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Visita do Papa a Madri atrai aplausos e protestos

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Madrid (AE) – O papa Bento XVI lamentou ontem o que chamou de “eclipse” de Deus na sociedade moderna, ao viajar para um famoso monastério da Espanha, no segundo dos quatro dias de sua visita ao país. O pontífice criticou a visão utilitarista da educação que, segundo ele, esquece a busca da verdade e favorece os abusos da ciência e o totalitarismo político. Bento XVI teve ontem uma reunião com o primeiro-ministro espanhol, José Luiz Rodríguez Zapatero, e rezou uma missa na praça Cibeles de Madri.  “Constata-se uma espécie de eclipse de Deus, uma certa amnésia, mais ainda, um verdadeiro rechaço ao Cristianismo”, afirmou o papa. “Uma negação do tesouro da fé recebida, com o risco de perder aquilo que mais profundamente nos caracteriza.”
Bento XVI chega ao monastério San Lorenzo del Escorial, onde celebrou missa para milhares de peregrinos reunidos na praça Cibeles
Milhares de manifestantes contra a visita do papa se reuniram na Estação Atocha de trens e metrô e marcharam até a Puerta del Sol, próxima à praça Cibeles onde Bento XVI discursou mais tarde. Nove vans da polícia espanhola acompanharam os manifestantes. Choques entre policiais e manifestantes ocorreram na quarta-feira e ontem e nesta sexta-feira a polícia dispersou com cassetetes cerca de 150 manifestantes que se aglomeravam na Puerta del Sol.

“Chega de brutalidade policial”, dizia uma faixa dos manifestantes. Os jovens espanhóis protestaram contra os gastos do governo com a visita de Bento XVI. O desemprego na Espanha está em 21% da força de trabalho e o país atravessa uma recessão.

Nesta terceira visita à Espanha, o papa enfatizou uma importante preocupação de seu pontificado: a perda das raízes cristãs na Europa. Não é de se estranhar que a Espanha, uma nação que foi um bastião do catolicismo e paladina da Contra Reforma – que combateu a Revolução Protestante -, seja o país mais visitado em seus seis anos de papado.

Mais cedo, antes de ir à praça Cibeles, o pontífice se dirigiu a 2 mil jovens religiosas congregadas no monastério de El Escorial, nas proximidades de Madri, imponente construção renascentista do século XVI ordenada pelo rei Felipe II, atualmente panteão dos reis da Espanha e moradia de monges da ordem de Santo Agostinho. Bento XVI pediu às religiosas que exercitem a “radicalidade evangélica”, para fazer frente “à mediocridade e ao relativismo”.

O papamóvel foi acompanhado por centenas de jovens que participam da Jornada Mundial da Juventude na capital espanhola. Após o encontro com as religiosas, o papa se dirigiu a 1.500 membros da comunidade universitária, entre professores e alunos.

O pontífice criticou o modelo de educação “utilitarista”, dedicado exclusivamente a formar profissionais competentes e eficazes que satisfaçam a demanda laboral em cada momento. “Sabemos que quando a utilidade e o pragmatismo imediato se tornam critério principal, as perdas podem ser dramáticas”, afirmou ele. “Desde os abusos de uma ciência sem limites, além dela mesma, até o totalitarismo político que se aviva facilmente quando se elimina toda referência superior ao mero cálculo do poder.” Antes de viajar para El Escorial, o papa visitou o rei Juan Carlos e a família real no palácio da Zarzuela.

Procissão em Madri lembra  vítimas de abusos sexuais

O papa Bento XVI ouviu preces pelas vítimas de abusos sexuais ao comandar uma enorme procissão com dezenas de milhares de jovens na Espanha. A procissão da Via-Crúcis pelo centro de Madri foi o ponto alto do segundo dia da visita do papa à Espanha. Foram lidas preces com menções a diferentes setores da sociedade que enfrentam sofrimentos. “Jesus sofre com todos aqueles que são vítimas do genocídio humano onde a violência brutal explode, ou vítimas de estupros e abusos sexuais, os crimes contra as crianças e adultos”, disse a prece.

Em silêncio, representantes de diversos países e grupos sociais — inclusive jovens desempregados e pessoas perseguidas por suas crenças — se revezaram carregando uma cruz simples, de madeira, que representa aquela onde Jesus morreu. Imagens sacras, geralmente levadas às ruas só nas famosas celebrações da Semana Santa espanhola, também estavam na Via Crúcis. “Foi uma experiência muito emocionante, inesquecível. Uma experiência ímpar. As estátuas da Semana Santa são uma das coisas mais incríveis que a gente pode ver na Espanha”, disse o paraguaio Ricardo Ramírez.

As preces, escritas por freiras espanholas para a ocasião, refletem a dor e o escândalo que a Igreja sofreu nos últimos anos devido à revelação de casos de abusos sexuais de crianças por padres em vários países. O papa já pediu perdão por esses abusos, mas grupos de vítimas dizem que o Vaticano não se empenha suficientemente para levar os culpados à Justiça.

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