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“Vamos ser a maior do mundo em turismo”

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3 por quatro – Por Anna Ruth Dantas

Fundador da CVC, maior operadora de turismo do país, atual presidente do Conselho de Administração da empresa. Apenas por essas credenciais, Guilherme Paullus já chama atenção e atrai olhares, curiosidade. No entanto, o empresário se mostra inquieto. Há três anos, vendeu parte da empresa para um grupo internacional.

De certa forma, voltou um pouco a situação da criação da CVC, quando tinha sócios. “Você perde o poder da caneta na mão. Antigamente eu fazia o que queria. Agora precisa dar satisfação”, afirma, com muito bom humor, ao analisar o novo momento da empresa.
O Brasil sempre viveu grandes crises. É na crise que você tem que cortar o S e vai virar crie. Em todas as crises você tem que criar - Guilherme Paullus
O projeto de Paullus é arrojado: ele quer tornar a empresa que criou a maior operadora de turismo do mundo. E com o mesmo bom humor que fala ao abordar a capacidade de decisão com os sócios, ele usa para dizer que a meta precisa ser alcançada em dez anos. Ele afirma que não quer chegar aos 70 anos tendo alcançado o objetivo. “Não quero chegar a isso (a alcançar a meta) apenas com 90 anos”, diz.

Na passagem por Natal, onde participou do Fórum de Turismo, o empresário estava com uma agenda muito restrita, mas nem por isso deixou de atender a imprensa. Atencioso no trato, arrojado no estilo empresarial, criativo nos momentos de crises econômicas, Guilherme Paullus é o nosso convidado de hoje do 3 por 4.

Como a CVC se transformou em CVC?
Quando nós começamos na década de 70 o turismo era para as pessoas mais abastadas, pessoas que tinham dinheiro e poderiam viajar. Não se tinha pacotes turísticos ainda. Você comprava uma passagem aérea, usava o financiamento da companhia, comprava o hotel e fazia sua viagem. O papel das agências de viagem era vender passagem aérea e fazer a reserva de hotel. Nós tínhamos três operadoras na época, que tinham serviços no Brasil. Não havia operadora brasileira. De 1972 a 1976 quando fiquei com meu sócio, atendíamos muito as empresas com venda de passagem, com serviço corporativo, com venda de passagem para executivos que viajavam. Houve uma crise muito grande, na época quando o Governo brasileiro criou o depósito compulsório para viagem ao exterior. Realmente, criou-se uma dificuldade muito grande e as empresas começaram a economizar muito para aquela viagem. Cada executivo que iria para o exterior precisava ter postado mil dólares no Banco Central. Eu descobri um filão do mercado: toda grande empresa tinha um clube de funcionários. E daí começamos a organizar passeios de um dia, passeios de final de semana, feriados prolongados e férias. Passei a organizar a viagem. Inspirei-me no conceito americano que havia. Aprendi com o clube da Ford, lá tinha um calendário de viagens. Baseei-me em um calendário de viagens e criei um  para excursões de viagens. Foi a partir daí que a CVC começou a crescer, crescer.

O que lhe deu  mais trabalho: a operadora ou as lojas CVC? O que lhe exige mais?
Acho que é o contexto. Está no geral. Quando você tem a operadora, você precisa ter alguém que venda os produtos que você faz. A rede CVC cresceu muito e cresceu pelos próprios gerentes da CVC. Porque chegou a um nível que a pessoa era gerente da CVC e estava há três ou quatro anos. Por outro lado eu precisava expandir. Então era aquela frase: “a multiplicação dos pães ou dos peixes”, aquele contexto bíblico. E como Cristo fez e pegou os doze apóstolos e espalhou pelo mundo, eu peguei os meus melhores gerentes e falei que um deveria abrir no Rio de Janeiro, outro em Belo Horizonte, outro no Nordeste e assim por diante. E foi aí que nós fizemos realmente uma CVC em cada Estado do Brasil. E foi crescendo e proliferando. Surgiu dos próprios funcionários, da própria equipe CVC.

A internet é concorrente das agências de viagens?
Dizem para mim que é. Mas a internet é muito fria. Você compra uma passagem aérea, comprar uma serviço, uma reserva de hotel, se ocorrer algum problema você não tem com quem falar. E o que a CVC faz hoje é uma prestadora de serviço. Quem presta serviço tem que ter o pronto atendimento. Não adianta querer atender pela internet. A internet é um grande canal de venda, um canal informativo. Você tem o Google hoje que o que você perguntar ele lhe responde. O conteúdo é algo muito importante. O Tetê a Tetê, você poder conversar olho no olho, não tem dinheiro que pague essa tranqüilidade. É a confiança, o relacionamento das pessoas, eu acho que isso nunca vai acabar no mundo. Quando fizeram a internet disseram que iria acabar o jornal, o rádio, a televisão. Estão todos aí, a internet é mais um canal. Há pessoas que não querem ir na loja e aí compram pela internet.

A CVC fará 42 anos de atuação. Qual foi o momento mais difícil nessas mais de quatro décadas?
Todos. O Brasil sempre viveu grandes crises. É na crise que você tem que cortar o “s” e vai virar crie. Em todas as crises você tem que criar. O mundo sempre está em crise. Agora está a Europa em crise, começou na Grécia essa crise e foi se expandindo. Isso é cíclico na vida da gente. E você tem que ter a dificuldade para poder superar. Nada são rosas, aliás até nas rosas você encontra espinho.

E qual foi o grande momento da CVC?
Acho que  o grande momento da CVC foi na década de 90, aquela grande expansão, aquela história de pegar os apóstolos e colocá-los para sair pelo mundo.

E onde estão seus apóstolos hoje?
Estão comigo. Todos eles cresceram, estão fortes no Brasil todo. É um privilégio que eu tenho. Eu digo que uma andorinha só não faz verão, tem que ter várias. Então o grande segredo da CVC é a equipe.

Como o senhor avalia o momento vivido, e não é de hoje, onde o brasileiro tem a oportunidade de viajar para o exterior com preço mais baixo do que se fizesse o turismo nacional?
Esse é um problema que vivemos há muito tempo. Antigamente era mais fácil ir a Miami do que Manaus ou Bahia. Hoje é mais fácil comprar um bilhete de Natal para Buenos Aires do que de Natal para São Paulo. Natal-Porto Alegre-Natal é mais caro do que Natal-Lisboa-Natal. E o horário de vôo é semelhante. Agora explicar como? É o custo dos aeroportos brasileiros, ainda temos um custo muito grande. Os impostos brasileiros são muito altos. O problema da nossa infraestrutura ainda é grande. Existem subsídios de combustível para as empresas internacionais, para as empresas nacionais não existe. Então temos a grande dificuldade. Os sindicatos ainda são muito paternalistas. O alto custo das empresas brasileiras. Tudo isso precisa ser repensado. A presidente Dilma está pensando na economia da energia elétrica, desonerando. Acho que está na hora de criar um imposto único. Tudo isso ajudaria muito ao desenvolvimento do país. Eu tenho trabalhado isso, faço parte do Conselho do Desenvolvimento Social, estou lá representando o turismo pela primeira vez. Fui nomeado agora. Então é um trabalho muito grande que a gente tem que fazer pela frente para ter um incentivo muito maior para que as pessoas viajem, visitem e conheçam o nosso país. Veja Brasília que é o maior espetáculo arquitetônico que temos, uma cidade encantadora.

Passado pouco mais de três anos da CVC comercializar parte das suas cotas para um grupo internacional. Qual avaliação que o senhor faz do negócio?
É um grande momento que vivemos. Tivemos, recentemente, uma troca, em três anos tivemos um CEO (chief executive Officer – o diretor geral da empresa), é quase um CEO por ano. É uma adaptação. Passamos a fase do Walter Patriani, que trabalhou comigo durante 33 anos e ficou como CEO dois anos na CVC. Daí, claro, entrou um CEO advindo dos meus sócios, agora trouxemos um novo CEO que é um grande nome do mercado brasileiro. É uma nova fase. Isso tudo está sendo para mim uma grande experiência, de ter contatos com grandes empresários, CEO de outras empresas. É um crescimento profissional não só para mim, mas para companhia também. Então, acho que reputo isso como grande momento. Eu tive sócio há 36 anos, agora voltei a ter sócio agora.

E o que o senhor pensa sobre essa fase de voltar a ter sócio (ele começou os negócios com uma sociedade, depois que vendeu parte da CVC voltou a ter sócio)?
Acho que é uma experiência. Não acho diferente. Claro, você perde o poder da caneta na mão. Antigamente eu fazia o que queria. Agora precisa dar satisfação. Mas acho que é importante dar satisfação. A gente passa a vida inteira dando satisfação. Então dá para mais um não faz muita diferença. A Carlyle é uma grande companhia, uma grande empresa, vivo uma perfeita harmonia com eles. Eles me escutam muito, a gente troca muita ideia.

CVC chegou onde Guilherme Paullus queria?
Está chegando porque quero ser a maior empresa de turismo do mundo. Acho que com parte da aquisição da Carlyle é um passo importante para sermos a maior empresa de turismo do mundo.

O senhor tem meta de tempo para isso?
Veja, tem que ser nos próximos dez anos porque eu vou estar com 73 anos, vai pesando a idade. Mais uns dez anos a gente tem pela frente para transformar na maior empresa de turismo do mundo.

Quem é
Guilherme Paullus

O que faz
Presidente do do conselho de administração da CVC, maior operadora de turismo do país.  Representa o segmento de turismo no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), órgão de assessoramento da Presidência da República, vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos

História
O empresário Guilherme Paulus é fundador da CVC. Em janeiro de 2010, o empresário vendeu 63,6% da CVC para o fundo de investimentos Carlyle, por R$ 750 milhões. Em julho do ano de 2011, Paulus vendeu a Webjet para a Gol Linhas Aéreas.

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