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“Vamos abrir duas novas lojas da Riachuelo no RN”

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Entrevista – Flávio Rocha
Presidente das lojas Riachuelo e vice-presidente do grupo Guararapes

Nadjara Martins
Repórter

Quando o programa Pró-Sertão foi anunciado pelo Governo Estadual, em fevereiro 2013, a expectativa era criar 300 facções (pequenas confecções) têxteis no Seridó potiguar até 2017. As confecções tinham como objetivo fomentar a geração de empregos no interior e, de quebra, atender a demanda das principais gigantes do setor: Guararapes, Hering e RMNor Confecções (Grupo ZTEC). Passado um ano da criação do programa, 10% da meta foi atingida. A principal interessada no programa, a Guararapes, conseguiu contratar 30 facções. A empresa – que mantém a maior fábrica têxtil do Estado, hoje passando por encolhimento – ainda vê potencial no Pró-Sertão, mas chama a atenção para a necessidade de se vencer obstáculos frente a burocracia para a contratação das facções. Flávio Rocha, presidente das lojas Riachuelo e vice-presidente do grupo Guararapes, ressalta que o Pró-Sertão ajudaria a atender a demanda crescente do fast-fashion Riachuelo. A fábrica potiguar da Guararapes contribui com 20% da produção para a loja – chegou a participar com 90%, em conjunto com a de Fortaleza – e as facções são a saída para aumentar a produção. O sucesso do Pró-Sertão é imprescindível para o grupo manter as perspectivas de investimento no estado. “O que podíamos fazer era transformar essa inqüestionável vocação têxtil do RN, que tem condições de competir com a China. Até 2018, mais de 150 mil pessoas poderão estar trabalhando como fornecedoras do nosso grupo. Agora, se uma fatia significativa dessa oferta de empregos vai estar no RN, isso depende de vencermos os obstáculos atuais”, acrescenta Flávio Rocha.
Nesta entrevista à TRIBUNA DO NORTE, Flávio Rocha alerta para a perda de competitividade do Pró-Sertão, o quanto a produção está se deslocando para centros fora do Brasil e analisa as perspectivas para o setor têxtil em 2014. Rocha será o mediador do debate sobre perspectivas do varejo no seminário Motores do Desenvolvimento, que acontece na próxima segunda-feira (28), no hotel Sehrs, Via Costeira, a partir das 8h.
Flávio Rocha, presidente das lojas Riachuelo e vice-presidente do grupo Guararapes
Em 2012, o senhor afirmou publicamente que o RN era um ambiente hostil ao empresário. A chegada de novos programas, como o Pró-sertão, mudou a sua opinião ou ainda há um longo caminho a ser traçado?
A ideia do Pró-Sertão é genial, porque descentraliza o principal elo da cadeia têxtil, que é a costura. Cerca de 80% dos empregos ficam nessa área, pois os custos são bem menores, uma vez que você só precisa da máquina de costura, nem precisa de uma grande escala de trabalhadores. É mais ou menos o que vi na Galizia, noroeste da Espanha, que era a região mais pobre do país e se transformou com a chegada de uma empresa têxtil. Com o crescimento da Riachuelo, que duplicou as vendas nos últimos dois anos e vai duplicar novamente no próximo ano, aliado à vocação têxtil que o RN claramente tem, eu vi um potencial enorme, transformador. Capaz de mudar a região.

De quanto é o crescimento da Riachuelo e qual a participação do RN nesse crescimento?
Só o crescimento da Riachuelo vai gerar 150 mil empregos entre os seus fornecedores até 2018. Desses, 20 mil só em lojas. Cada emprego no varejo significa cinco empregos nos fornecedores. O RN teria condição de disputar uma parcela significativa desses empregos, mas esbarra claramente na burocracia. Há um nível de exigência para esses pequenos empresários (das facções) compatível com o que é exigido de grandes empresas, como a Guararapes.

Que tipo de burocracia? Quantas facções vocês já contrataram?
O número de facções que contratamos está muito aquém do que queríamos, que era 300 facções. Uma pena, porque era um projeto que tinha potencial de transformar o Estado, mas os empregos estão sendo transferidos para outras regiões, como o Paraguai. Acreditávamos que o Pró-Sertão seria um grande fornecedor da Riachuelo.

Quais as dificuldades que a Guararapes enfrenta hoje no Estado?
A Guararapes recebeu um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) de 40 itens que oneraram muito, que fizeram a fábrica do RN perder competitividade. Isso também tornou bem menos competitivo o projeto Pró-Sertão. Enquanto isso, a participação do produto importado tem crescido muito. Um exemplo é a participação do Paraguai, que consegue praticamente a mesma competitividade que a China, com o diferencial da agilidade, pois tudo em moda é muito perecível. A produção na China chega a 30% do custo da produção no RN.

Qual a participação hoje do RN na produção para a Riachuelo?
Infelizmente o nosso principal fornecedor se tornou o escritório de Xangai, que em 2010 representava 5% e hoje representa 35%. É uma pena. Boa parte desses empregos poderiam estar sendo gerados no RN. A Guararapes chegou a gerar 19 mil empregos no Estado, hoje conta com apenas nove mil. Até 2010, 90% da confecção da Riachuelo era própria, nas fábricas de Natal e Fortaleza. A Riachuelo vende, atualmente, 150 milhões de peças/ano, das quais a Guararapes participa, em média, com 40 milhões. Hoje isso representa menos de 35% da nossa demanda. Mesmo com o crescimento da Riachuelo, único cliente da fábrica Guararapes no RN, não houve aumento da participação. O Estado produz apenas 20%.
Por que a Guararapes enxugou a fábrica do RN, em 2012, e resolveu investir no Ceará? Vocês recebiam mais incentivos fiscais lá?
A fábrica de Natal perdeu competitividade pelos excessos normativos. O incentivo fiscal do Ceará é praticamente o mesmo do RN. O que tínhamos no RN era um certo assédio burocrático.

Vocês pensam em fechar a fábrica do RN?
Não. A produção está diminuindo, mas o que nos dói é que os nossos conterrâneos poderiam estar tirando um grande proveito do nosso crescimento, mas não consegue.

Mesmo com esse panorama, vocês pretendem investir no RN nos próximos anos?
A Riachuelo cresce cerca de 20% por ano. Em 2013, inauguramos 80 mil metros de Área Bruta Locável (ABL) em lojas, o que é quase um Midway de inauguração. Este ano vamos seguir o mesmo ritmo, e o objetivo é abrir pelo menos duas lojas no RN. Temos a previsão de abrir uma loja no Natal Norte Shopping e há planos de abrir uma loja no novo shopping (Praça das Dunas, em Parnamirim), mas isso ainda será negociado. Abertura de fábricas não há previsão, já que a única que temos não está atendendo a demanda.

Quando será a abertura do North Shopping e qual o investimento?
Ainda estamos fechando contrato, mas o custo médio de uma nova Riachuelo é de R$8 milhões. A previsão é que a loja tenha 2 mil m².

Não foge do público-alvo de vocês?
Não. A Riachuelo tem um espectro muito grande, e essa é a sua versatilidade.

De acordo com o instituto Inteligência de Mercado (IEMI), a estimativa é que em 2014 a receita do varejo têxtil cresça 8,1%. O número é inferior ao esperado para 2013, de 9,6%. Qual a expectativa do setor para 2014? Há previsão de melhora com a Copa do Mundo?
O varejo começou bem. Na seqüência de quase uma década, onde o varejo cresceu significativamente bem mais que o PIB, acredito que pelo o fato de não termos sido atingidos pelo aumento vertiginoso do Custo Brasil. O PIB cresceu cerca de 40%, nós crescemos 106%. O Custo Brasil é o inimigo número um do varejo. Temos que soltar as amarras da economia e entregar as decisões ao livre mercado.

O que é o Custo Brasil e como ele afeta o varejo?
Nós temos uma lei ambiental severa, o código tributário, do consumidor e trabalhista mais severos do mundo. Isso gera um engessamento muito grande. Os setores que competem geograficamente, como o varejo, assimilam melhor o golpe, pois o custo é passado para o consumidor. Essa normatização só atinge uma banda do mercado, o mercado formal. A informalidade não é atingida. Mas é claro que o Brasil evoluiu muito. A nossa próxima conquista tem que ser a competitividade e a produtividade internacional. Estamos perdendo diferencial no mercado internacional.

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