Dr. Jorge Boucinhas
Médico e Professor
O excesso de peso segue a ser um dos fantasmas que as atuais sociedades humanas mais buscam exorcisar. Tanto o é, que os recursos empregados em seu combate segue a ser um dos assuntos que mais chama a atenção, pelo que alguns caem em moda de tempos em tempos. Assim se deu com o objeto de estudo ora abordado, a Pholia Negra, que tivera já momentos de projeção, depois caiu em esquecimento e ora ameaça retornar à voga. A designação abarca um assemblage, rico em fibras solúveis e insolúveis, metilxantinas (especialmente teobromina, teofilina e a cafeína, que estimulam o sistema nervoso e dilatam os vasos sanguíneos), saponinas, pholiagrenosídios, sendo feito à base de varietais de plantas, em maioria ervas do gênero botânico Ilex L., pertencente à família Aquifoliaceae, ao qual pertencem plantas como o azevinho (Ilex perado Aiton) e a erva-mate ou congonha (Ilex paraguariensis). Por falar nesta última, “mate” é termo derivado do quíchua mati, designativo do recipiente onde é bebido o chimarrão, enquanto “congonha” deriva do tupi kõ’gõi, que significa “o que mantém o ser. Em meados do século XVI os guaranis já faziam chás com suas folhas para amenizar o cansaço. Por suas propriedades estimulantes, tal erva chegou a ser proibida pelos jesuítas que a chamaram de “erva do diabo”. Posteriormente, os colonizadores espanhóis difundiram sua produção e emprego.
Estudo realizado durante 10 meses pela professora Maria Martha Bernardi e sua equipe, da Universidade de São Paulo, posteriormente divulgado pela mesma e que alcançou boa repercussão, confirmou que a Pholia Negra é realmente eficiente em ajudar no processo de emagrecimento. Melhor ainda, até o momento os especialistas que a têm estudado não encontraram efeitos colaterais quando de um uso criterioso. À época, sugeriu-se poderia ajudar a reduzir cerca de 10% do peso total no período de um mês, informação que parece um pouco vaga, e não há dados concretos sobre tal informação, bem como sobre a que faria com que o organismo permanecesse durante todo um ano estabilizando o peso alcançado. Mais recente estudo pré-clínico, realizado com ratos Wistar, mostrou a promoção de redução significativa do peso corporal de machos e fêmeas com sobrepeso quando comparados ao grupo controle, tendo sido declarado serem similares aos promovidos pelo tratamento com sibutramina.
Importa que seguiu-se a aprovação do uso pela Anvisa, mas com a ressalva de dever ser qualificada e consumida tão somente como suplemento alimentar. Ainda há desacordo sobre sua forma de agir, e continuam a ser feitos estudos sobre o seu potencial de emagrecimento. O principal motivo por ora estabelecido para sua ajudar na perda de peso não se liga a quaisquer aceleramentos significativos do metabolismo, tratando-se de simples diminuição da velocidade de digestão dos alimentos, com conseqüente demora na percepção da sinalização de saciedade em quem ingere o suplemento. No global, reduz o Quociente Respiratório, o que indica aumento na proporção de gordura oxidada, um efeito favorável para o emagrecimento.
O suplemento natural pode, outrossim, ser empregado com outras finalidades. Sinérgica e consequentemente à atuação anti-obesidade pode reduzir os níveis de colesterol LDL, embora não se tenha encontrado evidências de que possa aumentar o HDL. Ademais, pode se constituir em apoio ao tratamento do Diabetes Melitus, porquanto reduz a velocidade de absorção dos carboidratos ingeridos, com conseqüente redução dos níveis sanguíneos de glicose. Juntando-se isto à redução ponderal e à presença de derivados de cafeiol (ácidos caféico e clorogênico), inibidores da produção de AGEs (produtos finais da glicação e mediadores patogênicos das complicações diabéticas), eis que passa a ser um auxílio alternativo a ser levado em conta no controle da doença sacarina. Uma adicional virtude seria, pela presença abundante de polifenóis, o combate aos radicais livres que degradam os tecidos celulares. Acompanhando tal fator, outro benefício seria seu poder anti-inflamatório.
O suplemento para perder peso deveria, preferencialmente, ser tomado com o fito de evitar a alimentação em excesso, para o que seria tomada antes das principais refeições, em comprimidos de 100mg de 15 a 20 minutos antes de refeição, totalizando 2 ao dia. É preciso precaver-se quanto à noturna, pois ingerida perto da hora habitual de dormir pode gerar insônia pelo seu alto teor em metilxantinas.
Há que diferenciá-la da Pholia Magra, denominação comercial da Ecalyculata vell., conhecida como “barriga seca”, diurética e que contribuiria para maior queima de gorduras localizadas (quiçá por ativar a enzima adenosinamonofosfatoquinase, que altera o metabolismo de ácidos graxos). As duas podem ser utilizadas simultaneamente.