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Irina Cordeiro: Praiana Tropicana

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Ramon Ribeiro
Repórter

Bela, carismática, de sotaque acentuado e cheio de gírias divertidas, a chef potiguar Irina Cordeiro encantou o Brasil com comentários afiados e, principalmente, com pratos criativos e autênticos. De todos os 16 participantes da 2ª edição do Masterchef, ela talvez tenha sido a que melhor conseguiu imprimir sua personalidade na cozinha. Terceira colocada no programa (vencido pelo mineiro Pablo Oazen), apresentou refeições marcadas pelo uso de ingredientes brasileiros, com muito colorido e toque nordestino, cujo estilo é definido por ela como “Tropical Praiano”.
Irina define sua comida como tropical e praiana
Irina define sua comida como tropical e praiana

A relação com a praia em seus pratos não é por acaso. Nascida em Natal, Irina é apaixonada pelo mar. Na infância, rodou o litoral potiguar, sobretudo as praias do norte. “Adoro torrar no sol de meio-dia”, diz. Em casa, na mesa, não raro se deliciar com com peixes, camarão, caranguejos. Tudo feito com simplicidade e afeto.

E da mesa de casa, ela pegou o gosto pela gastronomia. Se formou sommelier na Itália e há cinco anos passou a cozinhar profissionalmente, tendo destacada atuação justamente no litoral. Além de Natal, já atuou em São Miguel do Gostoso e em Pipa. Fora do RN, trabalhou na praia de Jacumã, na Paraíba.

Com agenda lotada desde o fim do programa, Irina tem levado suas ideias gastronômicas pelo Brasil, sendo reconhecida na rua em cada nova cidade que visita – como na feira pública de Macapá, de onde concedeu parte desta entrevista por telefone a TRIBUNA DO NORTE.

Agora morando em São Paulo, a chef receberá ainda em dezembro a “Cruz do Mérito da Gastronomia”, uma medalha cravejada com seis rubis, concedida pela Academia Brasileira de Honrarias ao Mérito em reconhecimento a potiguar como Personalidade do Ano na Gastronomia. “Tenho sido muito acolhida aonde chego. Levo minhas origens, meu país e afeto nos pratos que faço. Estou cheia de energia e querendo muito agitar a gastronomia dessa terra linda com muita tropicalidade”.

Gastronomia em Natal

Em Natal não vejo muita inovação. Pipa e São Miguel do Gostoso, que são lugares menores, têm mais irreverência na cozinha. A gastronomia na cidade ainda é bastante tradicional. Não há muita gente modernizando pratos. E o problema nem é tanto dos restaurantes. São as pessoas que procuram sempre as mesmas coisas. Risoto, filé, carré de cordeiro com aspargos. Aspargos! E a gente com tantos ingredientes para usar de maneira criativa.

Gosto pela cozinha vem de berço

Meu interesse pela gastronomia vem de casa. Minha avó era boleira, criou os filhos cozinhando. Fazia bolos de casamento, tudo na mão, sozinha. Cresci comendou bolo cru que ficava na vasilha. Mamãe também cozinha muito. Sua galinha é melhor que a do Alex Atala. Hahaha! Na família é tradicional confraternizar ao redor da mesa. A festa da gente era comer.

Infância no litoral norte

Minha infância eu frequentei mais o litoral norte. São praias de beleza natural bem diferente das do litoral sul. São menos comerciais, tem menos movimento. Eu ia muito a Genipabu com a família. Passava o dia torrando no sol. Meus pais ficavam na barraca comendo e eu dormia em baixo da mesa.

Identidade tropical praiana

Minha comida é tropical e praiana. Gosto muito de vegetais frescos. Adoro tudo que vem do mar. Defendo o consumo de ingredientes de acordo com o que está disponível por perto. Eu não me inspiro em chefs. Eu me inspiro nas coisas, na arte, em outras linguagens. Nos meus jantares pelo Brasil faço questão de explicar a origem dos meus pratos. A comida pra mim tem que ser simples e afetiva. Mas apesar da simplicidade, não deixo de dar sofisticação.

Reconhecimento nacional

Tem essa história de (Câmara) Cascudo de que Natal não consagra ninguém. Acho que consegui quebrar essa barreira. Depois do Masterchef fui muito bem acolhida. As pessoas me param na rua para conversar. Entre alguns acadêmicos já se fala da minha comida. Levei minhas raízes para os meus pratos e consegui ser reconhecida por isso. Sou muito grata ao Masterchef. Ter participado do programa me ensinou muito e só trouxe coisas boas. Quem antes via com preconceito meu sotaque hoje já aceita.

Pratos importantes

A prova da galinha (frango) que ganhei representou bastante as minhas origens. É uma receita da minha mãe que me destacou nacionalmente. Pra você ver como a galinha dela é maravilhosa! Mas também meu último prato, na prova estética, onde fiz uma releitura do camarão na moranga, também me marcou muito.

Projeto com colegas de programa

O Bioma Cozinha do Brasil é um coletivo de resgate da gastronomia brasileira. Eu, a Mirna (Gomes) e Guilherme (Cardadeiro) nos unimos nesse projeto novo por compartilhar dos mesmo interesses. O coletivo terá vários braços de atuação. Vamos promover estudos, oficinas, jantares, consultorias. Já estamos começando uma pesquisa sobre plantas do cerrado. E estamos nessa com a colaboração da chef Bel Coelho. O cerrado é um dos maiores biomas do Brasil e tem elementos muito fortes.

Restaurante secreto

Em São Paulo tenho alguns projetos de cozinha autoral. Quero muito desenvolver meu projeto de restaurante secreto, itinerante, o Stricto, que já fazia em Natal. Era algo que Soninha (Benevides) também fazia com seu O Bule, num lugar bem remoto. Mas aquela rotina de restaurante mesmo, por enquanto não está nos planos. Não gosto muito de fazer todo dia o mesmo prato. E tenho recebido convites de todo o Brasil para ministrar aulas e preparar jantares.

Lado espiritual

Sou espiritualizada demais. Faço estudos místicos. Gosto de cantos indianos, xamãs, celtas, mantras. Sou uma pessoa muito cheia de energia e esses cantos ajudam a centrar os pensamentos. Fiz muito isso no Masterchef. Acredito em tudo que tem a natureza como precursor de fé. Ela é nossa grande mãe.

Um ano inteiro de praia

Quando pequena, acho que estava na terceira série, lembro de passar um ano sem estudar, só pra ficar viajando pelas praias do Nordeste. Depois fiz uma prova e passei de série. Meu sonho naquela época era fazer isso todo ano. Não consigo ficar muito tempo longe de praia. Preciso de sol. Tenho uma ligação ancestral com o mar, ele me limpa e me revigora. É na praia que encontro inspiração, calma. É a minha casa.

Tatuagens

Tenho um caranguejo na perna. Representa o mangue, que é um ambiente de renascimento, onde tudo cresce. Sou meio mangueboy. Mas também tenho um braço só de tatuagens com referências gastronômicas. Tem peixe, polvo. Quero fazer agora uma ginga.

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