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Vivi

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Diógenes da Cunha Lima 
Escritor, advogado e presidente da ANL
Onze anos sem Veríssimo de Melo. Uma ausência física que dói sempre. O livro “Vivi – O Homem que Sabia Viver”, de Protásio Melo, rendeu-me todas as alegrias, inclusive a emoção de rever Ivete – a esposa/companheira de Protásio – tão linda e cheia de luz nos seus 94 anos. O lançamento ocorreu na antiga Escola Técnica sob a presidência do reitor do IFRN Willys Tabosa.

É riqueza de biografia, trabalho feito com saudade e amor, do irmão de sangue e de afeto, contendo vivências e circunstâncias, marcas de pessoas de imprescindibilidade memorável.

Cultivei a amizade com Veríssimo em convivência diária na Academia Norte-rio-grandense de Letras, no Conselho de Cultura, na UFRN. Sua presença era instigante, inventiva e bem humorada. Às dez horas da manhã o telefone do meu escritório tocava. Uma vez, ouvi: “Você tem mania de…”. Que é isso, Vivi? Primeiro diga bom dia, como vai? É assim que se faz… E ele: “O tema da conversa vai ser apenas sobre suas manias”.

De fato, ele gostava de fazer observações acerca da minha “fixação” em qualquer projeto até que fosse concluído. Na verdade, muito caminhamos juntos. Algumas vezes, ele chegava com o violão, tocava uma composição musical e desafiava-me a colocar letra. Duas delas “Assunto Pessoal” e “Brinco de Amor”, feitas sob seu olhar, foram aprovadas e gravadas no Projeto Memória da UFRN na linda voz de Lucinha Lira.

Também o meu “Livro das Respostas – em face do libro de las preguntas”, de Pablo Neruda, foi instigação sua como está em crônica publicada na biografia. Foi ousadia minha responder a 311 perguntas e perplexidades de quem considero o maior poeta das Américas.

Quando assumi a reitoria da UFRN, perguntei ao amigo queridíssimo que função ele gostaria de exercer. Ele respondeu: “Quero dirigir a imprensa universitária”. E eu: você ganha mais como dirigente do Museu Câmara Cascudo! Vivi: “você não sabe o meu plano. Primeiro vou publicar os meus livros, depois algum seu e outros de amigos selecionados. Os trabalhos da UFRN a gente contrata terceiros”.

Protásio faz muitas revelações escritas por amigos de Vivi. Dorian Gray afirmara, com toda razão, que: “Na Academia (ele) nunca perdeu uma eleição”. A quem o acusara de tirar o nome dos candidatos do colete, respondeu que era mentira. E explicou: Ele nunca usou colete. De fato, Vivi vetava nomes sob as mais exóticas razões. Recusou o nome do cardeal Dom Eugênio Sales, alegando que, quando morava em Natal, o bispo tinha dois cachorros para morder a gente.

Sua admiração musical era inconstante. Ora as velhas canções brasileiras, ora a bossa nova, os guitarristas espanhóis, ou as composições de Oriano de Almeida. Mas havia paixões permanentes. Em crônica de saudade, o poeta Alex Nascimento testemunha: “Oscar Peterson perdeu um dos maiores admiradores do mundo”.

Vivi soube viver singularmente, cultivando as amizades, com alegria, criatividade, humanismo e integridade intelectual.

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