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Nova morada para a arte popular do Brasil

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Ramon Ribeiro
Repórter

A arte de importantes mestres artesãos de todo o Brasil se encontra em Francisco Dantas. Com quase 3 mil habitantes, localizada a 365 km da capital, no oeste potiguar, na chamada “Tromba do Elefante”, o pequeno município ganhou no dia 31 de dezembro de 2016 a Fundação Cultural Professor Jairo José Campos da Costa, um museu voltado para a arte popular nacional.
Peças e máscaras de artistas de Pirenópolis-GO, Porto de Pedras-AL e Bezerros-PE formm parte da coleção do doador
A iniciativa é do professor Jairo Campos, 40 anos, que dá nome ao espaço. Natural de Francisco Dantas, ele vive longe da cidade desde 2004, quando partiu para seguir a carreira acadêmica em Letras. Atualmente reitor da Universidade Estadual de Alagoas, Jairo não esqueceu de onde veio, principalmente das carências do lugar em que nasceu.

Colecionador de arte popular há 15 anos, ele decidiu disponibilizar parte de seu acervo com a criação do museu. Em exposição há mais de 500 peças de todas as regiões do país. São obras que abordam temáticas variadas, desde registros do cotidiano, personagens, passando por manifestações religiosas, folclore, costumes, até expressões festivas. No montante há arte indígena, como a marajoara, a tradição do barro de Taubaté (SP), máscaras de Pirenópolis (GO), bonecos de Manoel Eudócio (Caruaru), além de mestres potiguares como Ambrósio Córdula (Acari), Zé de China (Major Sales), Dona Luzia Dantas (Currais Novos), Dona Rosa (Encanto), dentre muitas outras telas, máscaras, cerâmicas e esculturas.
Artefatos de diversas culturas nativas também integram o acervo do lugar
A ideia de criar o museu surgiu em 2015, após o falecimento de sua avó,  Raimunda Braz da Silva Campos, figura conhecida na cidade, cuidada da igreja e do cemitério. Jairo adquiriu junto aos familiares a casa em que ela morava, uma casa de 70 anos. Depois bancou sua restauração, preservando as estruturas originais, como a cozinha de forno à lenha.  projeto arquitetônico é de Rafael Brandão, em parceria com a museóloga Carmem Dantas e com curadoria de Paulo Gomes, todos de Alagoas.

“Para muitos da cidade essa é a primeira experiência de ir a um museu”, comenta Jairo. O espaço também dispõe de biblioteca com livros de arte, história, literatura, cultura potiguar e geografia. A iluminação é adequada, há acessibilidade e todas as peças conta com identificação. Segundo Jairo, com exceção das informações em Braille, que estão sendo providenciadas, o museu atende a todas as exigências do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).

Museu vivo
“Agora Francisco Dantas integra a cartografia museológica do Brasil. Apesar de privado, o espaço é da cidade. É de domínio público. Foi pensado para fomentar a cultura do homem simples da região, a partir de saberes e prazeres populares”, afirma o professor. Jairo entende o museu não somente como um reservatório de peças, mas como um espaço dinâmico e humano. Por isso, para além da exposição, ele programa promover oficinas a cada três meses.
Nascido em Francisco Dantas, colecionador de arte e professor universitário Jairo Campos retorna à sua terra Natal para fundar um museu dedicado à cultura popular
A ideia do museu foi tão bem aceita pela comunidade, que moradores mais antigos se preocuparam em doar peças para a coleção. Com esses objetos foi montada uma seção de antiguidades sertanejas. Outras áreas específicas são as de zooarte, arte sacra, memória, além do hall de entrada, com pinturas naifs e esculturas de diversas correntes. “90% das peças são de arte popular e 10% de antiguidades”, diz.

Com 53 anos de emancipação – antes era o povoado de Tesoura, pertencente ao município de Portalegre – Francisco Dantas está localizada há 10 km de Pau-dos-Ferros, numa região serrana. Em seu território se encontra o sítio arqueológico de Serrinha dos Campos, mas a movimentação turística é pouca. Com o museu, Jairo acreditar estar dando uma contribuição para mudar um pouco esse cenário. “Francisco Dantas é uma cidade de trânsito entre Portalegre e Pau-dos-Ferros. O museu fica na via principal, todo mundo que passar por aquela região agora terá uma opção cultural para visitar”, diz.

Para o professor, há uma especulação predatória em cima dos artistas populares. “Acho nocivo os atravessadores que vão atrás dos saberes e valores desses mestres, se colocando como pais dessas pessoas, explorando-os e quebrando a poesia de seus trabalhos”, critica. Grande parte desses mestres populares vivem em zonas rurais e na periferias pelo Brasil. Para Jairo, conhecer esses artistas in loco ainda é a maneira mais rica de contato com a arte popular. “Minha tara é ir no atelier dos artistas. Me esforço sempre para fazer isso. Filmar, fotografar , fazer registros para divulgar e ajudar a valorizar essa arte”.

O montante de obras em exposição em Francisco Dantas é um terço da coleção que Jairo tem guardada em Maceió. Ou seja, o acervo do museu pode ser rotativo e acrescido de novas peças. “Quando terminar meu reitorado, vou me dedicar mais ao museu, escrevendo projetos e captando recursos”, diz.

Serviço
Fundação Cultural Prof. Jairo Campos da Costa. Rua da Matriz, 137, Centro. Francisco Dantas-RN
Aberto todos os dias, de manhã e tarde. Acesso gratuito. Contato: [email protected] ou www.facebook.com/FundacaoJairoCampos

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