Nelson Mattos Filho – Velejador
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Sempre pensei que a vida a bordo despertasse muita curiosidade, dúvida e interesse, isso aconteceu comigo e ainda hoje sou um eterno curioso da vida no mar. Nunca perdi o interesse em discutir as experiências vividas por velejadores cruzeiristas. Assim, vou aprimorando os conhecimentos, dirimindo minhas dúvidas e adquirindo informações sobre as próximas rotas e como enfrentar problemas que por ventura encontre no mar e na vida a bordo.
Leitores e pessoas com quem converso, sempre têm muitas perguntas, alguns chegam a se espantar quando sabem que moro a bordo de um veleiro. Os comentários variam de corajoso a vida boa, mas na verdade todos admiram e se dizem dispostos a viver um modo de vida alternativo, não precisamente a bordo de um veleiro, mas com a pretensão de fugir do estresse causador de tantos males.
Como fiz em artigos anteriores, selecionei algumas das perguntas mais freqüentes:
Vocês só comem peixes?
Não, fazemos uma alimentação normal, carne, frango, frutos do mar e peixe. Gostamos muito de peixe, mas, mesmo morando a bordo, não temos peixe todo dia.
Vocês pescam muito?
Não, pescaria nunca foi meu forte. Em viagem colocamos a linha com isca artificial, nem sempre pegamos algum peixe, mas se um morde a isca, vira sashimi ou vai para a panela. Ancorado raramente pescamos.
Qual a pior dificuldade enfrentada?
Nossa navegada mais difícil foi de Salvador para Maceió, em 2006. Pegamos muita chuva e ventos fortes, uma navegação que normalmente faríamos em 2 dias, fizemos em 4. Todo esse tempo molhados e com muito frio. Foi uma navegada muito incomoda, mas, rica em experiência.
Vocês pretendem sair do Brasil?
Por enquanto não esta em nossos planos. Nosso objetivo é a costa brasileira, que é muito bonita e tem muito para se ver. Porem vivemos ao sabor das correntes e dos ventos. Quem sabe um dia nossa proa aponta em outra direção! A bordo, a mudança de rumo acontece naturalmente. Às vezes a rota planejada não é a mais indicada.
Qual a velocidade do Avoante?
Nosso barco não é rápido, navegamos em torno de 5 a 7 nós de velocidade. Na empopada, vento entrando pela popa, atingimos 11 nós, mas tem que ser muito vento e corrente a favor. Um nó de velocidade corresponde a 1,852 Km, o mesmo de uma milha náutica por hora
Precisa de documento para navegar?
Sim, o comandante da embarcação precisa estar habilitado pela Marinha para área que pretende navegar. Entenda-se por comandante todo aquele que estiver no governo da embarcação.
O barco tem documento?
Sim, tem que ser registrado na Capitania dos Portos, seguir as exigências legais e cumprir todas as normas de segurança, após ser vistoriado e aprovado, recebe o documento obrigatório que da direito a navegação.
Quais os custos de uma viagem?
Tudo vai depender dos hábitos de consumo, os custos indispensáveis são: alimentação, manutenção e taxas.
Como passar o tempo quando se estar navegando?
Se não estamos no turno de comando, podemos ler alguma coisa, cozinhar, ouvir musica, arrumar a cabine, pescar, dormir ou simplesmente olhar o mar. Nunca faltam coisas para se fazer num ambiente que balança o tempo todo.
Como velejar contra o vento?
Não velejamos contra o vento, velejamos o mais próximo possível da linha do vento. Se nosso objetivo estiver contra o vento, fazemos zig-zag até alcançar o ponto desejado.
Como saber que estamos no caminho certo?
Através da Carta Náutica, bussola e GPS. Com essas ferramentas navegamos em segurança e não ficamos perdidos no mar. Conferimos a posição e o rumo constantemente. Os GPS mais modernos já vêm com cartas náuticas digitais, que facilitam muito a navegação.
E como fazer a noite?
Do mesmo modo do dia, o barco segue seu rumo normalmente, apenas quem esta no comando, precisa ficar mais atento e se acostumar com a visão noturna. Os problemas são objetos flutuantes e barcos de pescas sem iluminação.
Qual foi a decisão mais difícil?
Cortar as amarras da vida em terra. Conseguir zarpar é uma vitoria.
Se você tem alguma pergunta ou discorda de alguma resposta, passe um email que prometo responder.