luz, garante a atenção do público durante os 100 minutos de apresentação.

Legítimos representantes da arte milenar chinesa, lugar onde o circo acumula três milênios de tradição, os 56 artistas que estão no Brasil se revezam em performances acrobáticas que contrariam as leis da gravidade e deslumbram o público com plasticidade bem resolvida – tanto figurino como cenários. Carro chefe do espetáculo que teve investimentos da ordem de cinco milhões de dólares, a acrobacia pontua o repertório de 15 atos e se funde a outras linguagens como balé aéreo, contorcionismo, malabarismo e equilibrismo. “O circo faz parte da nossa cultura e sua origem remonta os tempo dos grandes imperadores, por isso temos um elenco de jovens que iniciaram seus estudos no picadeiro ainda na primeira infância”, disse An Ning, presidente do Circo da China desde 1997.

Contorcionista une a tradição do circo oriental com tecnologiaEscola Chinesa

Segundo An Ning, na China, crianças a partir de seis anos começam a aprender os primeiros truques em uma rotina puxada de exercícios e treinos que duram, no mínimo, sete anos. “Esse é o tempo médio para se tornar um artista profissional”, explica. Para o presidente, a tradição do circo é perpetuada no país asiático através de escolas especializadas, que funcionam em sistema de internato, onde os alunos dedicam metade do período aos estudos tradicionais e a outra ao aprendizado circense. “Anualmente realizamos seleção em várias cidades chinesas para recrutar novos talentos, além de também mantermos nosso própri3o centro de treinamento. Inclusive temos 12 artistas menores de 16 anos nesta temporada”, complementa.

Apoios

Esta é a sexta temporada do Circo da China no Brasil, mas, apesar de não ser a maior em número de artistas, se destaca pela quantidade de equipamentos utilizados no palco. A passagem do grupo pelo Brasil tem produção da Time for Fun (T4F) e patrocínio do Governo Federal, Lei de incentivo do Ministério da Cultura, Redecard e Ericsson. Para divulgar a turnê verde e amarela, que passará por São Paulo, Ribeirão Preto (SP), Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Recife e Natal, a promotora T4F convidou jornalistas dessas cidades para participar de entrevista coletiva e acompanhar a noite de estreia do espetáculo “Sky Mirage 2” na capital paulista.

Diretor do Circo da China, An Ning recebe Hebe Camargo na estreia em São PauloEntrevista

“A tendência dos circos é se desvincular do poder público”

Com o auxílio de uma tradutora, An Ning, presidente do Circo da China conversou com a imprensa durante coletiva realizada em São Paulo, pouco antes da estreia brasileira do espetáculo “Sky Mirage 2” no último dia 20 (quarta):

Ning, qual a principal diferença entre os circos ocidental e oriental?

Uma das principais características do circo oriental é a utilização de objetos comuns do cotidiano como baldes, cordas, cadeiras, pratos e chapéus nos números. Diferente do circo ocidental, cuja tradição está alicerçada, principalmente, na presença do palhaço e do mágico. Até bem pouco tempo também era comum vermos apresentações de animais amestrados nos grandes espetáculos ocidentais, prática que gradativamente vem sendo substituída por números mais elaborados de malabarismo, contorcionismo e equilibrismo, elementos desenvolvidos da arte circense oriental.

Houve mudanças no perfil dos espetáculos orientais?

Sim, posso dizer que hoje temos 20% de tradição e 80% de modernização. Desde 1986, quando estivemos na Europa para nossa primeira turnê internacional, estamos em constante processo de internacionalização. Atualmente temos palhaço no palco e sempre realizamos uma espécie de consultoria para destacar quais os números que melhor funcionam em determinada localidade. Estamos em busca do equilíbrio para agradar todos os tipos de público. Mas, apesar de adotarmos um perfil mais ocidentalizado, a essência permanece oriental.

Roda Gigante: performances de tirar o fôlegoComo vocês se apresentam em teatros com estruturas diferentes, há a preocupação em adaptar o espetáculo para cada palco? Em Natal, por exemplo, a altura do pé direito do Teatro Riachuelo pode prejudicar a performance da roda gigante.

Essa é uma preocupação recorrente, por isso temos quatro números reservas além dos 15 programados.

Esse número especificamente (da roda gigante), onde os artistas se apresentam a cerca de 12 metros de altura sem rede de proteção ou cabos de segurança, gera certa ansiedade no público pelo risco que ronda os artistas em cena. Como o elenco lida com o erro? Há médicos na equipe?

Sim, viajamos com médico no grupo, mas é importante frisar que o número só parece ser perigoso. Os artistas fazem isso há muito tempo, treinaram muito (com equipamentos de segurança) antes de se apresentar no palco. Sobre lidar com falhas: seguimos a máxima da tentativa e erro. Se não deu certo na primeira vez, começamos de novo, e de novo, e de novo. É um trabalho que requer muita disciplina, treino e paciência.

Os artistas são remunerados. Há relação entre o Circo da China e o governo chinês?

Todos recebem salários, é um trabalho como outro qualquer e funcionamos como uma empresa. Antes da abertura de mercado, o governo bancava a produção, agora a tendência geral dos circos é se desvincular do patrocínio público. Todos têm seguro saúde, de vida.

No Circo da China também há a tradição familiar vista nos circos ocidentais?

Existe essa situação, mas a presença de famílias circenses era mais comum no passado. Hoje as crianças aprendem na escola e só os mais destacados se tornam profissionais. Temos artistas no elenco com 12, 13 anos, que passam de três a quatro meses em turnê, por isso sempre viajamos com professores, médicos – inclusive mantemos nosso próprio centro de treinamento em Shenyang, cidade localizada na região nordeste da China.

É notório o prazo de validade na carreira circense, principalmente os artistas-atletas, que aos 40 anos já estão se aposentando. Qual o futuro dessas pessoas?

Alguns viram professores, outros técnicos, são lideranças dentro do circo e fazemos questão de procurar absorver essas pessoas altamente qualificadas.


Giant Wheel, ou roda gigante – número que o Circo da China traz para Natal RN em setembro de 2011. As imagens foram captadas durante entrevista coletiva no no Credicard Hall em São Paulo no dia 20 de julho. Este vídeo dá uma dimensão da complexidade e do risco da performance.


Hoop Diving (literalmente mergulho no aro) – note que, para os chineses, tudo é uma questão de tentativa e erro.


Silk (literalmente seda) – leveza e equilíbrio.


Foot Juggling with Drum, ou malabarismo com tambores – tradição oriental e sincronia.

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