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Vida e suor no Barro Blanco

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Ramon Ribeiro
Repórter

Escritor que passou a infância e adolescência em Natal, José Mauro Vasconcelos (1920-1984) é um dos campeões de venda da literatura brasileira. Seu best seller maior é “Meu Pé de Laranja Lima” (1968), romance que bateu os dois milhões de exemplares vendidos no Brasil – no exterior o livro foi publicado em 23 países. A obra ligou bastante o escritor ao público infanto juvenil, mas sua bibliografia atende a todas as idades.

José Mauro inseriu nas obras memórias de  sua vida em Natal

Da safra adulta, quatro obras ganharão reedição especial pela editora Melhoramentos em 2020, ano do centenário do autor. São elas “Banana Brava” (1942), “Barro Blanco” (1945), “Longe da Terra” (1949) e “Vazante” (1951).

“Barro Blanco” tem uma forte ligação com o Rio Grande do Norte. A história se passa em Macau e explora o ambiente das salinas. No centro da trama está Chicão, sertanejo que numa época de seca extrema resolve seguir o exemplo de outros retirantes e ruma para o litoral em busca de  trabalho. Em Macau encontra a dura realidade dos operários das salinas, um trabalho pesado, em condições insalubres, que corroía o corpo e a alma. Chicão então vislumbra outro destino pra si, indo tentar algo no Porto de Macau, onde se torna marinheiro. O negócio vai bem, ela passa a ser respeitado, se apaixona, mas um dia, no entanto, tudo é posto em risco quando aceita transportar uma carga de sal à Maceió num período de grandes temporais.

O livro fez grande sucesso. Para se ter uma ideia, quando José Mauro Vasconcelos veio lançar “Meu Pé de Laranja Lima” em Natal, em 1968, foi noticiado que “Barro Blanco” estava em sua sétima edição, tendo ultrapassado os 100 mil exemplares no Brasil – e outros 40 mil na Hungria.

Nascido em Bangu, no Rio de Janeiro, mas criado em Natal, José Mauro Vasconcelos sempre manteve os laços com a capital potiguar. Vinha com frequência passar férias e rever familiares. Nessas vindas ele já era escritor conhecido, mas quando estava na cidade evitava encontros literários. Sua rotina era ir à praia, comer peixada, encontrar amigos das antigas. Seu estilo de vida era simples, direto, corpo a corpo, aventureiro, aspectos que se refletiam nas histórias que contava.

Teve uma vida fascinante. Tanto que chegou a ser citado pela imprensa como o Jack London brasileiro. Ao invés dos bares e rodinhas de intelectuais, preferiu encarar o Brasil real nas excursões ao interior do país com os irmãos Villas Boas. Exerceu também uma série de atividades, desde camelô a lutador de boxe, passando por modelo vivo, ator de televisão, bailarino de cabaré e garçom de boate. Tinha coragem de viver e era capaz de tudo para ganhar a vida.

Na época que escreveu para o cinema, mais precisamente em 1950, esteve em Natal fazendo pesquisas de locação para colocar a cidade como cenário de um dos filmes de Alberto Cavalcanti. Tratava-se do longa “O Canto do Mar”, adaptação para o ambiente brasileiro do original “En Rade” (1927). Escalado para fazer a adaptação, José Mauro chegou a dizer em entrevista ao Diário de Natal que se inspirou no cais, nas Rocas, Praia do Meio e Areia Preta. Mas o filme acabou sendo gravado no Recife.

Na vasta obra de José Mauro, outros livros contém memórias de sua vida em Natal. E são justamente os livros que mostram o famoso personagem Zezé, do “Meu Pé de Laranja Lima”, só que em outros momentos de vida.  Em “Vamos Aquecer o Sol” (1974), Zezé é um pré-adolescente morando na capital potiguar com a família de seu padrinho médico. E em “Doidão” (1963), Zezé, agora apenas Zé, está no início da juventude e completamente seduzido pelo lado aventureiro da vida. Ambos os livros ganharam edições comemorativas no ano passado pela editora Melhoramentos.

“Meu Pé de Laranja Lima”, “Vamos Aquecer o Sol” e “Doidão” formam a trilogia autobiográfica do autor, sendo que referente a sua infância e juventude. Em se tratando da vida adulta, algo semelhante pode ser visto em “Confissões do Frei Abóbora” (1966). No livro o protagonista (que de frei não tem nada) faz bicos como modelo para estudantes de arte. Mas depois de uma desilusão amorosa, ele parte para o Norte em expedições indígenas. Alguns leitores vêem no personagem a fase adulta do menino Zezé. A obra rendeu a José Mauro Vasconcelos o prêmio Jabuti de Melhor Romance.
Conheça os livros que a editora Melhoramentos vai relançar até o final do ano:

Banana Brava (1942)
A busca por riqueza leva para os canfundós de Goiás uma legião de garimpeiros. Dentre eles, está o jovem Joel, filho de uma família de classe média alta que resolveu encarar a sorte no garimpo Banana Brava. No local ele enfrenta a rotina pesada em atividade tão bruta. Livro de estreia de José Mauro Vasconcelos, publicado quando ele tinha 23 anos. O prefácio da primeira edição é de Câmara Cascudo.
Barro Blanco (1945)
O protagonista deste romance nasceu no sertão do Rio Grande do Norte, foi abandonado pela família e acolhido por um fazendeiro local. Em uma época de seca extrema, resolve seguir o exemplo de outros retirantes e ruma para o litoral em busca de uma melhor sorte. Em Macau se depara com a dura realidade dos trabalhos nas salinas e passa a planejar uma vida melhor como marinheiro.
Longe da Terra (1949)
O livro aborda a temática ecológica e indígena, ao descrever o vilarejo de Leopoldiana, às margens do rio Araguaia, e o encontro do homem branco com o índio. A obra também fala de crendices regionais e lendas indígenas. E revela, na parte final, os motivos que levaram o narrador a abandonar a civilização e a embrenhar-se na selva.
Vazante (1951)
Neste livro José Mauro flerta com o romance noir, ao criar uma trama de mistério que se passa num presídio instalado numa ilha. Ali, um novo delegado chega para substituir o antigo, que morreu. E ele passa a conviver com o personagens do local, bem como com seus dramas pessoais.
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