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Via Livre: mudança adiada

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Priscilla Castro – Repórter

Estacionamento proibido, arborização, nova iluminação e recapeamento das ruas são as propostas do projeto Via Livre, que envolve cinco setores da Prefeitura de Natal e já está implantado em três corredores viários da cidade. As mudanças estão sendo realizadas por etapas, mas o ponto comum é que o primeiro passo seja a retirada do estacionamento. No entanto, o impasse ainda não resolvido entre comerciantes e Prefeitura levou a uma inversão de etapas na avenida Afonso Pena. Começando pela troca da iluminação, o estacionamento, que deveria ser proibido a partir de hoje, ainda será permitido pelo menos até o próximo ano.

Proibição do estacionamento na avenida Afonso Pena será a última etapa do projeto, ao contrário do que aconteceu em outros corredoresEm reunião realizada no início deste mês entre a Associação das empresas e moradores da avenida Afonso Pena e arredores (AEMAPA) e a Prefeitura, os comerciantes concordaram em arcar com os custos da manutenção e urbanização do canteiro central da via, para que a proibição do estacionamento fosse a última etapa do processo.   “Demos a sugestão de que, já que os canteiros são largos, mudasse o tipo do piso e fizessem a substituição de algumas árvores antigas na implantação do projeto”, explicou a vice-presidente da AEAMAPA, Ivone Freire.

Segundo ela, não houve um adiamento da implantação do projeto e, sim, uma inversão na ordem das etapas. “Esta é uma avenida atípica em relação às outras, não só porque é extremamente comercial, mas também porque oferece serviços à saúde, tem hospitais, bancos e clínicas, então a demanda é muito alta.   Nós não somos contra, só queremos que não tirem todo o estacionamento da rua. Estamos tentando um diálogo para utilizar, pelo menos, um dos lados do canteiro”, disse.

Para o secretário adjunto de Trânsito, Haroldo Maia, o poder público não precisa investir em algo que vá beneficiar apenas alguns indivíduos. “A política do poder público é restringir o número de veículos individuais porque não há obra física que se adapte ao número de automóveis que entram diariamente nas ruas. Favorecer o transporte público é a saída para a mobilidade”, explicou.

A permissão para utilização do canteiro central como estacionamento é um dos fatores contraditórios ao Via Livre. No entanto, Haroldo Maria garantiu que a diferença não descaracteriza as propostas do projeto porque o canteiro vai ser reduzido e, portanto, não vai mais ocupar uma das faixas da via. “O estacionamento vai ser dentro do canteiro, as outras duas faixas ficarão totalmente livres para os motoristas”, informou. Segundo Ivone Freire, a Associação aceitou cuidar dos canteiros, mas ainda não teve acesso ao projeto pronto, portanto não conhece o valor de custo.

Comerciantes temem o desemprego

Os comerciantes temem perder ainda mais clientes para os Shoppings da cidade. A vendedora de uma loja de roupas, Marilene da Silva, conta que alguns clientes já reclamam do estacionamento como é hoje e teme que o movimento diminua com a implantação do Via Livre. “As vendas vão cair muito se esse projeto for implantado aqui, porque hoje muitas clientes acham ruim achar vaga para estacionar e reclamam que algumas vezes têm que parar longe da loja e virem andando. Algumas já avisaram que não vão mais vir comprar aqui”, contou.

Na loja vizinha, a vendedora de joias Fabiana Pereira se preocupa com uma possível redução no número de funcionários. “Os donos estão com medo de que as vendas caiam e nós vendedores estamos com medo de sermos dispensados porque dependemos do movimento da loja. Se a procura diminuir, o número de vendedores também vai”, acredita. A dona de um restaurante da avenida, Katiana Leão, teme que aconteça o mesmo que houve com alguns comércios de outras avenidas onde o projeto já foi implantado. “Eu mesma deixei de frequentar um salão na Romualdo Galvão porque não tinha mais onde deixar o carro. As lojas vão fechar e vai ter desemprego”, antecipou a empresária.

Um fator apontado pelos comerciantes como causa para congestionamentos foi o transporte opcional de passageiros. Segundo eles, são esses veículos que atrapalham o trânsito e não os carros particulares. No entanto, a reportagem percebeu que, no momento em que uma motorista aguardava a saída de um dos carros estacionados para ocupar a vaga, uma fila de seis veículos se formou atrás esperando a troca ser feita. Segundo a farmacêutica Sâmara Cavalcanti, que dirigia o veículo, o estacionamento já é difícil como está. “Eu fiquei uns cinco minutos procurando vaga e dei a sorte de ver que esse outro carro estava saindo”, contou.

Projeto funciona em três corredores

O Via Livre já está em funcionamento em três corredores viários de Natal. São 2,4 km na avenida Romualdo Galvão, implantado em fevereiro de 2009; 5,4 km na avenida Jaguarari, implantado em março deste ano e 4,78 km no corredor formado pelas ruas São José, Régulo Tinôco e José de Alencar, implantado no mês de junho. Segundo o secretário adjunto de Trânsito, Haroldo Maria, o custo da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob) para cada corredor foi de R$20 mil. “O custo foi baixo porque aproveitamos muitas placas e a mão de obra foi do nosso pessoal mesmo, só gastamos com a tinta e algumas sinalizações”, contou.

Uma pesquisa feita no mês de abril pelo Instituto Seta mostrou que 65% da população que conhecia o Via Livre reconheceu uma melhora no trânsito das avenidas Romualdo Galvão e Jaguarari (corredores onde o projeto havia sido implantado até então). No entanto, opiniões ouvidas pela TRIBUNA DO NORTE se mostraram divididas. Motoristas e pedestres adoraram a novidade, mas alguns comerciantes e clientes se disseram prejudicados.

   Na rua São José, o restaurante Tia Nelza já registrou a queda no número de clientes. Segundo a garçonete Joana Dárcia, o movimento caiu mais de 50%. “Nós não temos espaço para fazer estacionamento próprio e os clientes reclamam que tem que parar longe. Quando está chovendo, fica ainda pior”, contou. Já os motoristas que trafegam pela via agradecem o projeto. “Melhorou bastante o fluxo dos carros, está mais rápido para chegar ao destino”, contou o autônomo Miguel Ângelo.

   Apesar de ter sido a última a receber o projeto, é nesta via que está o maior número de autuações por estacionamento proibido. Foram 787 multas desde que a fiscalização da Semob teve início, no dia 22 de junho, até o dia 13 de outubro; contra 360 da Romualdo Galvão, de 16 de fevereiro a 13 de outubro; e 141 da Jaguarari, de 07 de abril a 13 de outubro.

   Segundo Haroldo Maia, o motivo é o canteiro central que existe por quase toda a via. A frente do Hospital Promater é o lugar campeão de infrações. Na manhã de ontem, a reportagem flagrou um amarelinho multando três carros estacionados ao lado do canteiro central. O valor da multa é de R$127 e o motorista perde cinco pontos na carteira de habilitação.

Tráfego mais ágil

Na Romualdo Galvão, o tempo médio para trafegar na avenida diminuiu de 15 para cinco minutos depois da implantação do projeto. Além disso, a velocidade média registrada na faixa da direita na interseção com a rua Alberto Silva aumentou de 18 km/h para 24 km/h e o número de veículos que trafegam pela avenida entre as 07h e as 19h no sentido Centro/ Candelária subiu de 7.250 para  10.064. Na Jaguarari, o aumento foi de 25% para este sentido e 10% para o sentido inverso.

O aumento no número de veículos circulando na via cumpre o objetivo inicial do projeto, que é desafogar os corredores de maior fluxo, neste caso as avenidas Prudente de Morais, Salgado Filho e Hermes da Fonseca. “Quando eu tenho a opção de escolher uma rua eu venho pela Romualdo que é mais rápido”, disse o empresário Luiz Henrique.

O projeto deve ser implantado nas avenidas Hermes da Fonseca e Salgado Filho até o mês de novembro. “Nós estamos querendo colocar uma faixa reversível nos horários de pico, para que uma faixa da via funcione em sentido contrário”, disse Haroldo Maia.

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