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Viva a nossa gastronomia

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João Medeiros Filho
Padre

Segundo o relato dos evangelistas, Cristo apreciava os alimentos e bebidas, a ponto de ser acusado por seus adversários de “comilão e beberrão” (Mt 11, 19). Pelo sacramento da Eucaristia, Ele transubstanciou o pão e o vinho em seu corpo e sangue. E assim se definiu: “Eu sou o pão da vida” (Jo 6, 8). O alimento é sagrado. Nesse contexto, ainda é costume entre os cristãos começar as refeições com orações e a benção da mesa. Os mosteiros medievais legaram ao Ocidente receitas de pratos e bebidas. Os monges eram exímios fabricantes de vinhos, licores, cervejas, tortas, bolachas, biscoitos etc., além de desenvolver várias técnicas agrícolas.

No final de janeiro passado, o Brasil participou do “Bocuse d´Or”, um campeonato mundial bienal de chefs. Recebeu este nome em homenagem a seu organizador. O evento acontece, em Lyon (França), junto com a feira do Salão Internacional de Restaurantes, Hotelaria e Alimentação – SIRHA. Trata-se de uma prestigiada competição do mundo da gastronomia. Nela, a preparação dos pratos acontece diante do público.  Antes, não se podia acompanhá-la, pois os profissionais atuavam nas cozinhas. A SIRHA tornou-se uma renomada feira internacional do ramo. Hoje organiza também outros concursos, inclusive a Copa do Mundo de “Patisserie” e o Concurso Mundial do Pão.

Com ingredientes do norte e nordeste, destacando-se raízes da floresta amazônica, tucupi preto, puxuri, tapioca hidratada e leite de coco, o Brasil participou desse evento mundial, defendendo nossas tradições e hábitos alimentares. A equipe brasileira contou com a presença de especialistas, como a do chef Luiz Filipe Souza, assessorado por Giovanna Grotti, vencedora da versão latino-americana do Bocuse d´Or 2017. Nossos gastrólogos demonstraram que os sabores brasileiros podem agradar diferentes tipos de paladar. Esse time de estrelas da nossa culinária elaborou receitas inéditas, capazes de encantar outras nações. Enquanto os chefs participavam das provas, dez empresas brasileiras mostravam ali o diferencial dos ingredientes nacionais a cerca de oito mil compradores de diversos países. Nessa feira, as melhores empresas desse tipo de negócio disputam a atenção do mercado consumidor. As empresas brasileiras estimam que as transações comerciais feitas no “Bocuse d´Or” 2019 deverão render milhões de dólares a nosso país nos próximos meses.

“A cada evento os clientes vão conhecendo as diversas formas de usar nossos produtos, e se encantando com os ingredientes que oferecemos”, explicou Fernando Arruda. Este levou para o encontro a tapioca hidratada e o leite de coco, um dos produtos mais requisitados por quem buscava novidades. Sobressaíram igualmente o açaí e as polpas de frutas, oriundas do norte e nordeste. O Mestre da Galileia já dizia: “Só em sua própria terra, um profeta não é valorizado” (Mc 6, 4). Muitos compatriotas se deslumbram com comidas e bebidas importadas. Produzimos uvas de exportação e cachaça de excelente qualidade. Renovamos aqui nosso convite para revisitar o inesquecível mestre Cascudo, desta feita em sua obra “Prelúdio da Cachaça”. Mas, para alguns, comer pratos e ingerir bebidas alienígenas pode parecer chique, esnobe e talvez confira status.

“É a primeira vez que o Brasil participa da vertente de negócios da SIRHA com resultados promissores”, afirmou Camila Meyer, representante da Agência Brasileira de Promoção de Exportações – APEX.  Ações como essa servem para mostrar a gastronomia brasileira e provar que os ingredientes diferenciados podem transformar pratos tradicionais em algo especial aos olhos do mundo. A diversidade de clima e biomas que o Brasil possui faz com que os cozinheiros possam contar com um manancial de produtos característicos. Isso possibilita levar às mesas de outros povos a riqueza de sabores que temos a oferecer. No estande do Brasil, o chef Guga Rocha preparou um prato de mandioquinha com feijão, castanha de caju, salada de folhas e um toque de vinagre aromatizado com frutas tropicais e nordestinas. Padre Vieira, do púlpito da Igreja dos Jesuítas de Salvador, defendia nossa cultura e apresentava matizes de nosso legítimo patriotismo: “Por que buscais tão longe aquilo de que necessitais, se tendes aqui em abundância e melhor? Ninguém se contenta com o tamanho que Deus lhe deu”.

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