Professores do Departamento de Infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (DINF/UFRN) realizaram uma reunião e apresentaram recomendações, com base nas evidências científicas disponíveis, a serem seguidas pelos médicos e comunidade acadêmica para o tratamento de pacientes com covid-19. O grupo de professores aprova o uso do medicamento dexametasona, que atua no sistema imune.
Créditos: Magnus Nascimento
Diretor do Departamento de Infectologia da UFRN, Kleber Luz chama atenção para uso de remédios

“Um ensaio clínico sugere que baixa dose dexametasona (6 mg/dia) tenha benefício no manejo de pacientes graves, com necessidade de oxigênio suplementar”, destaca documento publicado após a reunião dos infectologistas realizada no dia 16 de julho. Baseados no uso em pacientes graves ou no contexto de ensaios clínicos randomizados e aprovados pelas agências regulatórias, os especialistas da UFRN também admitem o uso de imunoterapia, através de inibidores, imunoglobulina anti-SARS-CoV-2 ou plasma de convalescente.
“Vários estudos reforçam o posicionamento. Um dos mais importantes foi o publicado no New England Journal of Medicine, no dia 16 de julho, que reforça a utilidade, ainda que pequena, da dexametasona. É um corticoide que impacta na sobrevida das pessoas com covid grave”, citou o professor Kleber Luz.
Outra recomendação é a do uso de anticoagulantes. “As evidências existentes sugerem que todos pacientes internados devem receber profilaxia antitrombótica. Anticoagulação plena deve ser iniciada tão logo surjam sinais clínicos e/ou radiológicos de tromboembolismo”, afirma a nota dos acadêmicos.
A UFRN está envolvida em estudos para desenvolver medicamentos que possam inibir, ou diminuir, a atividade inflamatória em pacientes com covid-19. “Quando a pessoa tem a covid, além da replicação viral, entra em um processo inflamatório. Essa droga visa combater essa inflamação que posa colaborar para o mau prognóstico das pessoas”, explica Kleber
Desaprovados
De acordo com a maioria dos profissionais, não há evidência de efetividade do uso de drogas como ivermectina e cloroquina no tratamento, ou na prevenção à infecção pelo novo coronavírus. A primeira reunião entre os professores do Dinf aconteceu no dia 7 de julho, e uma atualização foi feita no último dia 16. Na primeira data, todos os professores estiveram presentes, já na atualização, apenas dois especialistas não compareceram.
Segundo documento divulgado após a atualização, “não há dados na literatura que justifiquem o uso de qualquer fármaco para evitar a infecção pelo SARS-CoV-2 ou ainda, que possa impactar na gravidade da doença antes que ela se estabeleça, como por exemplo a ivermectina”. Sobre a Profilaxia Pós-Exposição, tratamento que visa evitar o estabelecimento de sintomas após contato com o vírus, o posicionamento dos professores é de que “os resultados até agora apontam para ineficácia desta medida, como por exemplo, o uso da hidroxicloroquina para este objetivo”.
O professor Kleber Luz, Chefe do Departamento de Infectologia, cita um estudo importante sobre o uso da hidroxicloroquina publicado no New England Journal of Medicine, que contou com a participação de três professoras do DINF/UFRN: Eveline Milan, Manoella Alves e Mônica Bay. A pesquisa comparou três grupos de indivíduos nos primeiros sete dias de sintomas. Um grupo não usou nenhum medicamento, outro usou apenas a hidroxicloroquina e o terceiro utilizou a hidroxicloroquina, associada a azitromicina.
“Nesse estudo, não mostrou diferença. Então não adianta utilizar a cloroquina sozinha ou com a azitromicina, porque não mostra diferença na evolução clínica das pessoas. Esse studo mostrou também que a cloroquina usada em associação com a azitromicina, não mostrou um grande número e efeitos colaterais sobre o coração, que era uma coisa que se temia, mas não foi o objetivo”, detalhou Kleber Luz.