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Uma viagem pelas letras potiguares

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Recebi o seguinte e-mail de um leitor: “Carlos, logo cedo li tua coluna, que ficou ecoando enquanto cumpria minhas tarefas. O encanto da leitura é o que você escreveu. Agora, numa brecha de tempo, escrevo para dizer: Lerei ‘Nunca é demais sonhar com o impossível’ para minha filha Maria Cecília, 9 anos. Recomendarei pros outros filhos, já adultos. Enviarei aos amigos.  Procurarei o livro. Darei livros, sempre dou. Ler é um presente. Grato pelo belo texto, Varela Cavalcanti”. Para mim este foi o melhor presente de Natal.

Para a entrada de Ano Novo quero recomendar a leitura de Belle Époque na Esquina, de Tarcísio Gurgel, Edição do Autor, 430 páginas, sem preço definido. Faz mais ou menos uns dez anos que venho lutando para escrever um romance sobre os mais de 400 anos desta cidade Natal em que vivo há mais de 20 anos, e que me acolheu com tanto carinho e me deu régua e compasso. Quando eu pego um livro lindo desses como o de Tarcísio Gurgel me dá vontade de jogar o meu no lixo, cara. Mas logo refreio meu gesto. Espere, aqui não temos um romance, temos um estudo aprofundado de uma época, sendo que a linguagem pode ser desfrutada como a de um romance. O livro de Tarcísio nasceu como tese, mas como diz Sanderson Negreiros: “Esta tese – que perdeu a aura de ser mais uma tese – transformou-se em um livro denso, cursivo e profundo, com o toque inesquecível de quem já escreveu histórias de ficção, acontecidas na cidade mítica de Macatuba – com todas essas virtudes, Tarcísio Gurgel conseguiu uma trajetória rica na história potiguar”. Só esta frase já me exime de comentar o livro. Mas vou comentar.

O livro começa com uma contextualização, porque falar em Belle Époque em Natal é dar um nó no tempo. As datas não batem e Tarcísio é esperto, sabe muito bem disso. O leitor fica então sabendo o por quê do anacronismo e fica pronto para entrar na grande viagem pela ideias de um grupo de jovens intelectuais que conseguiram colocar Natal no mapa do Brasil sem derramar nenhuma gota de sangue, mas muita tinta.  É, um dia Natal também quis ser Paris, a exemplo do Rio de Janeiro e outras grandes capitais brasileiras.

Mas antes quero fazer umas observações periféricas. O livro é graficamente lindo e o leitor terá grande deleite logo na leitura das orelhas feitas com capricho por Woden Madruga. Depois da introdução, o leitor é novamente brindado com uma coleção de fotos históricas da mais alta qualidade. Só então estará pronto para o espetáculo que Tarcísio nos reserva. Então a história dá lugar à cultura. Um grupo de jovens liderados por Pedro Velho chegam da metrópole para mudar a face da velha província potiguar. Um sopro de modernidade varre a capital do Estado. Os nomes e personagens se alternam ao sabor da prosa de Tarcísio e são de dar inveja aos novos governantes desta pobre cidade do século 21. O mais destacado de todos é o grande mecenas das artes Alberto Maranhão. Este homem do século 19 acreditava piamente que a cultura era o melhor caminho para o desenvolvimento, coisa que os atuais dirigentes desconhecem soberbamente.

Às vezes, quando leio estudos tão sérios como este de Tarcísio Gurgel sobre a cultura potiguar, sinto vontade de largar tudo e me embrenhar pelo mato, ou me mudar para uma praia distante, para longe do que acreditamos ser civilização. Mas preciso continuar aqui em minha pequena trincheira para que eles, os bárbaros, não tomem conta de tudo. Lendo o livro de Tarcísio vemos como Natal já foi mais audaciosa, vibrante, moderna. Isso no campo das artes. Não estou falando dos costumes.

E essa relação tão intensa de uma cidade com seus jornais. Natal sempre foi um lugar de muitos jornais. Não entendo muito bem isso, pois sei que o número de leitores nunca foi grande e cai exponencialmente a cada dia. Aqui você fica por dentro de alguns momentos de jornais importantes como A República, que foi assassinado pela inépcia de alguns políticos; depois a crítica literária nos jornais potiguares; a presença de Cascudo, grade demais para uma província…

Detalhe interessante, apesar de ter um caráter definitivo, este livro, mais do que nunca, abre veredas para novos estudos sobre as letras potiguares.

Mas não há ilusões aqui. A bom tempo Tarcísio lembra ao leitor que Natal não era possuidora de malditos dândis como Baudelaire, andando pelos bulevares inexistentes em Natal. Mas havia gente esquisita como o poeta Abner de Britto. Pois bem, infelizmente o livro de Tarcísio Gurgel é grande demais para este meu pequeno espaço. Ademais não quero tirar o leitor o sabor da leitura destas páginas cheias de informações e preciosidades.

Neste final de ano, pense um pouco mais em Natal, em como esta cidade tem se degradado e em quanto ela já pensou que seria  Paris.

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