quarta-feira, 24 de abril, 2024
29.1 C
Natal
quarta-feira, 24 de abril, 2024

“Vamos adotar a política pés no chão”

- Publicidade -

Felipe Gurgel / Júlio Pinheiro / Vicente Estevam

Depois de dois anos com o mesmo elenco, a direção do ABC, em decisão tomada junto com a comissão técnico do clube, decidiu radicalizar e rescindiu o contrato de 20 jogadores que faziam parte do grupo. A explicação dada foi que o alvinegro precisava equilibrar a parte financeira, já que o Campeonato Estadual é deficitário e a agremiação não teria como honrar os altos salários dos atletas. Nessa entrevista concedida à TRIBUNA DO NORTE, o presidente abecedista, Rubens Guilherme Dantas, revela os motivos das saídas dos jogadores, principalmente dos ídolos Cascata e Ricardo Oliveira, a possibilidade de Leandrão continuar, assim como Irineu. Outros temas foram abordados, como o aluguel do Frasqueirão ao América, a volta do Campeonato do Nordeste e o planejamento do ABC para a próxima temporada.
Rubens Guilherme, presidente do ABC
Qual o motivo desse desmanche no elenco do ABC?

Esses jogadores já estavam conosco desde a série C e toda renovação é positiva. Ela oxigena e motiva. Assim como aconteceu essa oxigenação na diretoria, entendemos que o plantel também precisava passar por isso. Agora temos outros objetivos.

A parte financeira do clube levou a direção a tomar essa decisão?

Sem dúvida nenhuma. O elenco de 2011 foi quase o mesmo de 2010 e, por eles terem vencido quase tudo, fizemos reajustes salariais, o que inflacionou muito nosso departamento financeiro. Agora, vamos iniciar a próxima temporada com outra mentalidade salarial. Fora que, como terminamos fazendo uma boa campanha dentro da série B, surgiram várias propostas para nossos principais jogadores e não tivemos como cobrir. Tivemos que tomar alguns cuidados para o Estadual, sob pena de chegar na série B de 2012, sem dinheiro.

Comenta-se que existiam problemas internos dentro do ABC, envolvendo jogadores. O que de verdade tem nisso e se essa oxigenação no elenco foi para resolver essas questões?

Não vejo por esse lado. O relacionamento dessa diretoria, de um modo geral, sempre foi muito bom com o elenco. Tanto é, que fiz questões de estar presente nas rescisões contratuais, para agradecer a todos os jogadores, pelo empenho e dedicação durante esse período que defenderam o ABC. Em uma relação diária, como marido e mulher, acontece isso, imagine com pessoas que , às vezes, tem uma vaidade acima do normal, o desgaste vem naturalmente. Mas, entendemos isso. O motivo da renovação de elenco foi apenas financeiro. Foi estabelecido um padrão salarial para o Estadual da próxima temporada.

Essa renovação foi um pedido do técnico Leandro Campos?

Foi uma convergência de opiniões, entre a comissão técnica, a vice presidência de futebol e a direção de um modo geral.

O fato de Ricardo Oliveira ter ido assistir um jogo do América acelerou o processo de saída do jogador?

Esse fato não teve nada com a rescisão de contrato. Ricardo Oliveira foi um guerreiro defendendo o ABC. Ele tem amizades no nosso rival, assim como tem no Paysandu. O jogador estava de folga e tem o direito de ir e vir para qualquer lugar e ter contatos com qualquer pessoa. Eu mesmo tenho um relacionamento com os jogadores do nosso rival. O treinador do América é cliente da minha empresa e sempre que chego e ele está lá, antecipo o atendimento, para manter o bom relacionamento. Somos seres humanos e é essencial manter relacionamentos.

Qual critério para as renovações que estão acontecendo?

O Leandrão é um caso pessoal. Ele pediu para ficar no ABC. Tem propostas do futebol da Bulgária. Mas, o jogador tem uma estabilidade financeira muito boa e não depende do salário de jogador de futebol. A vida financeira dele é definida e o que está pesado no momento, é a qualidade de vida que ele quer levar. A esposa dele quer ficar em Natal, o relacionamento do jogador com o clube é bom e Leandrão pediu para continuar, mesmo reduzindo seu salário.

Então, ele fica?

Tem 99,99% de chances de ficar.

E em relação a Cascata? O ABC fez proposta para ele continuar?

O Cascata foi um dos jogadores que mais ajudou o ABC nesses dois anos. Participou de quase todas as partidas, se destacou e a exposição de mídia dele foi muito grande. Antes do início da série B, o jogador nos confidenciou que existiam muitas propostas para ele deixar o clube. No meio da competição, teve Figueirense/SC, Ceará, que quiseram levar ele. Com tanto interesse, não tivemos como segurar o jogador, que tinha o maior salário do ABC.

Com o Estadual sendo classificatório para o Campeonato do Nordeste de 2013, muda alguma coisa no planejamento financeiro do ABC?

Não muda em nada. Participei da reunião no Rio de Janeiro e  não vai mudar nada em relação aos fundadores do Campeonato do Nordeste, do qual o ABC faz parte.

Com essa reformulação de elenco, todos os zagueiros foram embora. O que o ABC está fazendo para repor essas perdas?

No caso do Tiago Garça, que foi muito criticado pela torcida, ele ganhava um valor no ABC e o Grêmio Barueri dobrou o valor para levar o atleta. Ele estava nos planos para continuar com o salário reduzido e com essa proposta da equipe paulista, não teve como segurar. Mas, o Edson está voltando e o Irineu pode continuar, já que aceitou nossa proposta de redução salarial.

O time do ABC para o Estadual, pode ser considerado caseiro, já que vai acontecer pouco investimento?

Vamos adotar a política pés no chão. O que vai determinar o time é a quantidade de estrutura financeira que tivermos à nossa disposição.

Com essa mudança de postura financeira, o senhor acha que o ABC errou no planejamento de 2011? Apostou no Estadual e chegou enfraquecido, financeiramente, na série B?

Não vejo por esse lado. Seria injusto se, ao término da série C de 2010, tivéssemos dispensado os jogadores que conquistaram o maior título da história do futebol potiguar. Por isso que renovamos com quase todos. Sofremos com críticas em relação aos reforços para a série B, mas as pessoas esqueceram da qualidade dos jogadores que conseguimos segurar naquela ocasião.

Nessa renovação de elenco, a direção do clube chegou a conversar com o técnico Leandro Campos sobre que tipo de jogador contratar?

Claro que conversamos, já que ele é funcionário do clube. Mas, a decisão final é dele, que coloca a mão na massa, sobre que tipo de jogador contratar. Muita gente criticou a quantidade de volantes que o ABC tinha e, em determinado momento da série B, ficamos quase sem esse tipo de jogador. Se não tivéssemos atendido ao pedido no treinador, teríamos passado um sufoco maior.

Para a série B de 2012, o ABC pensa em manter o mesmo nível salarial dessa temporada, ou pensa em incrementar as receitas, para fazer um time mais qualificado?

O que vai medir o investimento no ABC, vai ser a estrutura financeira disponível para o futebol. Estou entrando no meu último ano de mandato como presidente e quero deixar o clube sem dívidas para a próxima gestão. Temos que pensar no futuro do clube. Podíamos pensar diferente, fazer média com a torcida e contratar vários “medalhões”, jogadores caros e deixar a conta para a próxima presidência pagar. Mas, somos abecedistas de coração e de berço e não vamos fazer isso. Vamos buscar trabalhar com a disponibilidade financeira dessa gestão.

O sócio torcedor e a Timemania, são bases para a receita da próxima temporada?

Sempre serão. O sócio torcedor é a maior receita do ABC. A Timemania não é aquilo que esperávamos. Nossa projeção era ter, em média, entre R$ 180 e R$ 200 mil por mês, e hoje, varia apenas de R$ 70 a R$ 80 mil.

Com esse valor não dá para contratar bons jogadores…

Não dá mesmo. Temos que ter a responsabilidade de saber que o ABC vai continuar depois que meu mandato terminar e temos que deixar o clube preparado para o futuro e que a próxima gestão não tenha dor de cabeça e esteja livre para fazer o seu trabalho.

A inadimplência do sócio torcedor é normal. Existem projetos para reformular desse programa?

Tivemos uma reunião com a empresa que está a frente do sócio torcedor, e foi discutido esse assunto. O torcedor é muito passional. Quando o time está bem, ele ajuda paga em dia. Mas, na hora que a equipe não vai bem, o torcedor muda de opinião, deixa tudo de lado e ficamos com o “pepino”na mão. Mas, com essa nova filosofia que queremos implantar, vamos fazer com que o sócio torcedor seja mais fiel. A manutenção do programa não foi bem feita, em relação de trazer mais atrativos para o torcedor, inclusive em eventos sociais.

Uma sede social, com piscina, quadra, restaurante, seria uma forma de agregar mais torcedores?

É um dos nossos projetos, mas não sei se vai ser possível realizar nessa gestão, já que leva tempo e recursos. Hoje, estamos focados em deixar o ABC enxuto, financeiramente, para que a próxima gestão possa desenvolver seu plano de trabalho.

Durante toda a entrevista, deu para notar que o senhor já está falando em tom de despedida. Nada faz Rubens Guilherme mudar de decisão e continuar como presidente?

A minha missão no ABC vai estar cumprida até o dia 16 de dezembro de 2012. Estou me esforçando para deixar o ABC nas melhores condições possíveis. Não tenho projetos pessoais, nem políticos, nem em continuar como presidente. O que quero é fazer um ABC forte como clube. E ficar batendo palma das arquibancadas.

A receita do Campeonato do Nordeste é apenas para 2013 ou pode acontecer alguma coisa no próximo ano?

Só para 2013 e vem muita coisa boa por aí. E eu fico feliz com isso, porque é a estabilidade financeira do clube. Existem muitas empresas querendo investir no Campeonato do Nordeste. Mas, tem outros projetos, que não posso falar ainda, que estamos correndo, para viabilizar, que vai ser muito bom para a nossa gestão. Mas, só gosto de fazer quanto estiver concretizado.

Mudando um pouco de assunto. A CBF descartou o Nazarenão com estádio para a série B de 2012. Existe a possibilidade do Frasqueirão abrigar jogos do América?

Esse assunto já foi muito discutido e acho que não vale mais a pena falar dele agora. No momento certo, vamos ver o que acontece.

O futuro presidente do América, Alex Padang, deu uma entrevista para a TRIBUNA DO NORTE, dizendo que mudou de mentalidade em relação ao ABC. E que, essa conversa sobre o Frasqueirão, tem que partir da direção alvinegra. O que o senhor acha disso?

O ABC tem seu campo de futebol  e a parte mais interessada em alugar o Frasqueirão, não somos nós.

Em outra oportunidade, o senhor disse que o aluguel do Frasqueirão para o América, seria decidido pela torcida. Continua com esse pensamento?

É lógico que ouvimos a torcida, que é o nosso maior patrimônio e, como sou torcedor do ABC, tenho a minha opinião. Como presidente, não posso tomar essa decisão sozinho, porque não sou o dono do ABC. Mas, pessoalmente, a minha opinião é de não alugar.

Falando sobre torcida. O jogo que o ABC teve que mandar fora do Frasqueirão, no estádio do Arruda, foi muito prejudicial ao clube?

Bastante. Temos que fazer campanha de conscientizar nosso torcedor que o prejuízo financeiro foi muito grande, que poderíamos ter tido um prejuízo técnico poderia ter sido enorme. O torcedor mais humilde, que não tem como se locomover para fora do Rio Grande do Norte, foi penalizado. É preciso fazer uma campanha educativa e mostrar que o Frasqueirão é a casa do ABC e temos que cuidar muito bem dela.

Por causa da violência nos estádios, que parece estar voltando nos últimos tempos, o senhor compartilha da opinião de que clássico deveria ser disputado apenas com a torcida do time mandante no estádio?

O direito de ir e vir não pode ser tolhido. Isso seria um atestado de incompetência de todo mundo. Dos clubes, da Segurança. Estádio bonito é com duas torcidas, aquele colorido.

O ABC joga em Goianinha sem qualquer restrição?

Sem problemas nenhum.

Foi lançado um projeto na sua gestão de transformar o ABC no quinto clube do Nordeste. Ainda há tempo para isso?

Acredito que, para o futuro, não deveremos ser o quinto e sim brigar para ser o melhor clube do Nordeste. Isso, se conseguirmos concretizar o projeto que estamos buscando. É segredo e não posso falar.

Como estão os contatos com reforços?

Estamos esperando o Leandro Campos retornar de férias e aí, decidir sobre reforços. Contatos estão sendo mantidos, porque não se paga para conversar com jogador. Mas, o martelo só será batido quando todos estiverem reunidos.

Rubens Guilherme Dantas deixa a presidência do ABC no final de 2012. O sonho é deixar o ABC na série A do Brasileiro?
Não. O meu sonho é deixar o ABC pronto para qualquer abecedista que assumir a presidência, possa fazer sua gestão sossegado.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas