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Xilo na chinela

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Yuno Silva
Repórter

Colaborou: Cinthia Lopes
Editora

Arte milenar de origem oriental, a xilografia alcançou a Península Ibérica na Idade Média de onde atravessou o Atlântico até aportar no Nordeste brasileiro junto com a literatura de cordel. Apesar de tradicional na região, ainda é uma linguagem artística pouco conhecida do grande público – que, na maioria dos casos, não consegue dissociar a arte gráfica da literária: xilogravura é uma coisa, poesia de cordel é outra. “São duas artes distintas, independentes, autônomas, que em determinado momento histórico se encontraram”, ensina o xilogravurista natalense Erick Lima, que há 12 anos começou a fazer seus primeiros entalhes e hoje circula no peito e nos pés das pessoas.

A parte educativa da Bodega da Xilo já atrai público diverso interessado na arte da gravura


A parte educativa da Bodega da Xilo já atrai público diverso interessado na arte da gravura

A arte de Erick, que já estampou campanha do Google em 2017 em homenagem ao Dia do Nordestino (8 de outubro), transcendeu plataformas e está estampada em camisas, canecas, blocos de notas, imã de geladeira e chinelos.

Filho do poeta popular Abaeté do Cordel, ele explicou que não  faz xilogravuras “só para ilustrar folhetos de cordel. Já fiz diversos tipos de trabalho: capa de disco, ilustração de livros didáticos, campanhas publicitárias para todo tipo de produto. É uma técnica artística autônoma, mas que tem uma função dentro do universo da literatura de cordel por isso esse forte vínculo no nosso imaginário”.

A ideia de personalizar sandálias não é de agora, mas só a partir deste ano que a proposta engrenou. Erick Lima já vendia outros tipos de produtos, até que começaram a perguntar se ele não estamparia chinelos. “Independente do suporte, o mais importante é divulgar a técnica da xilogravura: ainda pouco conhecida e pouco valorizada, mas muito bem considerada entre artistas visuais e na academia. Vejo boa aceitação entre pessoas que valorizam não só a característica funcional da peça, mas tem interesse em vestir um produto artístico diferenciado, exclusivo e artesanal”.

As gravuras são todas autorais, levam o selo do ateliê Bodega da Xilo, e retratam paisagens sertanejas, cangaço entre outras nordestinidades. “Traz uma identidade visual que se relaciona com o imaginário e o sentimento das pessoas”, disse Erick Lima, que também é professor da rede pública de ensino do Estado.

Sandálias tipo Havaiana trazem ilustrações da cultura do cordel

                               Sandálias tipo ‘Havaiana’ trazem ilustrações da cultura do cordel

Bastante requisitado para ministrar cursos e oficinas em escolas públicas e privadas, para turmas dos ensinos Fundamental e Médio; já realizou palestras e oficinas em universidades.

Elemento pedagógico
Erick Lima lembrou que também utiliza a arte da xilogravura em sala de aula como elemento pedagógico de ensino e aprendizagem. “Nesses momentos, além de repassar a técnica e ampliar o conhecimento sobre a xilografia, aproveito para ensinar sobre a história do lugar e como a inspiração vem dessa contextualização. Foi assim em Ceará Mirim, no bairro das Rocas em Natal, em São Gonçalo do Amarante, onde sou monitor de uma instituição que atende menores que estão cumprindo medidas socioeducativas”, destacou o artista, que oferece oficinas e cursos para qualquer pessoa interessada em aprender sobre xilogravura no espaço cultural Casa do Cordel, na Cidade Alta. Informações sobre as atividades e encomendas pelo telefone 98809-5178. 

No momento Erick organiza uma exposição no Museu de Nísia Floresta (cidade distante 30 km de Natal) com gravuras e cordéis da coleção Dez Mulheres Potiguares – coletânea formada por folhetos escritos por mulheres, sobre mulheres que deixaram sua marca na história como a cantora Glorinha Oliveira e a atriz Clotilde Tavares; a própria Nísia Floresta (1810-1885), as poetisas Auta de Souza (1876-1901) e Zila Mamede (1928-1985), a professora Leilane Assunção (1981-2018), a escritora Anna Maria Cascudo (1936-2015), Palmyra Wanderley (1894-1978), e a educadora Noilde Ramalho (1920-2010).

Os desenhos são assinados por Célia Albuquerque, Erick coordenou a execução das estampas e montou a exposição.

Doodle de xilogravuras foi destaque no Google

Em 2017 para comemorar o Dia do Nordestino, data celebrada em 8 de outubro, o Google entrou com Erick Lima para encomendar uma xilogravura com o “G” da empresa. O trabalho foi utilizado como “doodle”, artes utilizadas pelo Google na página principal da ferramenta de busca, durante todo o dia 8 de outubro de 2017.

Para celebrar o Dia do Nordestino, Erick recebeu uma encomenda do Google: uma gravura em G


Para celebrar o Dia do Nordestino, Erick recebeu uma encomenda do Google: uma gravura em G

“Entraram em contato comigo falando sobre o trabalho, fiquei supreso e muito feliz: significa que o trabalho está sendo visto, valorizado e reconhecido como algo que interessa para uma das maiores empresas do mundo. Foi uma oportunidade muito boa para repercutir a técnica da xilogravura, colocar a linguagem em evidência”.

O trabalho encomendado pedia para retratar o famoso “G” do Google, com elementos da cultura nordestina. Erick fez questão “de puxar a sardinha para o Rio Grande do Norte” ao incluir elementos da cultura popular e da paisagem local.

Serviço
Bodega da Xilo, Casa do Cordel. Rua Vigario Bartolomeu, 605, Cidade Alta. Chinelas sob encomenda pelo Instagram @Bodegadaxilo

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