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Violência digital avança e assusta

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Há uma onda de violência avançando numa escalada espantosa sem que a sociedade se dê conta. Crimes orquestrados e processados com um simples comando por meio de uma tecla ou botão do “mouse” — de morte, seqüestro, roubo, tráfico, comércio sexual, discriminação, falsidade ideológica, calúnia e difamação — são cada vez mais comuns. Para se ter uma idéia, de 2005 para 2006, a quantidade de sites de conteúdo racista e de propagação do sentimento de intolerância aumentou em quase 30%, passando de 2.600 para 3.300, segundo uma pesquisa na internet realizada por uma organização judaica.

A violência digital alcança proporções gigantescas alimentando-se do despreparo e desatenção da polícia e da Justiça quanto ao assunto. Aliado a isso, a ilusória certeza do anonimato e a idéia da suposta impunidade levam cada vez mais gente a usar o computador para cometer crimes.

É o que diz o advogado especializado em casos de crimes digitais Hallrison Souza Dantas, presidente da Comissão de Direito e Tecnologia da OAB no Rio Grande do Norte. O advogado fala que a violência na internet tem crescido espantosamente, e o que mais assusta, segundo ele, é o fato de a polícia e Justiça brasileiras não terem acordado para o problema. O mesmo se pode dizer da população. 

“A questão não está sendo encarada com seriedade pelo poder público. As famílias também não se preocupam com o que os filhos acessam nem ponderam sobre o tipo de atividade que eles desenvolvem no computador. Sem que ninguém saiba, jovens podem estar se engajando num romance com um seqüestrador ou em algum tipo de comunidade que faz apologia à violência, o que tem se tornado cada vez mais comum”, diz Hallrisson, citando como exemplo sites terroristas que ensinam a fabricar bombas e comunidades como “homicidas, genocidas e suicidas”, que no site de relacionamento Orkut arregimenta mais de 90 pessoas. 

O advogado entende que o conteúdo da Internet é subestimado. “Os crimes saem do mundo virtual. Há sempre a possibilidade de um grupo desses estar angariando simpatizantes para organizar alguma coisa”, diz Halrisson, justificando seu argumento com o episódio da briga entre torcedores do Botafogo e Vasco contra integrantes da Young Flu, do Fluminense, no dia 7 de setembro. O confronto, marcado pelo Orkut, deixou um morto, dois feridos e dois carros destruídos pouco antes do jogo.

“O confronto chamou atenção porque numa briga de torcida o normal é as pessoas correrem para longe do centro da confusão. Nesse jogo, não. As pessoas correram para o meio do tumulto. A briga foi combinada, com a hora, o local e a razão”, fala o advogado. 

O uso da internet por torcidas organizadas de futebol com esse fim é comum. As torcidas rivais Máfia Vermelha e Gang Alvinegra, do América de Natal e ABC, respectivamente, mantém sites onde são feitas ameaças e promessas de mortes. As manifestações de intolerância também estão no Orkut. Na rede de relacionamento, há inclusive as ligações das torcidas daqui com as de outros Estados.

Hallrisson defende que os instrumentos necessários para investigar os crimes digitais estão disponíveis. Inclusive, seria possível evitar crimes se fosse dada mais atenção aos avisos postados na internet. “Já aconteceu de uma pessoa anunciar um crime e ele acontecer. Se a polícia fosse confrontar o que é dito no mundo virtual com o que acontece no mundo real muita coisa iria bater”, diz Halrisson.

Segundo ele, identificar o criminoso que atua por meio da internet é mais fácil do que achar aquele que age no mundo real. “Não existe anonimato na internet. O IP (Protocolo de Internet) identifica o computador de onde a mensagem foi originada. É um começo para chegar ao responsável”.

Território considerado sem nenhuma fronteira

A internet é um território sem fronteiras. Por isso as pessoas ficam muito mais expostas. Elas podem ser vítimas não importando onde estejam. Um exemplo: é grande o número de invasões a contas bancárias em Natal, considerada uma cidade das menos violentas.Hallrisson Souza Dantas fala numa estimativa de uma conta invadida a cada dia. De acordo com o advogado, as agências bancárias possuem a mais alta tecnologia para proteger o sistema. Para ele, a culpa é do usuário, que não toma os devidos cuidados.

O advogado tem vários clientes que  foram vítimas de crimes cometidos por meio da internet. Um dos clientes o procurou após ele e a família passar a sofrer ameaças. Pessoas que foram lesadas ao fazer transação eletrônica é o mais comum. Segundo ele, o site Mercado Livre tem dado muita dor de cabeça ao brasileiro.

Hallrison informa que no Rio Grande do Norte no ano de 2006 mais de 50 ações foram ajuizadas referentes à compra de passagens aéreas via internet. De acordo com o advogado, as pessoas caem em golpes por uma questão de falta de cautela. “É uma questão cultural”.

Formas de se precaver, existem, e também de ter controle sobre o conteúdo que crianças e jovens acessam. O protect, por exemplo, permite controlar o acesso à distância. Cada vez mais gente tem acesso à informática. Isso é bom, mas a vigilância tem que aumentar. Estima-se que em cada dez lares da classe média, um tem computador.Mas hoje, só a máquina, não satisfaz a necessidade. As pessoas querem ter internet. “Antes, as escolas diziam: venham para cá, que nós somos os mais preparados. Agora é assim: venha para nossa escola, que nós temos computadores com internet”, diz.

 

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