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Walfredo Gurgel terá porta regulada a partir de amanhã

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O Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, em Natal, terá a porta de entrada regulada para pacientes da Região Metropolitana a partir desta quarta-feira (15), como medida para conter as constantes superlotações na unidade. Com as mudanças, somente os casos clínicos graves e politraumas, no caso dos municípios da Grande Natal, serão atendidos no Walfredo Gurgel. Para pacientes de outras regiões do Estado, as mudanças ainda estão sendo analisadas pela Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap/RN) e não tem data para implementação. 
Segundo a Secretaria de Saúde, regulação será iniciada com pacientes da Grande Natal. Sesap avalia implantar no restante do RN
A regulação para o Walfredo será feita por meio de uma filtragem, que deverá ocorrer a partir da análise do perfil do paciente a ser detalhado pelos municípios de origem à Central de Acesso às Portas Hospitalares. “Os profissionais que estarão em atuação nas ambulâncias dos municípios da Grande Natal irão ligar para a Central, que é composta por médicos e enfermeiros, os quais vão estar no Complexo de Regulação do Estado”, explica Lyane Ramalho, secretária adjunta da Sesap. 
“Eles [os profissionais do Complexo de Regulação] vão ouvir sobre as condições do paciente vítima de trauma ou com necessidade de cirurgia e, a depender da complexidade, poderá ser conduzido ao Walfredo”, complementa Ramalho. Para o encaminhamento, os pacientes serão identificados com uma chave de acesso. 
Se o perfil for de baixa complexidade, esse mesmo paciente será encaminhado para outra unidade hospitalar, que será definida pela Central de Acesso. A secretária adjunta da Sesap garantiu que os procedimentos não irão provocar efeitos nos atendimentos, como morosidade, por exemplo. “A gente tem certeza [que não haverá morosidade], porque isso [regulação] já acontece em outros Estados. Nossa equipe da Central de Acesso visitou recentemente o Estado de Pernambuco para conferir como tudo funciona por lá”, afirmou.
Já o paciente que procurar o Walfredo Gurgel por conta própria, será acolhido e passará por avaliação para receber uma classificação de risco. Se o caso for de alta complexidade, o atendimento será ofertado no local. Do contrário, o paciente é encaminhado para uma unidade referenciada, conforme explicou Lyane Ramalho.
No mês passado, o comerciante José Willams Rocha, que era cardíaco, procurou o Hospital Walfredo Gurgel após sentir fortes dores no peito. Sem receber atendimento na unidade, ele foi levado pelo cunhado para o Hospital dos Pescadores, onde morreu após mais de 40 minutos de tentativa de reanimação.
Familiares do comerciante reclamam de descaso por parte dos profissionais do Walfredo. A Sesap abriu uma sindicância para apurar o ocorrido. Segundo Lyane Ramalho, da Sesap, uma campanha de orientação será veiculada nos próximos dias para conscientizar a população sobre a regulação da unidade hospitalar.
“Todo esse processo de conscientização sobre as portas de urgência tem que ser feito de forma muito avaliativa, construído junto aos municípios e às regiões de saúde para que o paciente possa compreender esse fluxo. Fizemos uma campanha que vai ser veiculada nos próximos dias para que o paciente entenda qual é a porta a ser buscada em casos de necessidade”, atestou a secretária-adjunta da Sesap.
“Mas, em nenhum momento ele [o paciente] poderá ser recusado. Por isso a regulação está sendo construída paulatinamente”, completou Lyane Ramalho em seguida. Segundo ela, o Hospital Tarcísio Maia, em Mossoró, também passará por regulação, mas ainda não há previsão de quando os processos irão começar na unidade.
Baixa complexidade
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap/RN), cerca de 50% do número de atendimentos realizados no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel são de casos de menor gravidade e sem regulação. A unidade é a maior do Estado em urgência e emergência, com foco em alta complexidade. Os encaminhamentos ocorrem por meio das unidades da rede de saúde, como as Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) e Unidades Básicas de Saúde (UBS).
“O perfil do Walfredo são os pacientes politraumatizados, pessoas vítimas de arma de fogo, arma branca, dentre outros”, esclarece Lyane Ramalho, da Sesap. Com a mudança, ela espera que haja uma série de melhorias, tanto para os atendimentos quanto para a qualidade do trabalho dos profissionais que atuam no hospital.
“Hoje temos uma sobrecarga de trabalho para quem está nesses serviços. Também há problemas de economicidade, porque o hospital se programa para atender a uma determinada quantidade de pessoas e termina atendendo muito mais. Isso desorganiza todo o planejamento feito pela unidade. A regulação vai melhorar o atendimento e os serviços de saúde. Sem contar que é um incremento na qualidade de vida dos trabalhadores”, aponta a gestora.
A primeira etapa de implantação do sistema que regula a porta do Walfredo envolve os 15 municípios da Região Metropolitana. Além da capital, as cidades de Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante, Extremoz, Ceará-Mirim, São José de Mipibu, Nísia Floresta, Monte Alegre, Vera Cruz, Maxaranguape, Ielmo Marinho, Arês, Goianinha e, agora, Bom Jesus deverão encaminhar pacientes para o hospital apenas por meio de regulação.
Segundo a Sesap, atualmente, os 15 municípios respondem por 70% da demanda do Walfredo Gurgel. São cerca de 170 atendimentos por dia e mais de 5 mil ao mês. Lyane Ramalho afirma que espera contar com a colaboração dos municípios para que a regulação seja efetivada com sucesso. “Esperamos [dos municípios] uma boa capacidade de resposta”, destaca.
Tentativa de regulação vem desde os anos 1990
As tentativas de regulação do Hospital Walfredo Gurgel se arrastam desde o ano de 1999, quando uma ação do Ministério Púbico condenou o Estado a adotar “providências imediatas para que os pacientes internados nos corredores” da unidade recebessem os devidos cuidados em locais apropriados. A promotora da Saúde, Iara Pinheiro, resgatou a atuação no caso.
“A regulação é urgente porque a situação está cada dia mais insustentável. Essa é uma execução de sentença que se iniciou em 2017. Naquele primeiro momento, foi dada prioridade à abertura de leitos de retaguarda em outros hospitais para dar suporte ao Walfredo”, relata a promotora, sobre a data escolhida para o início da regulação, na próxima quarta-feira.
Para Iara Pinheiro, a desordem observada hoje no acesso ao Walfredo Gurgel traz inúmeros prejuízos para os pacientes graves e é isso que se espera resolver com o controle de acesso à unidade. “A regulação vai filtrar o paciente grave para que ele não precise concorrer com o paciente de menor complexidade”, aponta ao descrever a estrutura do próprio Walfredo, que atrai, segundo ela, grande quantidade de pacientes para atendimento.
“É um hospital grande, com 220 leitos e uma porta muito bem estruturada e cobiçada, porque está aberta à população 24 horas por dia, sete dias por semana. Nós entendemos que essa porta é para o paciente grave, porque para ele não há outra opção. Veja o caso do Centro de Queimados do Walfredo, por exemplo: não há estrutura similar na rede privada”, indica a promotora.
Em janeiro, segundo ela, a expectativa é de uma reunião junto ao Judiciário para a continuidade do acompanhamento do processo de regulação. “Fizemos uma acordo com a Sesap para que fosse estabelecida uma data para o início da regulação e esse acordo foi cumprido. A regulação é a medida mais importante, porque, primeiro é preciso organizar o lado de fora, para depois organizar o que está interno. Estou pedindo uma audiência judicial em janeiro para a continuidade do acompanhamento desse processo”, pontua.
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