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Vice-primeiro ministro da ANP está preso

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OFENSIVA - Israel destruiu infra-estrutura e fez prisões em Gaza

Jerusalém – O general Yair Naveh, comandante do Exército no sul  de Israel, confirmou que o vice-primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina  (ANP), Nasser Shaer, está entre os líderes do Hamas capturados por militares  israelenses em uma operação realizada na madrugada de ontem. De acordo com o Exército de Israel, 64 líderes do Hamas foram detidos. Funcionários  palestinos disseram que há oito ministros e 20 parlamentares do grupo islâmico  entre os 64 líderes detidos.

Havia relatos conflitantes sobre a captura de Shaer, realizada no âmbito de  uma operação militar de Israel contra a Faixa de Gaza para resgatar um soldado  israelense capturado por militantes palestinos. A confirmação foi dada por Naveh  em entrevista coletiva concedida ontem. Alimentando ainda mais a tensão na região, o corpo de um colono judeu desaparecido  foi encontrado com um tiro na cabeça perto de Ramallah, na Cisjordânia, disseram  agentes israelenses de segurança.

Militantes palestinos reivindicaram o seqüestro  seguido de execução do colono Eliahu Asheri, de 18 anos. Enquanto isso, o ministro da Defesa de Israel, Amir Peretz, aprovou a próxima fase da invasão israelense da Faixa de Gaza, disseram fontes militares.  Peretz aprovou a continuidade da operação durante reunião de cúpula das forças  armadas. As fontes não fornecerão detalhes sobre qual seria a “próxima fase”  da operação.

Ainda ontem, um avião de guerra israelense disparou um míssil contra  um carro no qual viajavam supostos militantes palestinos, mas errou o alvo por  pouco, disseram testemunhas. De acordo com relatos, Mahdi Dahdouh, um ativista da Jihad Islâmica, conseguiu  sair do carro quando percebeu a iminência do ataque. O Exército israelense não  identificou seu alvo. O míssil caiu na rua, disseram testemunhas. Uma pessoa não identificada ficou  ferida, informaram médicos. O carro atacado bateu num poste.

Em todos os países árabes do Oriente  Médio, as reações populares a ofensiva israelense em Gaza tem sido de revolta, mas foram os governos locais que arcaram com o ônus,  acusados por seus opositores de impotência por não ajudarem os palestinos sitiados  pelas forças de Israel. Temendo uma onda de refugiados, o Egito impôs um toque de recolher na região  de fronteira com Gaza depois de palestinos terem detonado uma mina para abrir  um buraco em um muro na fronteira para tentar cruzar para o lado egípcio.

Soldados do Exército do Egito alinharam-se em seu lado da fronteira enquanto  policiais palestinos efetuavam disparos para o alto para impedir que o buraco  no muro fosse usado pela população local. Os egípcios preparam-se para uma onda de protestos convocada pela Irmandade  Muçulmana, maior rival do governo. As manifestações estão marcadas para hoje. Autoridades egípcios estão em contato direto com o líder político do grupo radical  islâmico Hamas, Khaled Meshal, para que tente facilitar a libertação de um soldado  israelense capturado.

Governos estão acuados pela falta de ações

A ofensiva israelense encurralou os governos de países árabes com boas relações  com o Ocidente, como a Jordânia, o Egito e a Arábia Saudita. Eles receberam  friamente o governo do Hamas, eleito pelos palestinos no início do ano, e pouco  fizeram para contornar o boicote imposto pelos países ocidentais à Autoridade  Nacional Palestina (ANP) depois da ascensão do grupo radical islâmico ao poder. Agora, esses governos enfrentam a percepção generalizada entre os árabes de  que eles abandonaram definitivamente os palestinos.

“Não ouvimos nem um sussurro de vocês”, denunciou Mohammed Mahdi Akef, líder  da Irmandade Muçulmana, em referência aos líderes árabes. “Vocês não fornecem remédios, leite nem outros produtos de primeira necessidade  ao povo sitiado da Palestina. Vocês são hesitantes com relação ao governo eleito  livremente por eles, pois temem a disseminação do vírus da liberdade”.

Artigo: O que quer Israel

Carlos Peixoto – Jornalista

A mais recente agressão militar de Israel contra Gaza, desencadeada em 27/06, tão logo foi anunciado o acordo entre as lideranças das principais facções palestinas em torno do chamado “Plano dos Prisioneiros” – que entre outras coisas leva ao reconhecimento do Estado judeu, surpreende e estarrece apenas àqueles que esqueceram a história. As supostas “razões de segurança e autodefesa”, alegadas agora pelo premiê israelense, Ehud Olmert, mostram que nada mudou nos objetivos e na ação política dos israelenses desde os tempos de Ben-Gurion.

O ponto central desses objetivos é a idéia por trás de todo o movimento sionista: a ocupação e manutenção do domínio de todas as terras entre a margem leste do Jordão e o Mediterrâneo, exclusivamente para os colonos judeus. A linha mestra da estratégia usada para alcançá-los foi fixada há mais de 70 anos, quando no final da década de 30 do século passado Ben-Gurion refletia sobre as alternativas de expulsão de todos os árabes da Palestina e considerava que “aquilo que é inconcebível em tempos normais torna-se possível em períodos revolucionários; e se neste momento a oportunidade é perdida e o que é possível nestes momentos de exaltação não vem a ser concretizado todo um mundo é perdido” (Shabtai Teveth, Ben-Gurion and the Palestinian Arabs, cf. por Norman Finkelstein, pp. 15). O instrumento por excelência para o Estado judeu pôr em prática essas idéias sempre foi a força, reservando-se a atuação política apenas para justificar o uso e os resultados obtidos.

Um breve retrospecto de apenas três episódios, na história do conflito Israel/Palestina, são ilustrativos de como o sionismo soube adaptar essa orientação às várias circunstâncias político-militares que se apresentaram:

– em 1948, Israel aproveitou-se do “clima revolucionario” da primeira guerra árabe-israelense e recorreu aos massacres em massa e a intimidação psicológica para expulsar populações inteiras de aldeias e cidades palestinas (Ein az Zeitun, Lydda, Deir Yassin, Haifa, Acre e outras), alegando que quebrar a resistência civil era uma necessidade de autodefesa essencial à sobrevivência do novo estado;

– o mesmo argumento foi reutilizado em 1967, quando Israel levou a contra-ofensiva para além das fronteiras judaícas estabelecidas pela ONU e expandiu seu território até o litoral e sobre o Sinai;

– em 1982 quando, para sabotar os esforços de paz iniciados por Yasser Arafat e a OLP, invadiu o Líbano.

Analistas menos atentos à política de expansão e domínio israelense poderão conjecturar que os “acordos de paz” de Oslo I (1993) e Oslo II (1995) constituem interrupções nesta sequência e/ou mudanças na estratégia sionista. Mas, essa é uma observação que pode ser tida como verdadeira apenas pela metade. Os acordos de Oslo, efetivamente, representam uma troca da opção sionista original – a “expulsão” pura e simples dos árabes palestinos – pela “via do apartheid”. Como já foi descrito por inumeros críticos de Oslo e constatado pela opinião pública internacional, os acordos não resultaram em nenhuma “autonomia real” palestina nos “bolsões” da Cisjordânia e de Gaza onde se instalaram os representantes da ANP criada por Arafat/Rabin. Nestes territórios, a Justiça, o abastecimento d´agua e de eletricidade, o recolhimento de impostos e o tráfego de mercadorias, veiculos e pessoas continuam sob controle israelense. A segregação dos palestinos gerou uma situação de colapso econômico, condições sanitárias precárias nas cidades, falhas nos serviços públicos e, por último mas não com menor intensidade, de corrupção dos dirigentes e de revolta entre os jovens (as duas Intifadas foram expressões de tudo isso). O modelo preconizado por Oslo tem sua melhor representação histórica no antigo regime sul-africano, mas na prática foi muito além dele, uma vez que Israel não abriu mão do terrorismo estatal que viabiliza milhares de prisões arbitrárias e os assassinatos de líderes palestinos. Em última circunstância, é melhor ser palestino em qualquer outra parte do mundo do que em Ramallah, o que na prática é uma “sugestão piscológica” extremamente eficaz para se ir embora. Além disso, a troca de opção que esse modelo representou, por um breve período de tempo, parece estar chegando ao fim.

Antes mesmo das eleições de dezembro de 2005, quando o Hamas assumiu pelo voto a maioria no Parlamento palestino e nomeou Ismail Haniyeh primeiro-ministro, Israel já vinha sinalizando que preferia descartar a presença de uma ANP “autêntica” nos territórios. A invasão da Cisjordânia em março/abril de 2002 e o cerco a Arafat em Ramallah, mantido até sua morte em novembro de 2004, foi um marco significativo. O nome militar com que a invasão foi batizada – “Operação Escudo de Defesa” – escondia, na realidade, o objetivo político de sufocar a ANP e inviabilizar a construção de um Estado palestino independente. O desmantelamento de algumas colônias em Gaza e na Cisjordânia, tampouco significa devoluções reais de territórios. As áreas desocupadas – e ainda assim, interditadas aos palestinos – não dão a ANP em “autonomia política e auto suficiência econômica” qualquer ganho real. O desmantelamento foi, apenas, mas uma “representação midiática” montada pelos israelenses. Assim como, agora – reocupando Gaza, destruindo equipamentos de infra-estrutura, estações de fornecimento de energia elétrica e prendendo, sem amparo legal, dezenas de líderes palestinos eleitos pelo voto direto – Israel se furta a examinar e dar uma resposta, perante a opinião pública internacional, a mais significativa iniciativa, nos últimos anos, para a paz no Oriente Médio e a construção de um Estado Palestino.

O chamado “Plano dos Prisioneiros”, para o qual o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, conseguiu a aprovação do primeiro-ministro Ismail Haniyeh, apenas 24 horas antes dos ataques israelenses, têm os seguintes pontos:

– O povo palestino trabalha para a libertação de sua terra e a realização de seus direitos à liberdade, ao retorno dos refugiados, à independência e à autodeterminação para a criação de seu Estado independente em todos os territórios ocupados em 1967, com Jerusalém como capital.

– A aceleração da aplicação de tudo o que foi assinado (durante o diálogo entre palestinos) no Cairo, em março de 2005, no que diz respeito à modernização e à reativação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e a adesão do Hamas e da Jihad a esta organização como único representante legítimo do povo palestino.

– A fidelidade ao direito do povo palestino de resistir por todos os meios e a centralização da resistência em todos os territórios ocupados em 1967, enquanto as negociações e a ação política e diplomática continuam.

– A proteção e o fortalecimento da Autoridade Nacional Palestina (ANP), que é o núcleo do futuro Estado.

– A formação de um governo de união nacional sobre uma base que garanta a participação de todos os grupos parlamentares, sobretudo o Fatah e o Hamas.

– As negociações com Israel competem à OLP e ao presidente da ANP com a condição de que todo acordo crucial seja aprovado pelo Conselho Nacional Palestino (CNP, o Parlamento da OLP) ou submetido a referendo.

– Rechaçar o lugar injusto imposto pelos Estados Unidos e Israel contra nosso povo e convocar os povos e o governo árabe a apoiar o povo palestino, a OLP e a ANP.

– A recusa das divisões e das divergências, assim como da proscrição do uso das armas entre palestinos, independentemente da razão.

– A necessidade de reformar e modernizar o aparelho de segurança palestino para permitir-lhe defender a pátria e os cidadãos contra as agressões e a ocupação, garantir a segurança e a ordem e acabar com a anarquia em matéria de segurança.

O texto do plano foi elaborado por Marwan Barghuti, o chefe do Fatah na Cisjordânia, Abdeljaleq al Atche, um alto dirigente do Hamas, Abdelrahim Maluh, número dois da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), Bassam al Aadi, um dirigente do grupo extremista Jihad Islâmico, e Mustafah Bardarneh, da Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP). Todos eles estão detidos em prisões israelenses.

Que um grupo de prisioneiros palestinos tome tal iniciativa (a simples menção de Israel no documento implica, na prática, no reconhecimento legal do estado judeu por todos os signatários) e que essa iniciativa seja obliterada, na política e na mídia, por uma ação violenta do governo que os mantêm presos, diz muito do que se pode esperar da “política de boa vontade” israelense em relação a paz.

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