Jaime, jornalista, contista, cronista, crítico literário assinava a seção “Livros e Autores”. Pelo seu crivo passavam autores locais e nacionais. Na abertura da coluna (mês de julho), ele escreveu:
“Esta seção não promete muito. Mas se compromete com alguma coisa. Por exemplo, como a literatura que se faz nestas redondezas. Se tentará falar dos trabalhos dos nossos autores com uma visão crítica, quando couber. Ou com boa vontade, só. Que se pode fazer? As notas sobre livros ou autores de fora se justificarão como manobras para reduzir a monotonia de uma seção onde o tempo todo somente se tratasse duma coisa que quase não existe, a literatura potiguar” (…)
Entre as notas escritas por Jaime, destaco esta:
– O poeta Volonté ficou satisfeitíssimo com os resultados da noite de autógrafos do seu livro mais recente. Se intitula “Cara a Cara” e tem prefácio de Luís Carlos Guimarães. É o segundo livro do poeta, e não será, seguramente, o último. Volonté faz versos muito fluentes e aparentemente sem dificuldades. São de uma espontaneidade flagrante, longe do artificialismo a que outros se agarram para suprir a falta de inspiração. Não são versos de vanguardistas (e quanta baboseira há por aí a título de vanguarda), nem acadêmicos. São versos carregados de poesia. Basta. ”
Na estante aposentada encontro o livro de Jaime, “De Autores e de Livros”, publicado em 1992 pela Editora Queima-Bucha, de Mossoró. O prefácio é de Dorian Jorge Freire, outro nome maior de nossas letras. Temos aí um daqueles livros chamados essenciais, que deveria ocupar todas as estantes potiguares, começando pelos tais cursos de literatura. O livro reúne artigos que Jaime Hipólito publicou nesta Tribuna do Norte e em O Poti. Será a minha releitura neste domingo nos alpendres de Queimadas de Baixo.
Nas releituras desta semana, encontro no “Galo” de junho de 1988 a mensagem de outro astro da nossa literatura, o romancista Antônio Torres, hoje também imortal da ABL, detentor de prêmios literários no Brasil e no exterior. Naqueles anos de 1980, aqui e acolá, Torres dava umas passadas por Natal. Conhecia bem a aldeia e sua gente, sabia esticar as noitadas. Transcrevo a sua mensagem publicada no Galo com o título “Acordar”:
“Quero agradecer pelo envio do simpático O GALO, que li de ponta a ponta, dando de cara com velhos amigos como Tarcísio Gurgel, Socorro Trindad, Ignácio de Loyola Brandão (na secção de cartas), Edla Van Steen, Sérgio Sant’Anna e tantos mais que aparecem, de uma forma ou de outra, neste 2º número que acabo de receber. ”
“Aí fiquei me perguntando: será que Woden Madruga ainda mora em frente de Luís Carlos Guimarães, o Poeta? Será que Newton Navarro já escreveu um livro tão bom quanto “Os mortos são estrangeiro”? Será que Dorian Gray ainda pinta? Será que Natal ainda engarrafa a mais límpida água benta nacional, aquele néctar chamado Murim Mirim? Será que a Redinha ainda está viva e ainda lá? Será que ainda venta em Natal como antigamente? Ou o vento sumiu, cansado de ser personagem de Newton Navarro? Será que Sanderson Negreiros já leu todos os livros do mundo? Será que Nei Leandro de Castro tem aparecido de vez em quando? Será que um dia eu ainda volto por lá? Só sei que O GALO está cantando. Acorda, pessoal. Vamos trabalhar. Vamos escrever. ”
É dele este poema “Epitáfio para o Grande Ponto”: “Aqui jazem/ as melhores lembranças, / os primeiros sorvetes, / o furto dos chocolates, / as conversas mais bestas, / os seriados do Rex, / os porres terríveis, / a adolescência apaixonada, / os comícios da esquerda, / os poetas sem juízo. / E na lousa de asfalto/ escrita a canivete/ a palavra solidão. ” (Do livro “Autobiografia-Poemas”).
Murilo Melo Filho
Jornalista e escritor, Murilo foi imortal da Academia Brasileira de Letras e da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. Natalense, nascido em 13/10/1928, seu jornalismo tornou-se nacional quando, mudando-se para o Rio de Janeiro aos 18 anos, foi repórter da Tribuna de Imprensa (fundada por Carlos Lacerda e Aluízio Alves), anos de 1950. Assinava a coluna “Tribuna Política”, que era transcrita na nossa Tribuna do Norte, a partir de 1951.
Murilo Melo Filho, um homem cordial, afável, gentil, excelente conversador. Um príncipe da cordialidade.