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Vai para a estante

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Yuno Silva
Repórter

Colaborou: Cinthia Lopes,
editora

Leitores, escritores, poetas, livrarias, bibliotecas, editores, festivais e livros, muitos, sempre! O ano de 2013 contabiliza saldo positivo para a literatura potiguar, e, como diz a máxima do radialista carioca Apolinho, 77, “entre mortos e feridos, salvaram-se todos!” A temporada acumulou bons lançamentos como uma série sobre Newton Navarro, a retomada do Encontro Natalense de Escritores que incorporou o autores de língua portuguesa e se transformou no Festival Literário de Natal (Flin), o fortalecimento de selos literários como os mossoroenses Sarau das Letras e Queima Bucha e o ‘voo’ internacional de editoras do RN na Feira do Livro de Frankfurt, Alemanha. O encontro inédito de Marina Lima com o irmão Antônio Cícero, durante o Flin, também merece destaque.
Ensaios biográficos, incluindo o de Homero Homem, foram destaques
A quinta edição do Festival Literário da Pipa (Flipipa) acabou não acontecendo, mas o alternativo FlipAut! marcou presença no litoral Sul do Estado. O fôlego da gráfica e editora Manimbu (FJA) diminuiu e a Potylivros fechou as portas na Cidade Alta, em contrapartida os quadrinhos atravessam um bom momento. O lançamento das biografias de Homero Homem, Navarro, Jesiel Figueiredo e Carlos Alexandre; a edição bilíngue de “Rosa de Pedra” de Zila Mamede por Alexandre Alves; o início das obras de reforma da Biblioteca Pública Câmara Cascudo; os lançamentos dos Jovens Escribas e do Sebo Vermelho; a consolidação da Feira de Livros e Quadrinhos de Natal (FLiQ), também contribuíram com a alta produtividade do período.  A lista é extensa, registra mais altos que baixos, e como forma de traçar um panorama desse movimento no mercado literário Norte-riograndense, a reportagem do VIVER conversou com algumas figuras do cenário local que transitam entre os papéis de autores e leitores.

“Não sei se o público é apenas ouvinte ou também leitor, é um caso a se estudar, mas os espaços para o debate literário estão cada vez mais sedimentados”, acredita Dácio Galvão, presidente da Fundação Capitania das Artes. Para o gestor, os festivais passaram a fazer parte da vida cultural do brasileiro, inclusive do natalense. “São eventos que extrapolam a indústria e trazem o paradoxo que há entre as estatísticas sobre o índice de leitura e o interesse por literatura. Por isso a importância do autor partir para o debate, para o corpo a corpo”.

Festivais, livros e projetos em prol da leitura

Flipipa em abril

Dácio explicou que o Flipipa não aconteceu este ano por dificuldades em articular parceiros, e por mudanças na gestão da Fundação Hélio Galvão – instituição responsável pela realização do evento. “Há a possibilidade do Flipipa ser realizado em abril, mas para isso temos que ter gente do trade turístico em Pipa interessada, empenhada. Ainda temos poucos empresários sensíveis ao projeto”, lamentou. “Não dá pra ficar apenas no sonho e no gostar, chega uma hora que cansa sair de porta em porta pedindo apoio”. Com relação as leituras, Dácio Galvão destaca a biografia “Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo”, de Mário Magalhães. “Esse livro tem um peso significativo para a história, ilumina um personagem que estava um tanto esquecido e que teve papel fundamental na história recente do país. Marighella personifica a resistência armada frente à ditadura Militar”. De lançamento locais, ele destaca o quarto volume de “Cartas dos Sertões do Seridó”, de Paulo Balá, e “A cidade do Natal e as histórias do nunca”, de Gileno Guanabara.

Livro que nasce clássico

O sebista e editor Abimael Silva, do Sebo Vermelho, tem, praticamente, uma ‘máquina’ de lançar livros. Em 2013, mais de uma dezena chegaram ao mercado, entre eles “As Sátiras em Quadrinhos de Zé Areia”, de Carlos Alberto de Oliveira. “Lançamos também algumas pérolas como a primeira biografia de Luiz Gonzaga, escrita por Zé Praxédi em 1952 e que ainda não tinha sido reeditada; e um livro sobre o cangaço de Lampião (1926) do paraibano Érico de Almeida”.

Para Abimael, o livro de Moacy Cirne, o recém-lançado “Seridó Seridós”, antologia de textos e memórias “que já está entre os clássicos”. Ele ainda lembra do livro em comemoração dos 70 anos de Falves Silva, e “Na Tal cidade do humor”, de Cellina Muniz. “Muita gente pode ficar enciumada por não ter sido citada, mas foram muitos lançamentos este ano”, justifica. O sebista elogiou a retomada do ENE/EELP, que agora atende pela sigla Flin, e cita o novo título de Nei Leandro de Castro, “Pássaro sem sono” (Jovens Escribas) como um livro “que vale a pena ler”.

A escritora, dramaturga e atriz Clotilde Tavares joga no time dos leitores inveterados. “Este ano li muito – como sempre, aliás. Então, é difícil indicar um livro. Mas destaco ‘De gado e homens’, de Ana Paula Maia, uma história estranha, crua, cheia de vida e de morte”. Clotilde percebe uma retomada nas políticas públicas voltadas para a Cultura, “depois do desastre dos anos anteriores”, e sugere à gestão municipal que, ao lado dos ENEs e outros eventos, “fomente a produção literária com editais, prêmios e concursos. Precisamos de um trabalho sério de formação de leitores. De que serve as editoras locais estarem na Feira de Frankfurt se não conseguem chegar às escolas?”, questiona.

Navarros

“Os (quatro) livros sobre Newton Navarro, uma figura exuberante, são, para mim, os grandes destaques deste ano”, sentencia o poeta Lívio Oliveira. “Acredito que ainda dá pra fazer mais em homenagem à Navarro”. Sobre os Encontros e Festivais literários, ele considera uma alternativa viável para estimular a formação de novos leitores e escritores, mas acha que a programação do Flin, especificamente, precisa ser “mais enxuta” para melhor aproveitamento do público; também defende maior aproximação de músicos e escritores/poetas.

O poeta elétrico Carito Cavalcanti anda circulandopelo universo audiovisual, produzindo curtas e documentários, por isso destaca como leitura o livro “50 Anos Luz, Câmera e Ação”, do diretor de fotografia Edgar Moura. “Houve muitos lançamentos esse ano: a mais nova Jovem Escriba Regina Azevedo com seu livro de poesias ‘Das vezes que morri em você’, a biografia de Sheyla Azevedo ‘Navarro: um anjo feito sereno’, Moacy Cirne com seu ‘Seridó Seridós’, entre outros, estão na minha lista. O lançamento de ‘Crônicas de Nova York’ de Ana Célia também foi muito belo”, diz.

O jornalista Sandro Fortunato, que lançou um livro sobre o cinema do italiano Federico Fellini, também atravessa uma fase cinema. “Mas saindo disso, indicaria ‘O espetáculo mais triste da terra’, de Mauro Ventura, sobre o incêndio do Gran Circo Norte-Americano, em Niterói (RJ) em 1961. Daqui indico ‘Impressões Digitais – Escritores Potiguares Contemporâneos Volume I’, de Thiago Gonzaga, que tem o mérito de jogar alguma luz sobre a produção local através de uma série de entrevistas”.  Quanto ao movimento literário no RN, Fortunado enxerga momento de “grande ‘desova’: finalmente chegamos ao século 21 e percebemos as facilidades e benefícios da autopublicação”.

O jornalista paraibano André Cananéa, editor de Cultura do Jornal da Paraíba, também aponta a autopublicação como ponto forte de 2013. “As publicação no formato e-book também melhoraram, está mais diversificada. O ano foi sintomático para os livros virtuais”, garante Cananéa, que indica o livro “Barba Ensopada de Sangue” do gaúcho Daniel Galera.

Zila em inglês

“Li dois livros esse ano que recomendaria: ‘Corpúsculo num Plano’, de Daniel Liberalino, e ‘Cypherspunks’, que traz um estrato de conversas com Julian Assange sobre a luta pelo controle da internet”, disse o filósofo e escritor Pablo Capistrano. No quesito eventos, Capistrano destaca o projeto Ação Leitura, organizada pelos Jovens Escribas em parceria com o Sesc-RN. “Esse tipo de ação bem importante porque foca no leitor e não apenas no mercado ou nos escritores”. Ele também ressalta a tradução da obra “Rosa de Pedra”, de Zila Mamede, para o inglês feita por Alexandre Alves, “iniciativa fundamental para ampliar os horizontes da aldeia”.

Ana César

Potiguar radicado em São Paulo, o escritor e editor da Publifolha Thiago Barbalho diz preferir ler atualmente os autores contemporâneos. “É uma leitura que tem muita leveza porque não carrega o peso dos livros consagrados pelo tempo, daqueles que todo mundo diz que a gente tem que ler. Participei do júri inicial do prêmio Portugal Telecom, então li algumas coisas novas”.

Na poética destaca Ana Cristina Cesar: “Estou acabando de ler o volume completo da sua obra poética, lançado mês passado pela Cia. das letras. Ana C. tem uma habilidade forte de nos envolver numa estranha intimidade graças aos seus escritos em forma de diários e anotações pessoais.” Thiago também enumera como o melhor da safra 2013 os livros O filho de mil homens – Valter Hugo Mãe; e A vida submarina – Ana Martins Marques.

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